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Pressionada, Airbus sai para o contra-ataque e defende jato

Marcelo Ambrosio – Jornal do Brasil

Uma das maiores feiras de aviação comercial no mundo, o Salão Aeronáutico de Le Bourget começa na semana que vem em Paris já com o salgadinho dos coquetéis com um gosto amargo. Será impossível tanto para executivos quanto para visitantes evitar falar do desastre com o A330, dos problemas com os sensores da aeronave, das dúvidas em torno da responsabilidade tanto do fabricante quanto da dona do avião. Para a Airbus, a tragédia não poderia ter ocorrido em hora pior, já que o consórcio europeu trava uma disputa ferrenha com os americanos da Boeing em torno da encomenda de um bom número de aeronaves pela companhia irlandesa de baixo custo (Budget carrier) Ryanair. O anúncio final é esperado para o salão e o noticiário do desastre, com sucessivas revelações que atingem a confiabilidade dos produtos da Airbus, levaram o consórcio a uma reação.

Ontem, Thomas Enders e Fabrice Bérgier, respectivamente presidente e vice da Airbus, quebraram o silêncio mantido desde o dia do desaparecimento do voo em defesa das aeronaves fabricadas pela empresa. Ambos foram diplomáticos ao tratar do caso, preferindo destacar aspectos positivos de segurança do jato, mas um porta-voz afirmou ao site 20minutes que internamente há uma disposição de interpelar na Justiça os jornais que continuarem a defender a paralisação dos voos com os A330 e A340 enquanto não se conhecer as causas do desastre.

– A cada dois segundos um jato da Airbus decola no mundo. E o A330 é um dos melhores equipamentos já construídos – declarou Enders, que é alemão, ao jornal Bild Zeitung.

Confrontado com o fato de que as pressões pelo recall aumentaram depois que os próprios pilotos entraram em cena, o que seria um atestado da desconfiança dos profissionais do setor com a Airbus, Enders preferiu evitar polêmicas.

Reação forte

Mais incisivo foi o vice-presidente Fabrice Bérgiers. Segundo ele, a decisão de companhias como a Swiss, a Brussel Airlines e a US Airways – que anunciaram a troca dos sensores em todos os jatos há poucos dias – seria "um reflexo da pressão dos comandantes e da própria opinião pública". Assim, a suspensão do certificado de vôo para todos os A330, como a própria imprensa francesa chegou a cogitar, seria uma medida "fora de questão até mesmo pelo princípio da precaução".

– Não há porque a Agência Européia de Segurança de Voo (EASA) tomar tal decisão. A esta altura, não há nenhuma ligação entre o acidente e qualquer questão envolvendo a navegabilidade desse avião – declarou Bérgier, que acrescentou. – Fazer com que as pessoas acreditem nesse tipo de coisa é algo simplesmente irresponsável.

Não é o que insistem os técnicos, mas Bergier apenas assume que os "dados incoerentes enviados pelos sensores de velocidade são uma parte dos fatos" e reage com veemência:

– Nossos aviões são seguros! E não somos só nós que afirmamos isso, mas a própria EASA – emenda, relatando em seguida que a "confiança" nos A330 foi renovada em um recente simpósio de aviação em Kuala Lumpur, na Ásia. – Há seiscentos aviões desse modelo voando no mundo inteiro hoje, já são mais de 13 milhões de horas de voo e é a primeira vez que um acidente com o A330 é registrado – emenda.

Enquanto isso, o relógio em Le Bourget vai correndo. Analistas de aviação observaram que o consórcio europeu cancelou eventos de mídia e tem demonstrado preocupação em ser solidário com os parentes dos mortos no acidente com o AF447. Acredita-se que o máximo que fará quando a feira for aberta será divulgar uma declaração a respeito. Quanto mais tempo aparecerem na imprensa revelações sobre as panes nos Tubos de Pitot e a demora na ordem de substituição, relacionados ainda indiretamente à tragédia, mais comprometida estará a festa.

 

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