Pular para o conteúdo principal

Começam a ser pagas as indenizações do voo 447

Segundo o \'Le Monde\', gastos podem tornar o acidente na rota Rio–Paris o mais caro da história

Parentes de vítimas recebem adiantamento de 17 mil euros. Corpos recolhidos são 50

Marcelo Ambrosio – Jornal do Brasil

BRASÍLIA

Constrastes marcaram o 16º dia após o desaparecimento do Airbus A330 da Air France sobre o Atlântico. Ao mesmo tempo em que uma das companhias seguradoras contratadas pela empresa aérea anunciava que parentes de algumas das vítimas receberam cerca de 17,6 mil euros (em torno de R$ 47 mil) como adiantamento - o valor total ainda será calculado - no maior Salão Aeronáutico do mundo, o de Le Bourget, em Paris, a fabricante do A330 comemorava o anúncio do fechamento de negócios bilionários principalmente com companhias da Ásia. A Qatar Airways, por exemplo, assinou uma encomenda de US$ 1.9 bilhões por 24 Airbus A320. A Vietnam Airlines anunciou um pedido de US$1.9 bilhões por outros dois Airbus A350 e 16 A321. Para os executivos do consórcio, dado o efeito do acidente e a polêmica em torno da filosofia dos jatos, o cruzamento das duas contas é essencial para minimizar o prejuízo: calcula-se que os valores totais podem chegar a US$ 330 milhões, ou a um recorde de US$ 750 milhões se as ações chegarem à Justiça. Dessa forma, os prejuízos à imagem seriam contrabalançados em parte.

As primeira indenizações estão sendo pagas pela seguradora francesa AXA, conforme declarou o diretor-geral da empresa Patrick de la Morinerie, à BBC Brasil. Segundo ele, "a coleta de informações para os cálculos está em curso". A companhia é a responsável pela administração dos desembolsos nesse caso dentro do pool de 15 companhias que atende à Air France (AIG, Swiss Re, Allianz, Global Aerospace Underwriting Managers, entre outras). A própria companhia aérea teria também um quinhão a ser reembolsado, de 69 milhões de euros, ou 15% do valor da aeronave.

A AXA não informa quantos são os parentes de vítimas indenizados, e se dentre eles estaria algum brasileiro. Mas o valor do adiantamento é o mínimo permitido pela Convenção de Montreal, de 1999, da qual tanto Brasil quanto França são signatários. O texto é de 2006 e determina regras para que os passageiros serem ressarcidos em caso de morte ou lesões sofridas a bordo de uma aeronave, inclusive nas ações de embarque ou desembarque. O total, entretanto, é determinado por cálculos mais complexos, que levam conta a idade e a vida útil das vítimas em função da sua situação social e profissional. Não há teto para tais valores. O pagamento pelo mínimo é justificado ela AXA por ser "muito cedo para se chegar a cálculos mais realistas".

É justamente essa conta o que pode fazer com que o desastre com o voo AF447 seja o acidente com o maior volume de indenizações pagos na história, seja pela transportadora, seja pela fabricante do jato, ou por ambos (já há uma discussão em torno de porcentagens, que iriam de 25% para a Airbus e o restante para a Air France, ou 50% para cada. A definição depende de o inquérito conseguir estabelecer o grau de responsabilidade de cada uma). A lista dos 288 mortos inclui muitos jovens, crianças, casais novos, executivos no auge da carreira. De uma certa forma a Justiça estabelece o valor dessas vidas para que as famílias tenham um mínimo de compensação pelas perdas. Dois exemplos assim mostram as diferenças. No acidente até então mais caro, ocorrido com um jato de American Airlines em 2001 – um Airbus que caiu sobre o Queens, em Nova York - as seguradoras pagaram cerca de US$ 708 milhões e ainda faltam US$ 5 milhões para completar, de acordo com informações do jornal Le Monde. Já o acidente com o Concorde da Air France, em 1999, custou bem menos em seguros: a quase totalidade dos passageiros naquele voo, fretado por uma companhia de turismo alemã, era de aposentados. Muitos com mais de 90 anos, o que reduziu a expectativa de vida e, consequentemente, o montante devido.

Ainda segundo uma fonte declarou ao jornal francês, "a indenização de um executivo com salário de 10 mil euros mensais e dois filhos pequenos precisa assegurar-lhes a escolaridade. Assim como garantir o sustento de uma família que perdeu a pessoa que a mantinha".

Militares brasileiros recolhem mais um corpo

A Força Aérea Brasileira e a Marinha localizaram e resgataram ontem mais um corpo de uma das vítimas do acidente com o avião da Air France, que caiu no Atlântico no último dia 31. Com isso, chega a 50 o total de corpos resgatados, informaram os militares. O Airbus A330, que fazia o voo 447 do Rio a Paris, transportava 228 pessoas.

Ontem pela manhã, os seis últimos corpos resgatados do Atlântico chegaram a Fernando de Noronha (PE), onde passarão por perícia inicial antes de serem levados para identificação em Recife.

Esses últimos seis foram resgatados pela Marinha francesa e transferidos para uma embarcação da Marinha brasileira no último domingo.

Somente ontem, as equipes de busca e resgate da Aeronáutica percorreram mais de 19 mil quilômetros quadrados. Hoje, um navio da Marinha brasileira irá se posicionar a cerca de 48 quilômetros ao norte de Fortaleza (CE) para receber dois helicópteros – um UH-14 Super Puma e um UH-12 Esquilo – que também atuarão nas buscas. A operação de busca e resgate percorreu um total de 1.000 horas voadas por aeronaves brasileiras e estrangeiras. O número é mais que o dobro realizado nas operações de resgate às vítimas das enchentes em Santa Catarina, em 2008.

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, já garantiu as buscas pelos corpos das vitimas e destroços do voo 447 não têm data definida para terminar. Aeronáutica e Marinha chegaram a estipular 19 de junho como prazo final das operações, mas Jobim afirmou ao seu colega francês, Hervé Morin, que as buscas prosseguirão "até o momento em que tecnicamente se entender que elas são inúteis", segundo afirmou em entrevista na Embaixada do Brasil em Paris.

Por volta do dia 30 de junho, as caixas-pretas do Airbus deverão parar de emitir um sinal sonoro que ajuda na sua localização. Tanto o governo brasileiro quanto o francês, porém, consideram cada vez mais remotas as chances de localizar os destroços e mais corpos. As causas exatas do acidente ainda são desconhecidas.

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Avião da TAM retorna após decolagem

Jornal do Commercio SÃO PAULO – Um avião da TAM, que partiu de Nova Iorque em direção a São Paulo na noite de anteontem, teve que retornar ao aeroporto de origem devido a uma falha. Segundo a TAM, o voo JJ 8081, com 196 passageiros a bordo, teve que voltar para Nova Iorque devido a uma indicação, no painel, de mau funcionamento de um dos flaps (comandos localizados nas asas) da aeronave. De acordo com a TAM, o avião passou por manutenção corretiva e o voo foi retomado à 1h28 de ontem, com pouso normal em Guarulhos (SP) às 10h38 (horário de Brasília). O voo era previsto para chegar às 6h45. A companhia também informou que seu sistema de check-in nos aeroportos ficou fora do ar na manhã de ontem, provocando atrasos em 40% dos voos. O problema foi corrigido.

Empresa dona de helicóptero que transportava Boechat não podia fazer táxi aéreo e já havia sido multada por atividade irregular, diz Anac

Agência diz que aeronave só podia prestar serviços de reportagem aérea e qualquer outra atividade não poderia ser realizada. Multa foi de R$ 8 mil. Anac abriu investigação. Por  G1 SP A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) afirmou que o helicóptero que caiu na Rodovia Anhanguera no início da tarde desta segunda-feira (11), em que o jornalista Ricardo Boechat e o piloto Ronaldo Quattrucci morreram, não podia fazer táxi aéreo, mas sim prestar serviços de reportagem aérea. Ainda segundo a Anac, a empresa foi multada, em 2011, por atividade irregular. Helicóptero prefixo PT-HPG que se acidentou na Anhanguera — Foto: Matheus Herrera/Arquivo pessoal "A empresa RQ Serviços Aéreos Ltda foi autuada, em 2011, por veicular propaganda oferecendo o serviço de voos panorâmicos em aeronave e por meio de empresa não certificada para a atividade. Essa atividade só pode ser executada por empresas e aeronaves certificadas na modalidade táxi aéreo. A autuação foi definida em R$ 8 mil

A saga das mulheres para comandar um avião comercial

Licenças concedidas a mulheres teêm crescido nos últimos anos, mas ainda a passos lentos. Dificuldades para ingressar neste mercado vão do alto custo da formação ao machismo estrutural Beatriz Jucá | El País Quando Jaqueline Ortolan Arraval, 50 anos, fez a primeira aula experimental de voo, foi mais por curiosidade do que por qualquer pretensão de virar piloto de avião. Era início dos anos 1990 e pouco se via mulheres comandando grandes aeronaves comerciais no Brasil. "Eu achava que não era uma profissão pra mim", conta. Ela trabalhava no setor processual em terra de uma grande companhia aérea, e o contato constante com colegas que estudavam aviação lhe provocaram certo fascínio. Perguntava tanto sobre a experiência de voo que um dia um amigo lhe convidou para acompanhá-lo em uma das aulas. A curiosidade do início se tornou um sonho profissional, e Jaqueline passou a frequentar aeroclubes e trabalhar incessantemente para conseguir pagar as caras aulas de aviação e acumul