Fernando Duarte* Correspondente – O Globo
LONDRES. Às voltas com o maior prejuízo desde sua privatização, em 1987 (US$ 655 milhões em 2008), e com uma queda no volume de passageiros mais endinheirados, a British Airways decidiu apelar para o amor à camisa de seus funcionários como parte de uma estratégia emergencial de cortes de custos: por meio de um artigo publicado em sua newsletter de circulação interna por email, a companhia pediu voluntários para um esquema de trabalho gratuito ou de férias coletivas nãoremuneradas.
Segundo cálculos da British, seriam necessárias pelo menos 40 mil adesões.
Numa tentativa de atrair interessados, o diretor-executivo da empresa, Willie Walsh, puxou a fila de voluntários, oferecendo-se para trabalhar de graça em julho e abrindo mão do salário mensal de US$ 99 mil — não de forma definitiva, diga-se de passagem, pois a empresa pagará a mão de obra emprestada em até seis meses. Segundo a mídia britânica, porém, apenas mil teriam aderido — representantes do pessoal de bordo e de carregadores de bagagem teriam protestado veementemente.
A British alega que a solução não só é fundamental para a saúde financeira da companhia e que premiaria os voluntários com imunidade no momento de cortar gastos de forma mais drástica — a companhia, por exemplo, calcula que precisa cortar quatro mil vagas entre as 14 mil atuais em postos de bordo.
O Unite, um dos principais sindicatos do setor aeroviário, não viu tanta graça e acusou a British de estar ignorando uma causa muito maior para o rombo em suas finanças: os pacotes salariais de executivos.
— Se Willie Walsh pode se dar ao luxo de trabalhar um mês de graça, nossos membros não têm condições de ficar sem pagamento. É preciso que ele e outros executivos aceitem cortes salariais permanentes se realmente quiserem ajudar a British Airways a sobreviver — disse um porta-voz do sindicato.
O prazo para os voluntários é até a quartafeira da semana que vem. A empresa não informou que passos pretende tomar, dizendo que prefere esperar pela resposta dos funcionários. Mas não estão descartados pacotes de redução salarial e de demissão voluntária.
Já a companhia irlandesa Ryanair, que adotou uma série de medidas impopulares, como cobrar pelo despacho de bagagens, além de internamente impor cortes de custos, fechou 2008 no azul. Se a estratégia de negócios é um desastre em termos de relações públicas, ela não impediu um aumento no volume de passageiros transportados no ano passado: 15%, transformando a empresa na maior da Europa no quesito, com 58,5 milhões de passageiros.
No Brasil, o tráfego aéreo de passageiros caiu 5,47% em maio contra o mesmo mês do ano passado, informou ontem a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Os dados da agência mostram que as pequenas empresas roubaram espaço de TAM, que caiu 49,28% para 44,9% na mesma comparação, e Gol, que recuou de 45,24% para 42,02%. A Azul ficou com 4,16%, a Webjet, 3,99% e a OceanAir, 2,88%.
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