Sindicato dos pilotos da Air France pede que ninguém decole antes da toca do equipamento que pode
ter causado acidente com o Airbus
Jornal do Brasil
Os aviões A330 e A340 da Air France não devem mais decolar enquanto a companhia Aérea francesa não trocar os sensores de velocidade (pitots) de seus Airbus. Ao menos foi essa a recomendação do sindicato de pilotos da própria Air France feita ontem a seus associados. A intenção é não levantar vôo caso o avião não tenha ao menos dois dos três sensores já modificados. Uma falha dos pitots do avião que partiu do Rio em direção a Paris (voo 447) é uma das possíveis causas do acidente ocorrido sobre as águas do Atlântico no dia 1º de junho. O líder sindical francês Christiphe Presentier classificou a recomendação como uma "medida de segurança", enquanto não se chega a uma conclusão a respeito do que realmente causou a queda.
– A companhia disse que trocará os sensores nas próximas semanas. Queremos proteger nossos tripulantes e passageiros e não podemos aguardar por esse prazo – disse Presentier a agências internacionais.
Além de citar o fato de que o Escritório de Investigação e Análises (BEA, na sigla em francês) considera os sensores como uma das possíveis causas do acidente, Presentier lembrou que em 2008 foram registrados outros problemas – não só na Air France como também em outras companhias – relacionados com os sensores de velocidade. Segundo o BEA, estes equipamentos enviaram informações contraditórias sobre a velocidade do voo 447, e a incoerência dos dados pode ter causado pane em alguns sistemas eletrônicos do avião, como o piloto automático.
A Air France afirma que acelerou o programa de troca dos sensores, iniciado em 27 de abril após defeitos terem sido registrados em vários de seus aviões. A companhia já trocou os pitots em sua frota de aviões A320 – a primeira a registrar anomalias – e não iniciou a substituição nos A330 e A340 até que a Airbus informasse o modelo compatível.
Dois incidentes
Pelo menos dois incidentes com os sensores foram relatados por tripulações da Air France em Air Safety Reports (ASR), o documento que registra o relatório de eventos anormais em voos comerciais. O próprio diretor do BEA, Paul-Louis Arslanian, responsável pela investigação a respeito do voo 447, confirma as ocorrências. A primeira diz respeito a um Airbus A340 posto em serviço em 1998, que fazia a rota Tóquio–Paris. De acordo com o ASR, o avião sofreu perda de indicações anemométricas (que medem a intensidade e a velocidade dos ventos), causando queda brusca de altitude. No painel do piloto, um alarme com as inscrições "NAV ISA Discrepancy" foi acionado, indicando a divergência entre os sensores de velocidade. A falha causou a desconexão do piloto automático e panes no sistema Fly by Wire e Air Data Inertial Reference Unit (Adiru) – assim como aconteceu com o voo AF447. Para contornar a falha, a tripulação ativou o sistema de descongelamento dos pitots. Com a medida, os indicadores de velocidade voltaram progressivamente a funcionar e o voo prosseguiu sem maiores problemas.
O segundo incidente ocorreu com outro A340, que ia de Paris a Nova York. Após turbulências, a aeronave também exibiu a mensagem "NAV ISA Discrepancy", teve o piloto automático desligado e apresentou panes eletrônicas por dois minutos, antes que as condições ideais de navegação fossem restabelecidas.
A eventual falha dos tubos de pitot do voo 447 é uma das pistas mais claras seguidas pelo BEA.
Segundo os peritos, as 24 mensagens automáticas enviadas pela aeronave entre 23h10 e 23h14 do domingo indicaram "incoerência da velocidade aferida".
Apesar da decisão do sindicato dos pilotos da Air France, o diretor operacional da companhia, John Leahy, disse ontem que o A330 é um avião "muito confiável" e que é "cedo demais" para tirar conclusões sobre as causas do acidente no oceano.
Leahy classificou o A330, em operação há 15 anos, como um "burro de carga do setor mundial de transporte":
– Temos hoje 600 aviões (A330) voando e 400 encomendados. Vamos deixar que os investigadores continuem as investigações – afirmou.
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