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Cenipa: falha humana causou acidente da TAM

Relatório afirma que piloto, preocupado com pista molhada de Congonhas, errou a posição de manete; 199 morreram

Tahiane Stochero - Do Diário de S.Paulo

SÃO PAULO. Uma falha do piloto provocada pela pressão de ter que pousar em uma pista em condições inadequadas é uma das principais causas apontadas pelo relatório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) para explicar o acidente com o Airbus da TAM no Aeroporto de Congonhas, em 17 de julho de 2007. Na ocasião, morreram 199 pessoas, entre passageiros do voo e pessoas que estavam em um prédio atingido pelo avião.

O relatório, que o “Diário de S.Paulo” publica hoje, aponta ao menos oito fatores que contribuíram para que o piloto cometesse o erro de manter uma das manetes (alavanca que controla a potência do motor) na posição de “climb” (aceleração) durante o pouso. A transcrição das caixas-pretas comprova que só a manete esquerda foi colocada na posição certa, de “reverse” (freio).

A investigação entende que a pista de Congonhas, que estava sem grooving (ranhuras) e “molhada e escorregadia” na hora do pouso, preocuparam o piloto.

Nas conversas na cabine, o comandante Kleyber Lima relembra três vezes nos cinco minutos que antecedem o acidente que o reverso (freio aerodinâmico) direito estava inoperante.

A pressão para parar o jato em circunstâncias adversas, agravadas por problemas psicológicos, fisiológicos e falhas na preparação, induziram o piloto ao erro, concluiu o Cenipa.

O objetivo do piloto era frear usando o manete do reverso ativado.

Depois, levaria para a posição de ponto morto a manete do reverso inoperante. Com a manobra, o avião pararia 55 metros antes do previsto. Mas a manete direita ficou em aceleração, e este motor se preparou para decolar. Já a outra turbina fazia força para o avião parar.

A investigação apontou falhas em um alerta do avião, que avisa sobre a assimetria das manetes, e no sistema de controle, que não entendeu a intenção do piloto de parar. Além disso, havia dois comandantes no voo, nenhum deles preparado para atuar como co-piloto.

Dados da caixa-preta do Airbus da TAM apontam que o acidente seria evitado em 14 segundos caso o piloto puxasse a manete para o ponto morto.

Foi o tempo entre o aviso do piloto de que estava a 20 pés (seis metros) da pista, às 18:48:21, até 18:48:35, quando o co-piloto alerta que os spoilers (freio das asas) não abriram.

Sem caráter punitivo, por entender que acidentes resultam de uma sequência de eventos, a investigação da Aeronáutica emitiu 61 recomendações para prevenir tragédias. O laudo do Cenipa conclui como “indeterminada” a origem do desastre, apesar de a caixa-preta confirmar a posição errada de uma das manetes. Há 0,000000001% de chance de que a alavanca direita tenha sido colocada em reverso e o computador não tenha recebido a informação. A investigação não descartou a hipótese.

O que sobrou das engrenagens passou por exames, mas não houve confirmação física da posição das manetes. A TAM informou não irá se manifestar até o término das investigações.

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