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Raízes da crise

Tereza Cruvinel Com as primeiras informações que estariam vindo da caixa-preta do Airbus da TAM, ressurge um dos aspectos mais lamentáveis da tragédia: a existência de uma torcida para que toda a culpa seja da pista de Congonhas (logo, da Infraero, e logo, do governo), contra uma outra que tenta reduzir essa contribuição, nesta altura inegável, valorizando os problemas da aeronave ou uma fracassada arremetida do piloto. Essa busca do ganho político desserve à busca da verdade, que pode punir, prevenir e contribuir para a superação da crise aérea. Assim como para outros acidentes do gênero, para esse também podem ser apontadas causas múltiplas, e todas elas, inclusive o desmando das empresas, têm relação com a crise do setor. Um pouco de história faz bem à compreensão dessa crise, que não começou no atual governo, mas foi nele que chegou a seu ponto extremo. Nele, a Anac abdicou inteiramente da obrigação que agora ensaia cumprir: fiscalizar as empresas, enquadrá-las, puni-las

Multinacional desaconselha Congonhas

Patrícia Duarte – O Globo BRASÍLIA. Grandes corporações, que têm muitos funcionários e colaboradores viajando pelo Brasil, já evitam o Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. A Wal-Mart, maior rede varejista do mundo, enviou e-mail na semana passada a seus funcionários sugerindo que evitem Congonhas e que dêem preferência a Guarulhos até que as condições de uso do primeiro sejam consideradas normais. A assessoria de imprensa da empresa no Brasil confirmou a informação. Hoje, a Wal-Mart tem cerca de 55 mil funcionários no país. Diversos de seus executivos viajam freqüentemente para Porto Alegre, onde a empresa americana tem filiais, e para outras cidades do país. Alguns funcionários tinham passagem marcada para o vôo seguinte ao da tragédia, que saiu às 17h da terça-feira da semana passada rumo a São Paulo. Helen de Cássia Zerillo, de 32 anos, gerente de administração da Hipercard, que tem parceria com a empresa, estava no vôo JJ 3054. Ela foi à capital gaúcha

TAM e Gol: lucratividade das maiores do mundo

Margens de ganho das empresas estão entre as mais expressivas do mundo. Mas resultados caíram com a crise Felipe Frisch – O Globo As margens de lucro das principais empresas de aviação brasileiras estão hoje entre as maiores do setor, na comparação com empresas estrangeiras. Segundo dados dos balanços mais recentes – do primeiro trimestre deste ano -, no padrão contábil usado nos EUA, a Gol ocupa a terceira colocação entre as margens líquidas de companhias que operam no conceito "baixo custo, baixa tarifa", com 12,7%. A margem líquida da TAM é de 7,5%, pelo mesmo padrão americano. A irrupção da crise aérea, em 2006, e a tentativa da Varig de recuperar mercado ano passado, após sua quebra, fizeram as empresas entrarem numa guerra de tarifas para conquistar mercado, avalia o analista de aviação da corretora Fator, Eduardo Puzziello. Apesar da boa colocação no ranking estrangeiro, o resultado foi uma substancial queda nas margens líquidas pelo padrão contábil br

Rio reduz imposto de peças para manutenção e aviões

Medida visa a incrementar movimento no Tom Jobim Dimmi Amora – O Globo O ICMS para a aquisição de novas aeronaves e peças de reposição de aviões importadas foi reduzido ontem, pelo governo do estado, de 19% para 1%. A medida, segundo fontes ligadas ao governo, tenta trazer mais vôos para o Aeroporto Internacional do Galeão Tom Jobim. Mas só vai valer para as empresas que façam a retirada dos produtos no estado até 31 de agosto. Governo diz que medidas trarão mais empregos O decreto regulamentado a medida foi publicado ontem no Diário Oficial. Na justificativa, o governo informa que a medida tem o objetivo de criar novos postos de trabalho no estado. Com a redução do imposto, o governo acredita que incentivará empresas aéreas a trazerem para o Galeão mais serviços, melhorando a capacidade do aeroporto de ser um centro de distribuição de vôos para o restante do país. Ninguém na Secretaria de Fazenda nem no governo estadual quis comentar a medida. Um integ

'Viajar para o Brasil já se tornou preocupação'

American Airlines recomenda que pilotos voltem ao ponto de partida nos EUA ao menor sinal de perigo no espaço brasileiro Marília Martins – O Globo NOVA YORK. Desde que um vôo da American Airlines, com destino a São Paulo, retornou a Nova York devido a problemas com o Cindacta-4, de Manaus, na noite de sexta-feira passada, a orientação dada aos pilotos pela companhia aérea americana é retornar ao ponto de partida diante de qualquer sinal de problema. O vôo diário AA-951, de Nova York para São Paulo e depois ao Rio, é uma das maiores preocupações da supervisora de vôos internacionais da empresa no aeroporto JFK, Nancy Parisi. Ela recebe diariamente dezenas de telefonemas de passageiros aflitos com as condições de segurança dos vôos para o Brasil e atende com paciência a todos os que procuram informações no balcão da empresa. - Muita gente procurou o balcão da companhia em busca de informações na manhã de sábado passado, depois que o vôo AA-951 retornou a Nova York. E a

Passageiros rebelados invadem avião

Isabela Martin – O Globo FORTALEZA. Indignado com o cancelamento do vôo 1863 da Gol, que deveria ter decolado de Fortaleza às 5h20m de segunda-feira, um grupo de passageiros invadiu ontem um Boeing da companhia, com o mesmo número de vôo e que partiria do Aeroporto Internacional Pinto Martins para Teresina e Brasília. Houve bate-boca entre os passageiros que estavam com o bilhete para o dia e 15 rebelados que deveriam ter embarcado no mesmo vôo 24 horas antes. A Infraero pediu ajuda da Polícia Federal. Ninguém foi preso. O overbooking inesperado gerou bate-boca entre os passageiros. Às 5h10m, a Infraero, a pedido da Gol, chamou a PF. O trabalho deles foi o de convencer o grupo a descer e aguardar o vôo que havia sido fretado. Alguns não cederam. Houve passageiro que, para evitar mais confusão, abriu mão do lugar e embarcou no vôo fretado.

Agora, Cumbica já começa a dar sinais de desgaste

Atrasos, tumulto, falta de informações e até de escadas para o desembarque irritam passageiros no aeroporto Fabiana Parajara* SÃO PAULO. O Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, começa a dar sinais de que não tem capacidade para absorver de imediato os vôos e os passageiros transferidos de Congonhas. Usuários que desembarcaram ontem de um vôo da Gol, saído de Navegantes, em Santa Catarina , tiveram de esperar na aeronave porque não havia escadas para desembarque. A Polícia Federal teve de ser chamada para ajudar. As malas demoraram a aparecer na esteira e houve tumulto entre passageiros e funcionários. Até as 18h, Cumbica recebeu 71 vôos transferidos de Congonhas. - A PF teve de ser chamada para intervir no desembarque porque havia muita gente exaltada com o atraso das malas. Ainda no avião, houve confusão com os passageiros que gritavam por causa da falta de escada para descer - contou o jornalista João Faria, que estava no vôo de Navegantes, onde passou férias com a f

A crise dissolveu o governo

Villas-Bôas Corrêa, repórter político do JB Desde a vaia, em quatro tempos, na inauguração do Pan com o Maracanã lotado, o presidente Lula não conseguiu se recuperar do susto, que o pegou distraído como quem escorrega na calçada e passa para o país a preocupante impressão de que está perdido. Ou, para ser mais exato, de quem perdeu o governo e não consegue encontrá-lo por mais que procure pelos cantos e gabinetes do Palácio do Planalto e nos esconsos do Ministério da Defesa, tão extraviado como o patético ministro Waldir Pires. Ora, cair em si é trambolhão mais perigoso do que despencar do alto da mangueira ao espichar a mão para colher o fruto maduro. Lula claramente não estava preparado para enfrentar a vaia que derrubou, em minutos de assobio, a montagem da falácia gabola do maior presidente de todos os tempos. Reagiu mal na hora, parecendo sedado para cirurgia de emergência. Nem enfrentou a assuada com serenidade, como risco sempre previsível nos encontros com a

Maravilhas da fauna federal

Augusto Nunes – Jornal do Brasil "Ninguém bateu no ar, tá?", zangou-se Denise Abreu, diretora da Agência Nacional da Aviação Civil, no meio da entrevista concedida à jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo. "Então, o acidente não tem nada a ver com o número de vôos em Congonhas. Vocês estão confundindo. O acidente é o acidente. O sistema aéreo é o sistema aéreo". Denise sempre se zanga quando confrontada com questões incômodas. Em outubro passado, dias depois da queda do Boeing da Gol na selva de Mato Grosso, perdeu a paciência com as perguntas de parentes que teimavam em enterrar seus mortos. "O avião caiu de 11 mil metros de altura", esbravejou. "Vocês são inteligentes. O que esperavam? Corpos?". Em março, a advogada favorecida pelo amigo José Dirceu com o empregão na Anac mostrou que, por trás da irritadiça vocacional, há uma festeira das boas. Em todos os aeroportos, multidões amargavam a escala na estação do calv

Na Indonésia e na Polônia, semelhança

Marcelo Ambrosio – Jornal do Brasil O desastre com o A320 em Congonhas não foi o primeiro com essas condições. Outros dois incidentes foram com a Lufthansa, em Varsóvia (com prefixo D-AIPN), e a Philippine Airlines, em Bacolod (prefixo RP-C3222). Este último é realmente muito parecido. A descrição é da própria investigação. O incidente em Bacolod ocorreu em março de 1998. O Airbus também estava sem o reverso da turbina 1 e chegou para o pouso com o automático (autothrust) na posição Speed e a manete (acelerador) do motor 1 em Climb Power. O jato tocou o solo e o co-piloto avisou: "Sem spoilers, sem reversão, sem desaceleração". O reverso da turbina 2 entrou em ação - como no jato da TAM. Com uma turbina em reversão e a outra com o acelerador em em potência de subida, o autothrust se desativou. Ainda de acordo com a investigação, os spoilers (freios aerodinâmicos sobre as asas) do A320 da Philippine não se abriram e a aeronave não desacelerou. Com a man

Pista "ensaboada" influiu em acidente, diz investigação

Vasconcelo Quadros Brasil Digital Peritos da Polícia Federal concluíram ontem o levantamento de dados sobre as condições da pista principal do Aeroporto de Congonhas, mas aguardam a transcrição das informações técnicas da caixa preta do Airbus A320 para definir as causas do maior acidente aéreo brasileiro. Embora seja cedo para qualquer interpretação consistente, os rumos das três investigações em curso - Polícia Civil, Federal e Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) - apontam para a possibilidade de uma sucessão de erros, que começou com as péssimas condições de pouso na pista principal em dias de chuvas. Dois pilotos ouvidos ontem na Polícia Civil de São Paulo confirmaram que, sem as ranhuras, que faziam parte do projeto das obras e começam a ser construídas hoje, a pista ficava bem mais ensaboada e isso dificultava a frenagem das aeronaves, especialmente as de grande porte como o Airbus A-320. O principal sintoma de que o Cenipa também t

Obscenos, insensíveis, incompetentes...

José Nêumanne Foram execráveis, mas jamais surpreendentes, os gestos com que o professor Marco Aurélio Garcia e o jornalista Bruno Gaspar, assessores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, comemoraram no Palácio do Planalto a hipótese de a queda do Airbus da TAM em Congonhas ter sido causada por falha mecânica. A comemoração chula seria estúpida em qualquer ocasião. Mas foi ainda mais grave por ter ocorrido depois da morte de 200 pessoas num desastre. E porque culminou a insensatez galhofeira com que o primeiro escalão federal tratava antes o caos aéreo nacional e o descaso com que o chefe do governo lidava com o problema. A ministra do Turismo, Marta Suplicy, já se aproximara da obscenidade ao receitar o “relaxa e goza” aos passageiros angustiados com adiamentos e cancelamentos de vôos. Seu colega da Fazenda, Guido Mantega, deixara clara a falta de seriedade da administração federal quando atribuiu a crise nos aeroportos a um aumento de demanda provocado pela prosperid

Imóveis no entorno de Cumbica impedem construção de 3ª pista

Infraero e prefeitura de Guarulhos trocam acusações sobre a culpa pela ocupação da área onde seria feita a ampliação; novo terminal quase dobraria capacidade do aeroporto Naiana Oscar - O Estado de São Paulo A falta de fiscalização e o jogo de empurra-empurra entre Infraero e governo municipal colocaram uma grande pedra no meio do caminho do Aeroporto de Guarulhos. As construções que se instalaram no entorno de Cumbica, e poderiam ter sido evitadas desde a década de 80, emperram as obras de ampliação do aeroporto. A situação chegou a um ponto tão grave que, para a Infraero, é mais barato construir um novo aeroporto em São Paulo do que desapropriar as 20 mil pessoas que vivem na região para construir uma terceira pista. Sem a obra, os especialistas temem que daqui a uma década o País tenha de conviver com “um novo Congonhas”, saturado e sem alternativas. “A desapropriação desses imóveis e o início da terceira pista são as medidas mais importantes a serem tomadas n

Grooving começa a ser feito na pista principal

Guarulhos, Curitiba, Rio e Porto Alegre serão equipados com ILS3, para pousos mais seguros Tânia Monteiro – O Estado de São Paulo BRASÍLIA: A Infraero informou ontem que as obras de grooving (as ranhuras feitas no asfalto para escoamento de água) na pista principal do Aeroporto de Congonhas devem demorar cerca de 20 dias, porque uma força-tarefa vai ser empregada para executar o serviço. Normalmente, segundo a Infraero, seria necessário o dobro do tempo. O trabalho, que começou ontem, será executado de noite, para não atrapalhar as operações na pista auxiliar. A Infraero informa que a chuva que continua caindo em São Paulo não impedirá a execução do serviço. As obras serão feitas, primeiramente, na cabeceira das pistas. Ontem, como o aeroporto ficou fechado, ranhuras foram incrustadas no meio da pista. Ainda se investiga a hipótese de a ausência de grooving em Congonhas ter contribuído para o acidente com o avião da TAM. Paralelamente, a estatal executa reparo

O segundo suicídio de Santos Dumont

Ruy Fabiano Jornalista Diz a história que Santos Dumont, pai da aviação, suicidou-se em face do desgosto de ver seu invento transformado em arma de guerra. Se vivo fosse, teria motivo para outra decepção suicida: a de ver que, em sua terra natal, seu invento continua tendo uso mortal. Tornou-se fator de transtorno, insegurança, tragédia e vexame. Sábado passado, com os escombros de Congonhas ainda fumegando, aviões comerciais norte-americanos que chegavam a Manaus tiveram que retornar à sua base de origem, por falha no sistema elétrico daquele aeroporto. Vexame nacional, que fez com que o caos aéreo chegasse a níveis inimagináveis nos demais aeroportos do país e estendesse suas metástases para além das fronteiras. Qual a repercussão de uma mancada dessas para a indústria do turismo e para a economia nacional? O fato de uma crise de tais proporções durar 10 meses, gerar os dois maiores desastres da história da aviação nacional, e não produzir uma única puniçã