Vasconcelo Quadros
Brasil Digital
Peritos da Polícia Federal concluíram ontem o levantamento de dados sobre as condições da pista principal do Aeroporto de Congonhas, mas aguardam a transcrição das informações técnicas da caixa preta do Airbus A320 para definir as causas do maior acidente aéreo brasileiro. Embora seja cedo para qualquer interpretação consistente, os rumos das três investigações em curso - Polícia Civil, Federal e Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) - apontam para a possibilidade de uma sucessão de erros, que começou com as péssimas condições de pouso na pista principal em dias de chuvas. Dois pilotos ouvidos ontem na Polícia Civil de São Paulo confirmaram que, sem as ranhuras, que faziam parte do projeto das obras e começam a ser construídas hoje, a pista ficava bem mais ensaboada e isso dificultava a frenagem das aeronaves, especialmente as de grande porte como o Airbus A-320.
O principal sintoma de que o Cenipa também trabalha com essa suspeita acabou surgindo ontem pelo brigadeiro Jorge Kersul Filho, durante entrevista em Brasília, ao explicar que o órgão dirigido por ele , recomendou, após o acidente, que os pilotos evitassem descer em Congonhas pela pista principal em dias de chuva.
- Ainda estamos fazendo medições sobre as condições da pista. Pode ter sido isso (...), mas nunca há um único fator - disse Kersul.
Em vez de falar em causas, Kersul prefere usar "fatores que contribuíram", mas frisa que só a transcrição dos áudios e dos dados técnicos sobre a aeronave - que estão na caixa preta em análise nos Estados Unidos - vão dizer ao certo o que levou o Airbus A320 a se espatifar contra o prédio da TAM
Segundo Kersul, o avião manteve a mesma velocidade ao chocar-se, de lado, contra o prédio, mas antes bateu o trem de pouso contra uma caixa de concreto que separa a cabeceira da pista da Avenida Washington Luís.
O delegado Antônio Carlos Menezes Barbosa, da polícia paulista, ouviu ontem os depoimentos de dois funcionários da Infraero e de dois pilotos da TAM. Os pilotos confirmaram as péssimas condições da pista principal em dias de chuva. A dúvida da polícia, levantada ontem a partir do depoimento dos funcionários da Infraero, é se o comandante do vôo 3054, Henrique Stephanini Di Sacco, recebeu as informações corretas sobre as condições da pista. Os dois funcionários disseram que fizeram a verificação por volta das 17h e informaram à torre que, embora caísse uma chuva leve e contínua, não havia poças na pista, o que daria condições de pouso. O avião tentou aterrissar, no entanto, às 18h45, portanto cerca de uma hora e meia depois. A suspeita é de que essa informação pudesse estar defasada.
- O piloto que pousou um dia antes com o mesmo avião disse houve derrapagem e que teve de usar muita força para fazer funcionar também o freio manual. Ele contou que ficou tenso e assustado.
Mas também não consegue entender como seu colega não conseguiu segurar o avião - disse o promotor Mário Luiz Sarrubo, que acompanha as investigações da Polícia Civil.