Embraer tropicaliza sistema de soldagem de metais por fricção para aposentar símbolo pesado da indústria aeronáutica e acelerar a produção de novos jatos executivos
A tecnologia, nascida da batuta inventiva de engenheiros ingleses do The Welding Institute, em 1991, existia até então no Brasil somente em livros técnicos — dado ao conservadorismo e ao rigor em segurança da indústria, embora tenha aplicação em escala nos segmentos naval e ferroviário.
Agora, a Embraer tomou a decisão de embarcar a FSWem partes dos jatos Legacy450 e 500,que começará a entregar ao mercado em meados de 2011. "Estamos investindo nesse projeto desde 1993. Foi um desafio em termos globais, porque essa tecnologia só existia na literatura especializada", diz o engenheiro de processos e produção Márcio Cruz.
O processo consiste na pré-fusão de chapas metálicas por meio de uma solução caseira: a adaptação de duas máquinas de usinagem (fresadoras), que aquecem as placas de alumínio em até 400ºC. Temperatura cuidadosamente calculada para fazer a plastificação natural do metal sem derretêlo.
O resultado é um tipo de solda que não trinca, testada em ciclos de pressurização equivalentes a cinco vidas operacionais da fuselagem do jato ERJ45.
O adicional de duas vidas úteis dá à FSW o poder de aposentar um dos símbolos da indústria aeronáutica: o rebite. Sem ele, os jatos devem ficar mais leves, melhorando a relação entre economia de combustível e capacidade de carga. O maior ganho, contudo, é aceleração do processo de produção de aviões — um dos gargalos das empresas. Isto porque com rebites são feitas aplicações em quatro linhas paralelas, sendo que a fresadora corre a 400 milímetros por minuto para concluir cada linha. A FSW é produzida em apenas uma linha, a de junção das chapas, em velocidade de 700 milímetros por minuto.
Mas a Embraer ainda tem mais um desafio para decolar a soldagem por fricção em escala industrial: convencer os passageiros quanto à segurança de voar em aeronaves sem nó de costura — aquela fileira de pontos arredondados com a qual os rebites passam o conforto de que está tudo bem amarrado nas asas. "Se o automóvel tiver algum problema, ele pode parar no acostamento. Em aeronáutica, para uma nova tecnologia ser incorporada são necessários muitos ensaios para certificar a segurança. O avião não pode falhar", pontua o supervisor de projetos metálicos Venâncio Pereira Neto.
A percepção está na base da estratégia comercial da Embraer para a FSW, que será introduzida, inicialmente, em dose controlada. Apenas alguns dos paineis da parte cilíndrica que compõem o corpo do Legacy terão chapas soldadas por fricção. "Nossa estratégia é viabilizar a aplicação em pequena escala, com paineis reforçados com perfis extrudados (barras de aço). Os jatos vão operar e o resultado dará maturidade para usá-lo de forma mais ampla", adianta Neto.
"Estamos investindo no projeto de solda por fricção (FSW) desde 1993. Desafio em termos globais, porque a tecnologia só existia na literatura"
Márcio Cruz, engenheiro de processos e produção da Embraer
"Nossa estratégia é viabilizar a aplicação da tecnologia em pequena escala. O resultado dará maturidade para usá-la de forma mais ampla"
Venâncio Pereira Neto, supervisor de desenvolvimento de estrutura metálica da Embraer
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