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Setor aéreo discute aplicar em pilotos teste antidoping

Exames, comuns nos Estados Unidos, são vistos como fundamentais para melhorar a segurança dos voos

No Brasil, Azul passa a adotar medida em funcionários; Anac estuda criar uma regulamentação

EDUARDO GERAQUE - Folha de SP
DE SÃO PAULO

O setor aéreo brasileiro começa a discutir um controle mais rigoroso sobre o consumo de drogas e álcool de suas tripulações. Os exames antidoping já são comuns em países como os EUA.

A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) afirma que está estudando a possibilidade de regulamentar testes para o setor, mas ainda não há prazo de implantação.

Enquanto isso, a Azul será a primeira empresa brasileira a realizar análises químicas esporádicas entre todos os seus funcionários.

A TAM ainda não decidiu se exigirá os exames. A empresa, por meio de sua assessoria de imprensa, disse apenas que "está estudando" o assunto. Varig e Gol, do mesmo grupo, não dizem se pretendem adotar o teste.

SEGURANÇA

A medida, no exterior, é vista como fundamental para melhorar a segurança de voo. A discussão sobre os testes antidoping para pilotos e comissários, segundo especialistas ouvidos pela Folha, realmente está atrasada.

Os exames toxicológicos são feitos a partir de fios de cabelo. As análises flagram um grupo grande de substâncias psicoativas, como maconha, cocaína, crack e LSD.

A grande vantagem do teste com fio de cabelo é que ele tem uma "janela larga" -detecta o consumo de drogas dos últimos 90 dias.

No caso da Azul, os testes começaram em 2008 apenas nos exames admissionais.

Segundo a médica Vânia Melhado, que presta serviços para a empresa e preside a Sociedade Brasileira de Medicina Aeroespacial, agora será iniciado o teste aleatório para todos os funcionários. "Em dois anos, todo o grupo de pilotos será avaliado."

São feitos uma média de cem testes por mês na companhia. Dos 1.900 já feitos, só quatro foram positivos.

"A pessoa sabe que fará o exame. Isso funciona como um filtro", diz Johannes Castellano, diretor da Azul.

TRANSPARÊNCIA

Os testes antidopings no setor aéreo são bem-vindos, diz o psicólogo Paulo Mittelman, especialista em estratégias de prevenção antidroga.

Para ele, os exames não podem ser feitos a revelia de ninguém. "Tem que existir uma política clara, transparente. O sigilo também é fundamental no processo."

O psicólogo diz acreditar que o funcionário que tem um resultado positivo nos testes retorna após tratamento como um excelente profissional. "Ele sempre fará questão de mostrar que resolveu o problema."

Testes não podem virar caça às bruxas, afirma especialista

Os testes antidoping que chegam ao setor aéreo são bem-vindos na avaliação do psicólogo Paulo Mittelman, especialista em estratégias de prevenção antidroga. Isso não significa que eles possam ser aplicados de forma isolada, fora de um contexto mais amplo, diz. Para ele, que também é consultor de empresas, os testes devem também ser voltados para os profissionais que abusam do álcool e da droga de vez em quando. "Esses testes não podem virar uma caça às bruxas." Leia a seguir trechos da entrevista com o especialista.

Folha - No setor aéreo, ainda não é comum a realização dos testes antidoping. Mas como isso é feito em outras áreas?

Paulo Mittelman- O setor siderúrgico, as empresas de petróleo [por causa de suas operações em alto-mar principalmente] fazem isso com frequência. Realmente, no setor aéreo, essa ainda não é uma prática muito comum. É algo que deve mudar bastante no futuro.

Essa é uma política que vale a pena, tanto para a empresa quanto para a sociedade?

As testagens são importantes, desde que elas não tenham uma conotação discriminatória. Dentro de um contexto maior, ela é bastante positiva. Veja o caso do bafômetro na questão do trânsito. Ele realmente ajudou na diminuição dos acidentes. Essas testagens no setor empresarial também têm um fator de inibição importante.

Pela legislação brasileira, esses testes são legais? Ou existe algum ponto que ainda seja polêmico?

Esses testes não podem ser feitos a revelia de ninguém. Tem que existir uma política clara, transparente. O sigilo também é algo fundamental. Ele precisa existir durante todo o processo. O funcionário que acaba tendo um resultado positivo retorna depois do tratamento como um excelente profissional. Ele sempre fará questão de mostrar que resolveu o problema. E que está limpo.

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