Apesar da queda no preço das passagens, oferta das companhias aéreas continua maior que a procura
Paola de Moura, do Rio - Valor
A guerra de tarifas aéreas travada nos últimos cinco meses, após o fim da alta temporada de verão, está fazendo a festa dos passageiros: preços até 25% mais baratos e passagens para voos domésticos por R$ 39 levaram o número de pessoas transportadas por quilômetro no mercado doméstico subir 8,29%, de janeiro a agosto deste ano, se comparado ao mesmo período de 2009. Mas, para as companhias, a briga por quem oferece a tarifa menor não está trazendo um resultado tão positivo, já que, apesar das promoções, o número de assentos por quilômetro cresceu, no mesmo período, 12,12%. Ou seja, a oferta continua maior do que a demanda.
De janeiro a setembro deste ano, os preços das passagens aéreas domésticas e internacionais caíram 13,4%, segundo o IPCA, o índice da inflação oficial, medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O acumulado dos últimos 12 meses mostra queda de 10,27% (ver gráficos ao lado). Entre janeiro e agosto de 2008, havia 48,405 milhões de assentos por quilômetro no mercado brasileiros, mostram os dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). No mesmo período de 2009, a oferta foi de 54,272 milhões por quilômetro. No entanto, a demanda não cresce para suprir esse volume. Nos primeiros oito meses do ano passado, foram 32,276 milhões de passageiros por km, e no mesmo período deste ano 34,950 milhões.
Segundo especialistas, não foi apenas a entrada da Azul ou o crescimento de 137% da WebJet que levou a esse quadro. Tanto Gol como TAM também aumentaram suas ofertas expressivamente. Só para se ter uma ideia, a oferta da Azul hoje é de 1,5 milhão de assentos por quilômetro, a WebJet também acrescentou no mercado outro milhão, expandindo de 957 mil para 2,277 milhões a capacidade das aeronaves. A GOL abriu mais 573 mil e a TAM, quatro vezes mais, 2,3 milhões. Tudo isso num ano de crise econômica, gripe suína e que começou com o petróleo a US$ 100.
Logo no fim da alta temporada, as empresas sentiram a primeira retração. A ocupação média caiu de 71% em janeiro para 61% em fevereiro e 59% em março. Só em julho, foram retomados os patamares de janeiro, chegando a 72,92%.
Wagner Ferreira, presidente da WebJet, observa que a oferta maior que a demanda associada à guerra de tarifas é prejudicial para as empresas do setor. "Se você baixa preços, mas consegue suprir a oferta, é possível empatar. No entanto, quando, apesar da promoção, a oferta continua maior que a demanda, o custo fica muito maior". Ferreira afirma que a margem da companhia aérea é muito pequena: 45% do custo vem do petróleo, 35% de salários, treinamento, suprimentos e impostos. Sobram 20% para a gestão de tarifas.
Mas, apesar deste cenário, Ferreira está otimista. O executivo lembra que o crescimento do setor aéreo é diretamente proporcional à expansão do PIB, numa correlação de 2,5. "Este ano já devemos ter um crescimento positivo. E como em 2010 a economia deve se expandir 5%, o setor aéreo crescerá no mínimo 10%", estima. E esse efeito já está acontecendo neste feriado de 12 de outubro. "O aproveitamento deve chegar a 78%".
Alípio Camanzano, do site Decolar.com, especializado em buscar as promoções para os passageiros, conta que a guerra de tarifas começou em abril, impulsionada pela GOL. Segundo ele, a GOL, tradicionalmente, é a empresa que inicia as promoções e puxa todo o setor. Isto fez não só com que a TAM baixasse o preço, mas que a Azul também iniciasse promoções-relâmpago como a que faz com o próprio site, às terças-feiras, quando oferece uma passagem de graça quando o cliente compra outra.
O presidente da Azul, Pedro Janot, no entanto, diz que não entra em guerra de tarifas e que seu objetivo é fazer com que pessoas que nunca voaram comecem a viajar de avião. Hoje, o Brasil tem 12 milhões de pessoas que já embarcaram pelo menos uma vez de avião - 135 milhões fazem viagens interestaduais de ônibus. "O problema é que a companhia aérea não consegue ainda falar com esse público, mostrar que já vende passagens até mais baratas que as de ônibus se ele conseguir se programar", explica Janot. Além disso, ele diz que a malha aérea como um todo tem um excesso de conexões. "Precisamos de mais rotas diretas e é o que a Azul está começando a fazer", afirma.
Renato Pascowitch, diretor-executivo da Ocean Air, acrescenta que o cartão de crédito também está fazendo com que mais pessoas comprem passagens aéreas. "Hoje uma pessoa compra uma passagem a R$ 200 e divide em dez de R$ 20. Com isso, consegue visitar a família no Nordeste, pelo menos uma vez por ano, outras vezes até mais", lembra Pascowitch. Tudo isso, segundo os empresários, deve levar o setor a se recuperar.
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