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Pista e até crise aérea influenciaram pilotos

Conclusão consta do relatório final do Cenipa sobre acidente em Congonhas que matou 199

Bruno Tavares e Fausto Macedo - O Estado de S.Paulo

As dificuldades de operação em Congonhas, a pressão silenciosa da companhia aérea para que se evitasse pousar em aeroportos alternativos, as condições meteorológicas adversas e até a conjuntura da crise aérea tiveram influência negativa sobre os pilotos do voo 3054 da TAM. A conclusão consta do relatório final do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) sobre a maior tragédia da aviação brasileira, que deixou 199 mortos em julho de 2007. A hipótese mais provável para o acidente, segundo o Cenipa, é de que a tripulação do Airbus A320 tenha deixado de seguir o procedimento recomendado e deixado um dos manetes (aceleradores) na posição de subida e outro em "marcha lenta".

Ao longo de quatro páginas do relatório, peritos do Cenipa analisam cada um dos aspectos técnicos e operacionais do voo 3054. O texto lembra que, na época do acidente, o setor aéreo atravessava um período de constantes atrasos em voos, filas nos balcões de check-in e falta de acomodações nas salas de embarque. O Aeroporto de Congonhas, até então o mais movimentado do País, era um dos mais criticados. Desde 2005, as pistas apresentavam baixos coeficientes de atrito e acúmulo de água. Só em 2007, meses antes da tragédia, é que os problemas foram corrigidos. Ainda assim, o Cenipa constatou que essa operação resultava em "percepção de insegurança por parte das tripulações".

A apuração dos militares revelou ainda "desestruturação organizacional" na TAM, ocasionada pelo rápido crescimento da empresa. O setor de segurança de voo (safety, no jargão em inglês) dispunha de 27 pessoas para um total de 19 mil funcionários, dos quais 5 mil eram tripulantes. "Essa relação acabou por comprometer o desempenho do setor (de safety) e, consequentemente, sua credibilidade diante dos tripulantes", diz o relatório. Os investigadores do Cenipa notaram ainda "pressão psicológica sobre os tripulantes no sentido de evitar os desvios para (aeroportos) alternativos, por causarem transtornos aos passageiros e prejuízos à companhia".

A mudança no procedimento de pouso do Airbus A320 com reverso (freio aerodinâmico) inoperante, instituída pouco antes da tragédia, também foi analisada. Embora mais simples do que o anterior, tinha como efeito colateral um acréscimo de 55 metros na distância necessária para o pouso. "A própria simplificação do procedimento (...) indica certa vulnerabilidade no procedimento antigo", assinala o Cenipa. Os militares concluem o item "Análise" afirmando que "é possível supor que (o cenário do acidente) tenha contribuído, de alguma forma, para sua consumação, notadamente sob a forma de uma permanente pressão psicológica sobre os tripulantes".

O presidente da Associação dos Familiares e Amigos das vítimas do voo 3054 (Afavitam), Dário Scott, disse que as conclusões do Cenipa mostram o que já se esperava. "Está claro que houve responsabilidades por parte da TAM, Anac e Infraero. E que o fator humano foi inconclusivo", assinalou.

Procuradas ontem, a TAM, a Anac, a Infraero e a Airbus não quiseram se pronunciar, alegando que o relatório ainda não foi oficialmente divulgado.

COLABOROU ANDREI NETTO

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