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Controlador do jato atuava sem supervisão

Supervisor teve que cobrir posto da chefia geral da sala de controle, no lugar de oficial da Aeronáutica que se ausentou

Ausência pode ter contribuído para que o controle aéreo em Brasília não percebesse que Legacy estava na altitude incorreta

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA - FOLHA DE SÃO PAULO

A equipe de controladores de tráfego responsável por monitorar o jato Legacy estava atuando sem supervisão na parte da tarde em que ocorreu a colisão com o vôo 1907 da Gol, no dia 29 de setembro. Isso aconteceu porque o supervisor teve que cobrir o posto de chefia geral da sala de controle, no lugar de um oficial da Aeronáutica que se ausentou.

É o que dirá o próprio supervisor hoje, segundo a Folha apurou, em depoimento à Polícia Federal, que investiga as falhas que levaram à colisão, que deixou 154 pessoas mortas.

O papel do supervisor, um controlador de tráfego mais experiente, é acompanhar o trabalho dos operadores que monitoram o console. Seu papel é assegurar que os controladores estejam atentos e interferir caso surjam problemas.

Esse desfalque pode ter contribuído para que os dois controladores não tivessem percebido que o Legacy estava em rota de colisão com o Boeing depois de cruzar Brasília. O jato não baixou de 37 mil pés para 36 mil pés nesse trecho, como previa o plano de vôo.

Não se sabe os motivos da ausência do oficial, um tenente, a partir do meio da tarde. A reportagem não conseguiu localizá-lo. Mas essa falta foi crucial porque ele estava sozinho naquele dia na chefia da sala. Geralmente o oficial trabalha com um supervisor-geral.

A Aeronáutica não quis se manifestar porque os detalhes do que ocorreu na sala são objeto de investigação oficial.

Também não se posicionou a respeito da pouca experiência do controlador inicialmente responsável pelo Legacy, conforme revelou a Folha. O ministro Waldir Pires (Defesa) afirmou ontem que todos os profissionais são qualificados.

Contatado, esse controlador disse estar mais aliviado depois de prestar seu depoimento ontem na PF. Disse ter 27 anos, apesar de seus colegas e advogados considerarem que ele aparenta 20. Não quis detalhar sua experiência profissional.

Era ele que estava a postos, às 16h02, quando o radar deixou de receber dados do transponder do Legacy, que indicariam a altitude real. O revezamento aconteceu entre 16h15 e 16h30. Foi nesse período, às 16h26, que foi feita a primeira de sete tentativas de contato.

Hoje é o último dia de depoimentos do grupo de 13 controladores de São José dos Campos e Brasília que monitoraram o jato Legacy.

Contratados pela ABCTA (Associação Brasileira dos Controladores de Tráfego Aéreo), os advogados Normando Cavalcanti e Fábio Tomás de Souza disseram ontem que, até agora, as informações prestadas à Polícia Federal dão conta de que não teria ocorrido nenhum erro do controle aéreo.

Segundo eles, a autorização de nível 37 mil pés dada pelo controle de São José dos Campos, ponto de partida do Legacy, era válida só para o trecho até Brasília, e não até o destino final, Manaus.

O grupo aponta três fatores que levaram ao acidente: a chamada "zona cega" onde não haveria cobertura integral de rádio e de radar, dificuldades com a tela de radar que pode induzir a erros e o próprio jato, que voava fora do previsto no plano de vôo e estava com o transponder inoperante.

A Aeronáutica nega a "zona cega", mas o comandante da Força, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, já admitiu que os controladores podem ter sido induzidos ao erro.

Identificação

O Instituto Médico Legal de Brasília identificou ontem os restos mortais da última vítima do vôo 1907 da Gol. Duas análises de DNA comprovaram que o fragmento de uma vértebra, localizado no início do mês, pertencia ao bancário brasiliense Marcelo Paixão.

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