A partir deste mês, empresas terão de compartilhar áreas de terminais para agilizar atendimento e reduzir filas
DECO BANCILLON - CORREIO BRAZILIENSE
ENVIADO ESPECIAL
Bruxelas — O governo brasileiro foi buscar fora do país as soluções para acabar com os atrasos e as longas filas que, diariamente, atormentam passageiros nos principais aeroportos nacionais. Após conceder à iniciativa privada a operação nos terminais de Guarulhos, em São Paulo, Viracopos, em Campinas, e Juscelino Kubitschek, em Brasília, a equipe econômica quer, agora, que as concessionárias passem a adotar algumas das práticas que há anos se tornaram rotina nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia.
A primeira dessas mudanças será acabar com a exclusividade na utilização dos espaços comuns de aeroportos pelas empresas aéreas. Por determinação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), os três terminais terão de fazer, a partir deste mês, uma espécie de rodízio das áreas comuns utilizadas para o embarque, confirmação de reserva e entrega de bagagens de passageiros. Hoje, esses locais são compartilhados de forma que as maiores companhias ficam sempre com mais posições do que as concorrentes de menor porte.
Com a nova regra, o que vai determinar o uso desses espaços será a demanda diária de passageiros, e não mais o tamanho da empresa aérea.
A alteração pretende adequar os terminais brasileiros ao modelo de gestão que já é praticado no mundo desenvolvido. "Na prática", diz o diretor de Tecnologia da Informação do aeroporto de Guarulhos, Luiz Eduardo Ritzmann, "haverá mais opções de check-in, de bag drop (local para entrega das bagagens) e totens de autoatendimento para o viajante, que poderá acessar, em um único terminal, todos os voos das companhias que operam na cidade dele", explica. Na Bélgica, onde participou de um seminário sobre investimentos de tecnologia em negócios da aviação civil, o executivo adiantou ao Correio que as companhias aéreas já foram informadas das mudanças.
Investimentos
Ainda que positiva, a alteração não deverá resolver de imediato o problema das longas filas.
"Compartilhar os espaços vai aumentar a oferta de serviços para o passageiro, mas não a ponto de solucionar o descompasso que existe hoje entre oferta e demanda na aviação comercial", diz Ritzmann.
Ele explica que o terminal de Guarulhos, o maior do país, atende hoje cerca 35 milhões de passageiros por ano, quando a capacidade disponível é de 20 milhões. "Estamos no limite", revela.
Para solucionar o problema, a concessionária que administra o aeroporto avisou que está em fase adiantada de obras para a construção de um novo terminal, que deve ser entregue em abril de 2014. Quando ficar pronto, deverá mais do que dobrar a capacidade atual, para 40 milhões de passageiros por ano. O mesmo estão fazendo as empresas que administram as operações de Brasília e Campinas, que também anunciaram investimentos na reforma e na ampliação dos terminais. Os recursos para tocar as obras são injetados também pelo governo, que, além de deter 49% das operações dos três terminais, financia 85% das obras com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
As obras e adequações nos terminais são parte do esforço que o governo tem feito para aproximar a gestão dos aeroportos brasileiros às práticas já adotadas nos melhores terminais do mundo, mas as alterações propostas não ficarão restritas apenas à estrutura física. Reservadamente, as concessionárias dizem que a maior mudança que estão colocando em curso é promover um choque de gestão, reduzindo desperdícios e gerindo melhor os recursos já disponíveis.
Um caso intrigante de má gestão governamental vem do aeroporto de Guarulhos, que, até meados do ano passado, era administrado exclusivamente pela Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). Assim que a operação mudou para a concessionária privada, notou-se que 40% da iluminação existente nos estacionamentos estava com defeito. A surpresa, no entanto, foi descobrir que o próprio aeroporto tinha guardado em um depósito todas as lâmpadas necessárias para a reposição. Com o conserto feito, resolveu-se o problema da iluminação deficiente que constantemente era motivo de críticas pelos passageiros.
Outra área que também passa por alteração na gestão dos aeroportos concedidos à iniciativa privada é a de sistemas e tecnologia. A concessionária GRU Airports, que opera Guarulhos, o maior terminal da América Latina, adquiriu um software que permitirá captar, com exatidão, detalhes de cada voo, incluindo o número de passageiros e a quantidade de bagagens que cada aeronave está movimentando. Com isso, será possível reduzir pela metade o tempo que um avião passa no aeroporto, desde a chegada à partida.
"Hoje, no mundo inteiro, esse espaço de tempo é de cerca de uma hora e meia, mas, em Guarulhos, nós levamos entre duas horas e meia a três horas para conseguirmos desembarcar um avião que pousa no nosso aeroporto", conta Ritzmann.
A tecnologia poderá melhorar também o controle de imigração no país. Com o mapeamento dos voos e dos detalhes de bagagens e passageiros, as autoridades de imigração que atuam nos aeroportos, como Receita Federal e Polícia Federal, poderão se programar para mobilizar funcionários extras caso haja uma demanda maior durante determinado período do dia. Atualmente, segundo dizem fontes do setor aéreo, o governo atua no escuro, porque não consegue prever com exatidão de detalhes quais voos e passageiros chegarão ao país, exceto em casos em que já há uma investigação em curso.
O repórter viajou a convite da Sita.
Dia confuso
Os passageiros que precisaram viajar ontem enfrentaram longos atrasos em vários aeroportos brasileiros, sobretudo pela manhã, quando o terminal Santos Dumont, no Rio de Janeiro, foi fechado por problemas climáticos. Segundo estatísticas da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), o quadro ficou mais tranquilo após a hora do almoço, até as 17 horas, dos 1.629 voos domésticos previstos, 16% (260) estavam saindo fora do horário previsto e 5,8% (94) foram cancelados.
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