Presidente de associação de familiares diz que governo tem, sim, responsabilidade e cobra apuração mais rápida
Adauri Antunes Barbosa - O Globo
SÃO PAULO. O presidente da Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Voo JJ-3054 da TAM, Dário Scott, reagiu ontem às declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e afirmou que há, sim, responsabilidade do governo federal no acidente com o Airbus A 320. Em julho de 2007, morreram 199 pessoas no acidente, entre elas Thaís, filha de Dário:
- Para mim, como pai de uma das vítimas do acidente, existe, sim, responsabilidade do governo federal. Lula, no papel de chefe do nosso Executivo, foi o responsável pelas indicações das pessoas que ocuparam cargos na Anac e na Infraero, entidades já responsabilizadas pelo acidente.
Na segunda-feira Lula afirmou que "a mágoa mais profunda" que teve, durante seus oito anos de governo, foi no caso do acidente com o avião da TAM porque o governo, na visão dele, foi responsabilizado:
- Nós fomos condenados à forca e à prisão perpétua em 24 horas. Jogaram a culpa do acidente nas costas do governo e depois ninguém teve sequer a sensibilidade de pedir desculpas. Ali foi o momento mais difícil - disse o presidente, ao fazer o balanço de seu governo.
Dário, ontem, procurou separar Lula, como pessoa, da figura do presidente:
- Não colocaria (a responsabilidade em) Lula como pessoa, mas como presidente. Afinal, é papel do presidente mandar apurar os fatos com rapidez.
Dário também cobrou do presidente, assim como de outras autoridades do país, empenho maior para que as responsabilidades sobre o acidente com o voo 3054 da TAM sejam apuradas.
Viúva de Antonio Gualberto Filho, uma das vítimas do acidente, Malu Gualberto se manifestou há pouco mais de um mês, quando Lula afirmara nunca ter visto "tanta leviandade" da imprensa quanto na cobertura do acidente. Ela lembrou que Anac e Infraero estão subordinadas ao Ministério da Defesa, "então, ao governo".
"Leviandade por leviandade, foi o senhor Marco Aurélio Garcia, numa atitude leviana e afrontosa, enviar-me aquele gesto obsceno pela imprensa (...). Leviano por excelência! Expert em leviandade ! Afronta! Leviandade por leviandade, foi a então ministra do Turismo, senhora Marta Suplicy, ter encontrado a solução mágica para o caos aéreo com a célebre, inesquecível e indecorosa frase: "Relaxa e goza". Outra leviandade! Outra afronta!", afirmou a viúva.
"Leviandade por leviandade, foi o presidente do meu país (...) não ter vindo a São Paulo naquele triste dia prestar solidariedade a todos nós, cidadãos brasileiros e familiares das vítimas, fazendo-o só 72 horas após a tragédia. Protocolar", manifestou-se ainda Malu Gualberto, segundo carta publicada ontem na "Folha de S. Paulo".
Malu ainda contestou Lula, que disse ter sofrido com o acidente. "Quanto à afirmação de V.Exa. na matéria em tela: "O dia em que mais sofri foi no acidente do avião da TAM em Congonhas", quero dizer que, graças a Deus, V.Exa. sofreu, enquanto eu e minha família sofreremos até a eternidade".
Relatório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), divulgado em novembro de 2009, não conseguiu confirmar se os pilotos do Airbus A 320 da TAM cometeram algum erro que tenha causado a tragédia.
Segundo Dário Scott, o documento do Cenipa enfraquece o relatório anterior divulgado pela Polícia Federal, que apontou os comandantes da aeronave, Kleyber Lima e Henrique di Sacco, como principais culpados pelo acidente. A PF indicava erro no manuseio das manetes, instrumento utilizado para dar direção ao avião e regular a aceleração da aeronave.