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Temporada de caça

Minas quer ser referência na formação de profissionais para atender empresas do setor aéreo que estão instalando centros de manutenção no estado e o mercado nacional

Vanessa Jacinto - Estado de Minas

A consolidação do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Grande BH, como um dos principais terminais de transportes de passageiros e de cargas do país deu início a uma verdadeira temporada de caça aos profissionais do setor aéreo. Até 2014, com a realização da Copa do Mundo, o aeroporto deverá ser alvo de novos investimentos. Para o salto previsto no número de passageiros (de 6 milhões para 12 milhões de usuários), será necessária a realização de obras de infraestrutura que vão demandar, conforme estima Luiz Antônio Athayde, subsecretário de Relações Internacionais da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, cerca de 2 mil contratações. "Para a operação propriamente dita, o número de prestadores de serviço no aeroporto deve triplicar."

Até mesmo na disputa com São Paulo, Minas tem ganhado a preferência das empresas quando o assunto é a expansão dos negócios. Essa preferência, além de legitimar a posição do estado como Polo de Aviação Civil, traz impacto econômico extremamente positivo para a economia e coloca as cidades do Vetor Norte no palco da oferta de mão de obra especializada.

A meta, portanto, é investir pesado em capacitação. Além da oferta de cursos e treinamento em manutenção, promovidos pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) em parceria com as quatro secretarias que compõem o polo (Desenvolvimento Econômico, Educação, Desenvolvimento Social e Ciência, Tecnologia e Ensino Superior), terá início, num prazo de 60 dias, a construção do Centro de Capacitação Aeroespacial, no município de Lagoa Santa, onde funcionará, também, um laboratório para testes de componentes, turbinas, peças e aviônicos. Haverá simuladores de voo, túneis de vento e um centro de treinamento de pilotos.

A ideia é que o Centro seja referência na formação de profissionais que atuam em toda a cadeia do setor aéreo. Segundo Athayde, é preciso que a mão de obra esteja afinada com o número de investimentos e demanda das empresas, abastecendo, não o mercado mineiro, mas o mercado nacional.

Municípios como Lagoa Santa, Vespasiano, Ribeirão das Neves, Santa Luzia e outros da Região Metropolitana de BH serão beneficiados, tanto na oferta de vagas para capacitação, quanto na absorção dos seus profissionais pelas empresas.

QUALIFICAÇÃO

O Polo de Aviação Civil de Minas Gerais, o segundo do gênero no Brasil, foi criado justamente com o objetivo de integrar esferas governamentais, instituições de ensino e empresas privadas, ampliando ações coordenadas para o setor, com a difusão e desenvolvimento de tecnologia e estabelecimento de novos parâmetros de qualidade na formação de mão de obra, pesquisa e desenvolvimento científico, já que o incremento dos negócios está atrelado à disponibilidade de infraestrutura e oferta de profissionais qualificados.

Athayde afirma que Minas vai financiar o treinamento dos futuros trabalhadores da indústria aeronáutica nas universidades e centros de treinamento já existentes no estado. Com o apoio das companhias aéreas, espera-se a remodelagem e alinhamento dos currículos dos cursos à real necessidade das companhias aéreas e indústria do setor aeronáutico.

A formação dos profissionais exige investimento alto. Segundo dados da Anac, só os exercícios práticos custam em torno de R$ 7 mil para pilotos privados e R$ 26 mil para pilotos comerciais. "Nosso objetivo é gerar e fixar empregos qualificados em Minas e transformar o estado em centro de excelência na capacitação de profissionais do setor aéreo. Esse investimento é mais um passo para transformar o estado em importante corredor tecnológico brasileiro, com empresas e profissionais atuando em serviços de alto grau de tecnologia e especialização", enfatiza Athayde.

Segundo ele, o valor total a ser investido em bolsas de estudo ainda não está definido, uma vez que a oferta de cursos será modular e crescente, de acordo com a demanda das empresas aéreas.

Atualmente, Minas abriga dois centros de treinamento, 14 aeroclubes, três universidades e 11 escolas de aviação civil com cursos homologados pela Anac.

Faltam profissionais

Profissionais de manutenção, pilotos, copilotos e comissários de voo estão sendo altamente requisitados em Minas, com a expansão do setor aéreo. O comandante internacional de uma empresa de aviação Luiz Estáquio Moterane, hoje proprietário de uma escola de formação de comissários, afirma que não dá conta de atender a demanda das empresas: faltam profissionais.

"As empresas me ligam solicitando pessoas e não tenho como atendê-las. Especialmente no caso das comissárias, acho que é por causa dos mitos que envolvem a profissão", diz. O comandante explica que muitos deixam de se inscrever nos cursos e de concorrer a uma vaga porque acreditam que têm que ostentar um padrão de beleza digno das modelos.

Além de curso médio completo, idade entre 18 e 36 anos, boa saúde e formação específica em escolas homologadas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o principal pré-requisito para ser comissário de bordo é a simpatia e a facilidade de se relacionar. Com salário médio inicial de R$ 2,8 mil, um comissário de voo pode chegar a ter rendimentos de R$ 4,5 mil, em estágios mais avançados da carreira. Confiante quanto à oferta de oportunidades, Adriana Pereira Bento, de 26 anos, acaba de concluir curso de formação de comissários. "Formei em jornalismo, mas sempre quis fazer esse curso pelo retorno rápido do investimento. A gente não precisa ser linda. Tem que ser simpática e se relacionar bem."

Na área de manutenção, o engenheiro mecânico Leandro Prado da Silva, de 30 anos, já está com a carreira mais que consolidada. Atualmente ele é supervisor de manutenção na base BH da Líder Aviação, empresa onde começou como estagiário. Ele conta que teve a oportunidade de fazer vários cursos específicos da área, dentro e fora do país. "Com a expansão dos investimentos em aviação, os profissionais estão ainda mais valorizados. Quem investe em qualificação tem sempre boas oportunidades."

Evelyn Cris, gerente de recursos humanos da Líder Aviação, confirma a tese. Segundo ela, a empresa tem programas próprios de capacitação tanto para quem já tem formação em aviação (neste caso será treinada com os equipamentos Líder), quanto para quem não tem nenhuma experiência, mas deseja trabalhar na área. Quem estiver interessado no curso dever ter como pré-requisitos: formação em curso técnico de nível médio, idade mínima de 18 anos, interesse e disponibilidade.

Os candidatos fazem estágio na própria Líder enquanto frequentam as aulas de formação. Todo o processo dura em média 10 meses. Depois do curso, os alunos se submetem a uma prova da Anac e, dos que passam, praticamente todos são absorvidos pelo mercado. "Está havendo uma verdadeira disputa por esses profissionais", completa Evelyn.

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