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O sonho de voar sem poluição

Equipe de cientistas trabalha na construção de avião capaz de dar a volta ao mundo utilizando apenas energia solar. Realização da façanha está prevista para 2012

Silvia Pacheco – Correio Braziliense

Um avião capaz de dar a volta ao mundo sem usar uma gota de combustível parece ficção, mas não é. Trata-se do Solar Impulse, projeto que tem o objetivo de dar a volta no globo a bordo de um avião movido exclusivamente por energia solar, deixando de lado qualquer outro tipo de fonte energética.

Chamada de HB-SIA, a aeronave, semelhante a um aeroplano, deve voar durante o dia e à noite, demonstrando o potencial de uso das energias renováveis. Os suíços Bertrand Piccard e Andre Borschberg(1), idealizadores da iniciativa, esperam induzir indústria, cientistas, políticos e sociedade civil às mudanças necessárias para alcançar uma melhor utilização dos recursos energéticos e maior respeito ao meio ambiente.

O Solar Impulse nasceu da crença de Piccard de que a maior façanha deste século consistirá na preservação e melhoramento da qualidade de vida no planeta. “O grande desafio é conciliar os interesses econômicos e ecológicos e promover o uso de novas tecnologias para economizar energia e gerar recursos alternativos”, afirma o pesquisador ao Correio, por e-mail. Esse desafio se torna pertinente, uma vez que, atualmente, a aviação mundial é responsável por 2% das emissões de dióxido de carbono na atmosfera, segundo a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês).

À frente do projeto com Piccard, o engenheiro mecânico e piloto André Borschberg comanda a construção do avião, que envolve uma equipe de 65 pessoas composta por especialistas de todas as origens e de diferentes formações — engenheiros de materiais, físicos, gestores de energia e membros da Escola Politécnica Federal de Lousanne (EPFL), considerada uma das principais instituições tecnológicas da Europa. “Uma equipe diversificada estimula a criatividade e a força, trazendo soluções originais e inovadoras a partir da comparação de suas experiências”, diz Borschberg à reportagem.

O desafio não é nada simples. O grupo precisou projetar um avião gigantesco (veja arte), com a envergadura de um Airbus A340, mas que pesa o mesmo que um automóvel — 1.600kg — e possui motores com a potência de uma pequena moto. “Nosso desafio está em acumular cada watt gerado pela energia solar e descobrir como economizá-la. Apenas as soluções mais avançadas, a maioria delas nunca antes aplicadas, permitirá isso. Acreditamos que podemos chegar a essas soluções combinando a experiência e somando o potencial de cada membro da equipe”, explica Borschberg.

Acúmulo de energia

Para tanto, as asas e estabilizadores horizontais são todas cobertas por mais de 11 mil células solares que captarão a energia solar, transformá-la em eletricidade e alimentar os quatro motores. O grande problema, no entanto, será a fase em que o HB-SIA voará à noite. Para isso, quatro baterias de lítio serão necessárias para armazenar eletricidade enquanto não houver captação da luz do Sol. O princípio consiste em acumular energia solar durante o dia, alimentando os motores e recarregando as baterias. À noite, as baterias que foram abastecidas durante o dia passarão a funcionar, mantendo o avião no ar. Nesse período, a aeronave perderá altitude gradativamente para economizar energia — a altitude máxima, quando houver Sol, será de 8.500m.

Como só é capaz de voar a 70km/h, o Solar Impulse levará cerca de 36 horas para dar a volta na Terra. O primeiro voo de teste deve ocorrer ainda este ano ou no começo do ano que vem, mas a equipe de Bertrand e Piccard não divulgou a data. A circunavegação pelo mundo deverá ser feita em 2012. Até lá, alguns detalhes poderão ser alterados. A equipe avalia a necessidade de construção de uma aeronave com dois lugares, para que a viagem possa ser feita sem escalas. O modelo atual do Solar Impulse tem espaço para apenas um piloto, o que exigiria uma viagem em cinco etapas.

Giovanni Bisignani, diretor-geral da Iata, acredita que o Solar Impulse poderá fornecer muitas respostas para uma indústria mais verde e viável. “A indústria da aviação nasceu do sonho de as pessoas poderem voar. Os resultados desse projeto nos leva à construção para um futuro livre de carbono. Ao trabalhar em conjunto com uma visão comum, pode-se obter grandes progressos na tecnologia de combustível feito a partir da biomassa.”

1 - Família de exploradores

Bertrand Piccard faz parte de uma família de exploradores e cientistas. Ele é neto de Auguste Piccard, primeiro homem a atingir a estratosfera em um balão em forma de gôndola, em 1931. O pai de Bertrand, Jacques Piccard, usou o batiscafo e bateu o recorde do mundial de descida no oceano, ao mergulhar até 10.916m. O próprio Bertrand, acompanhado pelo inglês Brian Jones, deu a volta ao mundo em um balão em 1999. A dupla percorreu 45.755km em 19 dias, 21 horas e 47 minutos. O voo começou na Suíça e acabou no Egito.

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