Relatório aponta que acidente ocorrido em 2007 foi provocado pela posição incorreta do manete
ELIANE CANTANHÊDE, COLUNISTA DA FOLHA
ALAN GRIPP, DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O relatório da Aeronáutica sobre o voo 3054 da TAM, que se chocou com um prédio nos arredores de Congonhas, em 17 de julho de 2007, matando 199 pessoas, aponta como fator decisivo da tragédia a posição incorreta do manete direito (alavanca que controla a potência do motor), mas é inconclusivo quanto aos motivos desse erro.
Ou seja: não conseguiu esclarecer se o manete direito (que controla a turbina direita) estava na posição errada por falha humana ou mecânica.
Conforme a Folha apurou, o documento confirma que o manete estava em posição "climb" (de aceleração), quando o correto era que estivesse em "idle" (ponto morto). Por isso, o computador do avião recebeu o comando de acelerar, e não o de parar, após o pouso na pista úmida do aeroporto.
O documento não trará explicações nem deduções para o erro. Só dirá que ele foi decisivo para impedir que os pilotos conseguissem frear o avião.
O objetivo do relatório não é apontar culpados -por convenção internacional, a investigação Aeronáutica serve apenas para prevenir acidentes.
Essa atribuição é da Polícia Federal que, contudo, também não chegou a culpados em seu inquérito. Baseada em dados da FAB, a investigação esbarrou na mesma dificuldade da apuração Aeronáutica: não há como dizer, tecnicamente, se houve falha humana ou se o computador fez "uma leitura equivocada" do comando.
O relatório final será apresentado a representantes de órgãos internacionais de acidentes aeronáuticos, das empresas envolvidas, como a Airbus, e dos fabricantes de peças e componentes, inclusive dos manetes e do reverso, e dos controladores de tráfego aéreo.
Se houver discordâncias, elas poderão ser formalizadas e anexadas ao documento posteriormente. Mas a expectativa é que o texto seja enviado hoje ao comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito.
A etapa seguinte é convocar as famílias, que devem ter acesso prioritário aos resultados.
A confirmação de que não é possível atestar se houve falha humana ou mecânica veio de um sofisticado exame feito na França no quadrante de manetes do Airbus, achado nos destroços da aeronave.
Além da FAB, a Polícia Civil paulista apurou o caso e apontou 11 pessoas (entre dirigentes da TAM, Infraero e Anac) como responsáveis. O processo ainda não foi concluído.
O acidente com o TAM 3054 foi o maior da história brasileira, batendo a queda do Boeing da Gol, após colisão com um jato Legacy, em setembro de 2006, deixando 154 mortos.
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