Marcelo Migliaccio – Jornal do Brasil
O Aeroporto Santos Dumont vai mesmo ficar menor. Segundo o Departamento de Controle do Espaço Aéreo, a mudança do circuito de tráfego para a pista 2 – determinada pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) até que seja concluído um estudo de impacto sonoro em sete bairros da Zona Sul – fará com que um número menor de aeronaves utilizem o espaço.
– Qualquer modificação nesse circuito vai acarretar redução no movimento do aeroporto, por questões de segurança – disse ontem o tenente coronel Henry Munhoz, do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica. – O Santos Dumont está localizado numa área de baía, com obstáculos naturais como o Pão de Açúcar. Poucas alternativas à chamada rota 2 atendem às normas internacionais de segurança.
A Aeronáutica ainda não recebeu a notificação da Infraero para que a rota 2 seja abandonada, mas já está estudando as alternativas. De acordo com o Departamento de Controle do Espaço Aéreo, ainda não é possível quantificar a redução nos voos do Santos Dumont.
Apesar de o Inea informar que enviou ontem a notificação para que a Infraero interrompa não só o uso da rota 2 como a operação do aeroporto entre 22h e 6h – um total de 22 voos por noite – a empresa que administra o Santos Dumont alegou que não havia sido notificada oficialmente até as 17h.
O diretor-técnico do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias, Ronaldo Jenkins, disse que a limitação dos horários e da rota de pouso no Santos Dumont vai acarretar transferências de voos para o Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão.
– Qualquer mudança cria um problema grande se não for na ponte aérea, porque os outros vôos têm uma sequência – afirmou Jenkins, para quem o Galeão terá condições de absorver toda a demanda.
Oficial da reserva da Aeronáutica, ele diz que a rota proibida pode ser substituída pela aproximação das aeronaves por Niterói ou por um novo trajeto, que está em estudos pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo e seria paralelo à rota 2, com sobrevoo da Baía de Guanabara.
A assessoria do Inea, entretanto, deixou claro ontem que a proibição dos voos noturnos não é imediata e que as empresas e a Infraero deverão pedir um prazo para reorganizar a escala, pois passagens foram vendidas e há uma logística.
O diretor de Relações institucionais da Azul, Adalberto Febeliano, disse que a empresa aérea não terá maiores problemas com as mudanças no Santos Dumont, porque tem apenas um voo noturno, que chega às 22h10.
– Podemos mudar, dez minutos a mais ou a menos não fazem diferença.
Adalberto ressalta que a mudança da rota de chegada não é um problema simples de resolver.
– O trajeto de aproximação da pista é definido com base em condições de segurança, como vento e visibilidade.
O comandante Jenkins reforça a tese: – A rota 2 é usada desde a inauguração do aeroporto, em 1936, mas a cidade cresceu.
A Infraero repetiu ontem que vai analisar juridicamente a notificação do Inea antes de se pronunciar e que, desde abril, está em contato com o órgão estadual para renovação da licença ambiental.
Classificou a iniciativa das proibições como uma “surpresa”.
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) informou, por sua assessoria de imprensa, que estará atenta ao procedimento das empresas com os passageiros que compraram bilhetes para os vôos com chegada ou partida noturna.
Entre as alternativas, estão realocação e até indenização.
Procuradas pelo Jornal do Brasil, a TAM e a Gol, principais empresas aéreas a operar no Santos Dumont, preferiram não se pronunciar.
‘JB’ mostrou transtornos No último dia 2, o JBpublicou reportagem com moradores dos bairros mais expostos ao barulho dos aviões que chegam ao Santos Dumont pelo circuito de aproximação da pista 2. Em regiões como Santa Teresa e Botafogo, as reclamações são muitas. Logo após a publicação do texto, o Inea anunciou a proibição dos voos noturnos.
A reportagem mostrou ainda que o risco de acidentes, que cresce proporcionalmente ao aumento do movimento de aviões, está maior no Santos Dumont e que a infraestrutura viária da cidade é um dos empecilhos à aceitação dos passageiros pela alternativa do Galeão, que fica distante do Centro e para onde não há metrô.
Transferências de voos para o Galeão já são dadas como certas por companhias aéreas.
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