No ano passado, empresas aéreas tiveram prejuízo de US$ 5 bilhões e 31 delas fecharam as portas
Mariana Barbosa
As mais de 4.200 demissões anunciadas pela Embraer na semana passada - o maior corte de uma empresa brasileira na atual crise - são reflexo da dura realidade da Aviação mundial. Mesmo antes da quebra do banco Lehman Brothers, em setembro, a sorte das companhias aéreas já tinha virado.
Depois de anos de crescimento vigoroso, as companhias viram os lucros desaparecer no ano passado com a disparada do preço do petróleo, que chegou a quase US$ 150 o barril.
Segundo a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, na sigla em inglês), as empresas aéreas perderam US$ 5 bilhões em 2008. Nada menos que 31 companhias fecharam as portas. Com a escassez do crédito e a retração da demanda, as empresas, que projetavam expansões em 2009, tiveram de refazer os planos.
Só em janeiro, a Boeing registrou o cancelamento de 31 jatos modelo 787. A queda na procura fez a empresa anunciar a demissão de 4.500 funcionários "como parte do esforço para garantir competitividade e controle de custos em face de uma economia global em enfraquecimento". Na época do anúncio das demissões, o presidente de Aviação Comercial da Boeing, Scott Carson, disse que a companhia estava adotando "medidas prudentes" diante do "ambiente econômico difícil".
Na concorrente mais direta da Embraer, a canadense Bombardier, as demissões foram menores e afetaram 4,5% da força de trabalho, equivalente a 1.360 funcionários. Para o ano fiscal 2009/10, a empresa estima que deve realizar menos entregas do que no ano fiscal de 2008/09, quando entregou 353 aeronaves. "A indústria está experimentando forte turbulência e antecipamos mais volatilidade no curto prazo", disse o presidente da Bombardier Aerospace, Guy Hachey.
Apesar de já ter sofrido ao menos 14 cancelamentos este ano, a Airbus deve contar com uma ajuda governamental para atravessar a crise. O governo da França anunciou a liberação de US$ 6,4 bilhões para que os bancos do país financiem companhias aéreas que têm encomendas junto à
fabricante europeia. O governo da Alemanha estuda fazer o mesmo.
Na quinta-feira, a Embraer reduziu em 28 jatos sua previsão de entregas para este ano. Foi a segunda revisão para baixo. A empresa passou a maior parte do ano passado se preparando para entregar de 315 a 350 jatos. Em novembro, esse número foi reduzido para 270 e, na semana passada, para 242.
Entre os adiamentos de entrega no segmento de Aviação comercial, o maior teria partido da Hainan Airlines (HNA), empresa que fez uma encomenda de 100 jatos, no valor de US$ 2,7 bilhões. Até 31 de dezembro foram entregues 17 jatos e a previsão inicial era entregar os demais entre 2009 e 2010 - prazo agora dilatado.
Segundo informou o presidente da Embraer, Frederico Curado, em uma carta aos funcionários, os clientes estão solicitando adiamento das entregas por dois a três anos.
Mas o maior impacto, em termos de unidades adiadas, foi na Aviação executiva, segmento que até o estouro da crise financeira vivia um boom sem precedentes, com filas de espera de quatro ou cinco anos para se conseguir um jato novo.
De novembro, quando foi anunciada a projeção anterior, para a semana passada, nada menos que 18 jatos Legacy tiveram suas entregas postergadas. A empresa reduziu sua previsão total de faturamento de US$ 6,3 bilhões para US$ 5,5 bilhões. Dessa diferença de US$ 800 milhões, US$ 500 milhões correspondem aos adiamentos na aviação executiva.