A "solução Viracopos" não elimina a necessidade da construção de um novo aeroporto, já que o tráfego aéreo triplicará em 15 anos
Andre Castellini
O SETOR AÉREO tem mostrado um desempenho positivo, mesmo na atual crise. O número de passageiros, após cair somente 0,3% no quarto trimestre de 2008, quando comparado com 2007, cresceu mais de 9% em janeiro deste ano, em relação ao mesmo período de 2008. Salvo agravamento da atual crise, as companhias aéreas esperam um crescimento em torno de 5% para o ano inteiro e, superada a atual crise, o setor deve voltar a crescer a uma taxa de dois dígitos.
Considerando que o PIB cresça em media 3% ao ano, o setor aéreo no Brasil, em 15 anos, contará com o triplo de passageiros em relação à quantidade atual. Esse crescimento é necessário para o desenvolvimento econômico do país, mas só será possível se houver investimentos em massa em aeroportos. A capacidade do conjunto de aeroportos hoje no Brasil também precisará quase que triplicar nesse mesmo período. Ou seja, precisaremos de quase três vezes mais pistas, terminais e pátios no país.
Mesmo com a redução do papel de Guarulhos e Congonhas como pontos de conexão, São Paulo também necessitará que seus aeroportos tenham o triplo de capacidade em comparação com a situação atual. Será fundamental não somente ampliar Guarulhos e Viracopos mas também construir um terceiro aeroporto, mais próximo da capital paulista do que de Campinas.
São Paulo precisa de aumento de capacidade já no curto prazo: seus aeroportos principais (Congonhas e Guarulhos) não têm mais capacidade nos horários de pico. Em Guarulhos, estudos técnicos indicam como pouco viável a construção de uma terceira pista. A construção de um novo aeroporto apresenta grandes desafios sociais e ambientais e, realisticamente, requer mais do que uma década para ser completada (basta olhar o exemplo do Rodoanel).
Com a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, a expansão faz-se ainda mais urgente: a demanda no mês de julho daquele ano aumentará muito, principalmente de voos internacionais.
Assim sendo, a expansão anunciada do aeroporto de Viracopos desponta como a única solução viável para o aumento de capacidade no curto prazo.
Com a construção de uma nova pista que permita operações de pouso e decolagens simultâneas com a pista atual, de um novo terminal de passageiros e com a ampliação do pátio de estacionamento de aeronaves, Viracopos se tornará o aeroporto da região de São Paulo com maior capacidade de passageiros, significativamente maior do que a de Guarulhos. Para torná-lo minimamente conveniente para os paulistanos, é fundamental reduzir o tempo necessário para se locomover da capital paulista até Viracopos, ou seja, implementar o trem expresso. Esse acesso rápido é fundamental: somente poucas metrópoles têm seu aeroporto a uma distância similar ou superior à de Viracopos em relação a São Paulo. Xangai, Bombaim e Bancoc são alguns dos poucos exemplos a serem citados.
A "solução Viracopos", contudo, não elimina a necessidade de o governo agir desde já para a construção de um novo aeroporto que possa atender São Paulo. Quando se considera que em 15 anos o tráfego aéreo na região será o triplo do verificado atualmente, não se escapa da necessidade de se construir um novo aeroporto, mesmo ampliando Viracopos.
Áreas onde essa construção é possível existem e são mais próximas e convenientes do que Campinas, principalmente quando se considera a finalização de obras do Rodoanel.
A complexidade do projeto exige que o governo aja com determinação desde já, finalizando os estudos em andamento e passando rapidamente para a fase de implementação.
Capital para financiar a construção de aeroportos não será um problema, desde que haja um quadro regulatório equilibrado. O setor de aeroportos é um dos que, em todo o mundo, têm atraído recursos financeiros privados com mais facilidade.
O aumento da capacidade de aeroportos é importante também para incentivar a concorrência e reduzir tarifas aéreas e taxas aeroportuárias.
Quando eles estão operando no limite de sua capacidade, não há espaço para o crescimento de novas empresas.
Na Europa, por exemplo, o nascimento e o crescimento de companhias que operam com o modelo de baixo custo - com baixas tarifas, como a Ryanair - somente foram possíveis graças à existência de aeroportos alternativos como Luton, nas proximidades de Londres.
Também em áreas onde existem diversos aeroportos, há uma concorrência entre eles a fim de atrair as companhias aéreas, reduzindo as taxas aeroportuárias cobradas dessas empresas. Essa redução, em um ambiente de competição, acaba sendo repassada para os passageiros.
ANDRE CASTELLINI, administrador de empresas, possui MBA pela Wharton School of Business da Universidade de Pennsylvania (EUA). É sócio-diretor da consultoria Bain & Company em São Paulo e responsável pela prática de transportes aéreos.