O funcionário sustenta que o helicóptero Super Puma L2 não realizou pouso forçado no acidente.

Segundo J., houve falha no rotor da cauda da aeronave.



Reportagens de Diogo Dantas e André Zahar


Rio - Um funcionário terceirizado da Petrobras, amigo e companheiro de plataforma de Marcelo Manhães dos Santos, afirmou em entrevista exclusiva ao O Dia Online que vai se desligar de sua empresa com medo de perder outros colegas e para preservar a própria vida. Marcelo Manhães foi a primeira vítima fatal a ser identificada após a queda de um helicóptero nesta terça-feira, quando decolava da plataforma P-18, na Bacia de Campos, com destino ao aeroporto de Macaé.

J., que falou sob a condição de não ter a identidade revelada, denunciou diversas irregularidades nos procedimentos de vôo entre aeroporto e plataforma, e contou que precisou perder um amigo para ter força para tornar públicos os erros que passam em frente aos seus olhos.

"Não quero ver nenhum amigo passando por isso. Muito menos eu. Já estava pensando em sair antes. Já tinha noção do que era nossa rotina antes. Chegou ao ápice com o acidente. Eu mesmo já reclamei de problemas com as aeronaves. De certa forma me omiti, antes de acontecer não tentei denunciar. Tomei vergonha depois de uma perda pessoal."

Helicóptero não teria feito pouso forçado

O funcionário sustenta que o helicóptero Super Puma L2 não realizou pouso forçado no acidente. Segundo J., houve falha no rotor da cauda da aeronave. "Ele serve para dar estabilidade de rotação. Se ele parar, o helicóptero começa a girar. Assim que foi dada a partida, deu problema", contou.

Outro dado que confirmaria a queda, segundo J., foi o funcionamento dos botes infláveis sob o helicóptero. "Se fosse pouso forçado, os botes debaixo da aeronave seriam inflados ainda no ar. Existe a bóia em todo o contorno do helicóptero. A frontal não inflou. Por isso que afundou. E tem um sensor que faz ela ser acionada."

Sem comunicação

J. afirmou também que a Petrobras cortou todos os acessos de comunicação externa da plataforma P-18 após o acidente. "É para o peão não falar o que aconteceu.", ressaltou, dizendo que o piloto não tinha como fazer nada na hora da queda.

Vítima não estava acompanhada

O técnico em segurança Marcelo Manhães dos Santos, da empresa Sparrows BSM Engenharia, uma das vítimas fatais do acidente, não estava acompanhado de um outro técnico de segurança da mesma empresa, ao desembarcar na plataforma. Segundo J., ter sempre alguém andando em sua companhia para solução conjunta de possíveis problemas é o procedimento padrão.

O funcionário contou que o técnico de segurança Meio Ambiente e Saúde da Sparrows Cleber Felício deveria ter embarcado com destino à plataforma, mas foi substituído na última hora por um homem de área da mesma empresa. O homem de área fica responsável pela movimentação de entrada e saída de cargas na plataforma.

"Marcelo desceu sozinho na P-18, e fez o serviço. Quando ia voltar, aconteceu o acidente". J. conta que segundo contrato com a Petrobras não pode haver mudança repentina nos vôos, que são marcados com dois dias de antecedência. Mas a estatal também exige que na plataforma esteja um número mínimo de homens de área.

Sindipetro-NF evita tirar conclusões sobre as causas do acidente

Procurado pelo O DIA Online, o diretor de comunicação do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF) Marcus Breda evita tirar conclusões precipitadas sobre as causas do suposto pouso forçado. O sindicato indicou o diretor Valter Oliveira para participar da comissão criada pela Petrobras para investigar as causas do acidente.

"Trabalhamos com as hipóteses de erro humano, mecânico ou de que a causa seria o mau tempo. Ainda não dá para fazer conjecturas sobre as causas do acidente", afirma Breda.

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