Para ex-chefe do BNDES, Fazenda barrou investimentos no setor

Rodrigo Camarão – Jornal do Brasil

A crise aérea é uma tragédia anunciada, causada deliberadamente pelo governo ao cortar investimentos na segurança e não abrir concurso para contratar mais controladores de vôo. A afirmação é do professor emérito da UFRJ e ex-presidente do BNDES Carlos Lessa. Depois de 23 meses no cargo, foi demitido justamente pelas críticas ao modelo econômico adotado pelo presidente que ocupava o Palácio do Planalto há menos de dois anos. Acha que o dinheiro que poderia ser investido no sistema de transportes foi, em última instância, usado para pagar juros.

A prova da desatenção ao setor aéreo, conta ao JB Lessa, foi o episódio da Varig. Quando ocupava a presidência do BNDES, o economista tentou reestruturar o capital da empresa, considerada por ele de importância vital para o país. Conversou com credores nacionais - Banco do Brasil, Infraero – e internacionais - General Eletric - e os convenceu a trocar a dívida por ações, o primeiro passo para poder entrar com a verba do BNDES. O apoio faltou justamente dentro do governo. Precisaria que a Petrobras BR, que fornecia a querosene de aviação, e o Ministério da Fazenda, que tinha créditos previdenciários e fiscais da empresa, aceitassem rolar as dívidas.

- Esbarrei com o não do ministro Antonio Palocci por causa do acordo com o Fundo Monetário Internacional - lembra Lessa. - Qualquer tentativa de rolagem de dívida era considerada gasto. É uma perda de soberania.

Lessa chegou a ser criticado dentro do governo por querer transformar o BNDES num "hospital de empresas relevantes para o país". À época, conta, tentou levar a Varig ao hospital. Em vão. O resultado, observa Lessa, foi a perda de pelo menos 400 pilotos e técnicos dos mais experientes, que trabalham hoje no exterior.

- Desmantelaram uma rede nacional e internacional. É um crime - ataca o ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. - Em 2003 e em 2004 houve cortes de gastos na segurança de vôo e não se fez concurso para contratar controladores de vôo. O então ministro da Defesa José Viegas cansou de avisar isso. A situação só vem se deteriorando desde pelo menos 2003.

Essa crise aérea é uma tragédia anunciada. Trataram amadoristicamente o assunto e a questão foi empurrada com a barriga.

O sistema aéreo de um país é questão de integração nacional, lembra o professor. O medo sentido pelos passageiros - e desde o acidente da TAM, há uma semana, compartilhado também por tripulantes - prova que o governo negou-se a acabar com a crise ainda no nascedouro. Lessa conta que a necessidade o obrigou a controlar o receio de voar.

- Voei tanto que anestesiei o medo. Mas o apagão logístico nos transportes é dramático. Nas estradas, há 55 mil mortes por ano.

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