Documento mostra que o sistema tinha falhas mesmo após normalização

Flávio Freire – O Globo

SÃO PAULO. Relatório apresentado pelo Sindicato dos Trabalhadores de Proteção ao Vôo horas depois da pane elétrica que paralisou o monitoramento do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego (Cindacta-4) revela problemas que põem em risco o sistema aéreo nacional. No documento, obtido pelo GLOBO, os funcionários dizem que não há plano de emergência para corrigir falhas no sistema e que um dos dois geradores de energia elétrica do Cindacta-4 não funciona há cerca de seis meses.

Quanto à possibilidade de o sistema ter sofrido uma sabotagem, funcionários responsáveis pelo controle na Região Amazônica defendem-se, dizendo ainda que o sistema não conseguia sequer ter informações precisas dos vôos, mesmos depois de normalizada a situação.

Num dos trechos do documento, os funcionários informam: "Ao retornar a energia, o sistema de freqüência e o radar permaneciam confusos. A tela do radar apresenta uma aeronave da Aero Mexico, a 015, (voando) de Guarulhos para a Cidade do México, quando na verdade esse avião já estava pousado na cidade do México".

Ao citar o problema ocorrido no espaço aéreo de Belém, quando dois aviões por pouco não colidiram, os funcionários destacam uma das maiores deficiências do setor na região. Contam que o chamado "setor Belém", responsável pelo monitoramento aéreo no Pará, no norte de Tocantins e no noroeste do Maranhão, não tem operadores para atuar em situações de emergência. Desde que incorporaram o "setor Belém", funcionários do Cindacta-4, baseados em Manaus, são responsáveis pela localidade. "O que torna inviável o deslocamento de operadores situados em Manaus para a cidade de Belém em um momento como este".

"Os aparelhos apresentavam características anormais"

No relatório, os funcionários revelam o problema passo a passo. A primeira queda de energia, segundo o documento, ocorreu às 22h20m. O sistema nobreak garantiu o funcionamento de freqüências, radares e outros equipamentos que monitoram o tráfego aéreo. Ainda assim, alguns equipamentos já apresentavam anormalidade:

"Os aparelhos inerentes ao tráfego aéreo apresentavam características anormais. Os consoles (monitores de controle) tinham brilho fraco, e as telas que agregam as freqüências piscavam a todo momento".

A pane total no sistema aconteceu às 23h17m: "Apagaram as luzes, prejudicando a freqüência, monitores, telefone de contato com centros de controle adjacentes, enfim tudo".

Os funcionários dizem que o problema ganhou evidência por causa do despreparo de alguns responsáveis pelo setor. "A grande maioria dos chefes não é habilitada no centro de controle amazônico e muitos deles são aviadores, portanto não tinham condições técnicas para tomarem qualquer atitude".

Em meio à pane, os controladores do "setor Manaus", que engloba Amazonas, Roraima e norte do Mato Grosso, foram levados para uma sala de controle no DTCEA-EG - prédio onde fica a torre de controle. "Essa sala é usada como a última possibilidade de se fazer contato com as aeronaves, pois tem freqüência de maior alcance". No entanto, continua o relato: "Essa sala não reunia condições para se operar, pois o equipamento que se usa para efetuar contato com os pilotos, o chamado código seletivo, estava inoperante".

Em nota, a Aeronáutica informou que "tal falha (falta de energia) não comprometia as operações de controle de tráfego aéreo. Durante um procedimento técnico de manutenção, houve um curto-circuito que acabou por comprometer a alimentação das baterias desse sistema, o que causou a interrupção da distribuição interna de energia comercial, às 23h15m". Segundo a Aeronáutica, as comunicações passaram a ser operadas com equipamentos de comunicação em alta freqüência do centro amazônico, onde as equipes teriam sido reforçadas.

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