Diretor da empresa admite possível problema no sistema de frenagem das rodas
Chico Otavio – O Globo
SÃO PAULO. A convicção exibida até agora por Ruy Amparo, vice-presidente técnico da TAM, para descartar o defeito no reverso direito do Airbus A-320 como causa do acidente em Congonhas – "um dos requisitos para a homologação da aeronave é decolar e pousar sem reverso" – não se repete quando o dirigente é perguntado sobre outro sistema de frenagem do avião. Com o cuidado de evitar especulações antes do resultado da análise das caixas-pretas, Ruy não descartou a possibilidade de um problema no freio das rodas do avião, o mais importante dos três sistemas disponíveis para fazê-lo parar:
- A probabilidade é baixíssima. Mas não impossível.
Para o pouso de aviões modernos, o piloto conta, além do freio nas rodas, com um sistema de freios aerodinâmicos, formado por flaps e spoilers (placas que se abrem nas asas) e os reversores. O vice-presidente da TAM disse que, dos três sistemas, é possível parar um avião que não tenha os reversores ou que apresente problemas no freio aerodinâmico. Ao ser perguntado sobre os freios das rodas, ele diz que, nessa situação hipotética, o caso é diferente:
- Se, por algum motivo, o avião ficasse totalmente sem freio, não pararia no fim da pista - responde.
Semana passada, Ruy Amparo, de 47 anos, interrompeu as férias em Sorocaba, sua cidade natal, para cumprir a mais difícil missão em 18 anos de carreira na TAM: ter respostas convincentes sobre o maior acidente da história da aviação brasileira. Como vice-presidente técnico, coube a ele atender investigadores aéreos, parlamentares, jornalistas e outros interlocutores que procuram entender o que aconteceu com o Airbus A-320 antes de se chocar com o prédio da TAM Express. Amparo, que uma semana depois consegue manter-se calmo, com a voz pausada, tem mantido discurso coerente desde o início da tragédia. Ele garante que o avião tocou na pista de Congonhas em condições perfeitas.
O dirigente só reclamou do excesso de opiniões divulgadas na mídia, muitas delas produzidas por gente estranha ao setor aéreo. Para ele, não adianta buscar uma única resposta:
- Acidente aéreo não é uma coisa só. São fatores sobrepostos.
O freio das rodas é acionado eletronicamente por um sistema chamado autobrake, quando a aeronave toca a pista (para funcionar, é preciso o atrito da roda com a superfície). Comandante da TAM, Bruno Domingues explicou que o autobrake é acionado pelo piloto durante a checagem antes do início da aproximação da pista, quando o avião, no caso de Congonhas, se encontra a dez mil pés de altitude, a uma distância de cinco a dez minutos da cabeceira:
- Outro momento importante, no procedimento de pouso, ocorre a três minutos da chegada à pista, quando o avião baixa o trem de pouso e arma os spoilers, para tirar a sustentação da asa na hora da aterrissagem.
O autobrake, segundo Bruno, tem três posições a serem selecionadas: low, medium e maximum. O manual do avião prevê, para pistas curtas como Congonhas, a posição medium. Ele explicou que só se usa maximum para abortar a decolagem e que uma eventual aquaplanagem pode fazer o avião demorar mais a acionar os freios. Mas se o piloto perceber que o autobrake não funcionou, por não sentir a rotação da roda, pode acionar os freios por pedais na cabine.
- Trabalhamos com a possibilidade de aquaplanagem - disse o piloto, também dirigente da Associação dos Tripulantes da TAM.