Nilson de Souza Zille faz palestra em Brasília nesta quarta. Acidente deixou 12 mortos e 42 feridos; ele estava na cabine e diz que tentou alertar comandante.


Por Letícia Carvalho | G1 DF

Quem tem mais de 40 anos hoje deve se lembrar do acidente com o avião da Varig em 1989. O Boeing 737-200 responsável pelo voo 254 entre São Paulo e Belém caiu no Mato Grosso, após escala em Marabá (PA), matando 12 pessoas e ferindo outros 42, entre passageiros e tripulação.

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Boeing-737-241-PP-VMK da Varig acidentado na Amazônia | Reprodução

O copiloto da aeronave, Nilson de Souza Zille, sobreviveu à queda e estará em Brasília, nesta quarta-feira (9), para uma palestra a estudantes de aviação civil. Em entrevista ao G1, Zille disse que o acidente – ocorrido há 29 anos – “só ocorreu por ignorância e prepotência”.

Zille e o piloto do Boeing, Cezar Augusto Pádula Garcez, foram condenados em 2006 a quatro anos de prisão. No entendimento da Justiça, eles agiram com desatenção. A pena foi convertida em multa e punição alternativa.

Segundo Zille, a palestra não é focada nos detalhes da tragédia, e sim, na necessidade de "reconhecer os próprios erros".

"Estarei à frente de aspirantes a comandantes. Algum dia, eles vão se sentar à esquerda de uma cabine, com o poder da decisão. É importante que eles possam ver que quando alguém aceita o erro pode reverter uma situação", diz.

O comentário é direcionado ao piloto Garcez. De acordo com o copiloto do Boeing, o comandante nunca assumiu publicamente a responsabilidade pelo acidente e, na época, culpou o sistema de controle aéreo brasileiro.

O G1 tentou contato com Garcez desde o início da semana, mas não foi possível localizá-lo. Desde a época do acidente, o comandante do voo deu raras entrevistas à imprensa. Nelas, ele negou responsabilidade sobre a queda e disse que seguiu o plano de voo recebido.

“O Garcez, na época, não assumiu a possibilidade de estar errado. Fomos os oitavos a errar aquela rota. Por que os outros sete conseguiram se encontrar e o 254, sob o comando do Garcez e eu sob o comando dele, não conseguiu se achar?”

Elogios e críticas

Entre o acidente e as primeiras conclusões dos investigadores, Garcez chegou a ser elogiado pela ajuda prestada aos passageiros, e por conseguir aterrissar o Boeing na copa das árvores, com baixa visibilidade.

À medida em que as responsabilidades eram apuradas, no entanto, evidências de erro na pilotagem começaram a aparecer. Os relatórios indicaram que a equipe na cabine pode ter passado informações incorretas ao controle aéreo.

Zille tinha 28 anos à época, e afirma que tentou dissuadir o piloto do erro. O medo, no entanto, o teria "paralisado".

“Ele passou uma informação para o controle de Belém dizendo que teve uma desorientação cartográfica. Quando olhei, vi que não tinha pane nos instrumentos. Tinha acabado de completar 1 ano de Varig. Tive medo.”

A apuração, a cargo da Aeronáutica, concluiu que comandante e copiloto inseriram uma rota no sistema de navegação do avião diferente da real – "270", em vez de "027". O avião voou até acabar o combustível e fez o pouso forçado.

Após a condenação

Na Justiça, os dois tentaram recorrer. O copiloto alegou que não estava no comando da aeronave, que tentou alertar o piloto. Para Zille, a pena aplicada a ambos não poderia ser a mesma. "Maior fiasco que já vi na minha vida", critica.

As justificativas não convenceram, e ele teve de prestar serviço comunitário com adolescentes infratores e pacientes com transtorno mental. Após a tragédia, ele diz que chegou a enviar currículos para outras companhias. Quando descobriam a ligação dele com o voo, relata, "as portas se fechavam".

Hoje, Zille mora em João Pessoa ao lado da família. Em 2015, escreveu o livro “Voo sem volta” – que ainda não foi lançado. Desde o ano passado, percorre o Brasil e outros países ministrando palestras para estudantes de aviação civil.

A palestra do DF será na unidade Guará da faculdade Icesp, às 19h20 desta quarta-feira (9).

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