Patrões e empregados não chegam a acordo sobre reajuste e categoria promete parar dia 22
Mônica Tavares – O Globo
Terminou sem acordo entre patrões e empregados do setor aéreo a reunião de conciliação ontem no Tribunal Superior do Trabalho (TST). Os trabalhadores comunicaram à Justiça que vão parar as atividades em todo o país a partir das 23h da próxima quinta-feira, dia 22. Eles se comprometeram apenas a manter 20% do efetivo trabalhando. As empresas não cederam em sua proposta, de reajuste de 6,17% referente ao INPC dos últimos 12 meses. Aeronautas e aeroviários continuaram recusando a oferta, defendendo aumento mínimo de 7%. A reivindicação inicial era de reajuste entre 10% e 14%.
A Advocacia-Geral da União (AGU), que acompanha as negociações, vai pedir ao Ministério Público do Trabalho (MPT) que entre com um pedido de arbitragem no TST para impor limites à greve no setor aéreo, a fim de evitar "uma situação caótica nesse momento de festividades, em que o transporte aéreo é usado para o encontro das famílias", disse uma fonte.
Sindicalista vê "ganância" de patrões
O representante dos sindicatos nacionais dos aeroviários (terra) e aeronautas (tripulações), Claudio Toledo, afirmou que foi difícil as bases aceitarem 7%, já que os pedidos iniciais variaram de 10% a 14%, segundo a categoria. Os sindicalistas argumentaram que os trabalhadores se esforçaram na conciliação, enquanto os patrões se mantiveram intransigentes.
- A partir das 23h do dia 22 os sindicatos estão notificando o TST de que vão entrar em greve e vão manter 20% do pessoal trabalhando. E que fique registrado - disse o advogado dos trabalhadores Luiz Fernando Aragão.
Outro impasse entre patrões e empregados é o piso salarial da nova função, de operador de equipamentos. Os trabalhadores querem R$1.100, e o sindicato patronal não está disposto a conceder nenhum centavo além de R$1 mil. Até agora, esses empregados eram classificados como auxiliar de
serviços gerais, recebendo em torno de R$800.
A presidente do Sindicato Nacional dos Aeroviários, Selma Balbino, classificou de "pura ganância" a atitude dos patrões ao se negarem a aceitar as duas cláusulas. Ela demonstrou extrema preocupação com a questão do piso salarial dos operadores e disse que eles estão dispostos a fazer greve mesmo sem apoio do sindicato.
A ministra Cristina Peduzzi, que conduziu a reunião, lamentou seu desfecho. E informou que o TST, se provocado pelo MPT ou pelo sindicato patronal, poderá estabelecer condições diferentes para o funcionamento dos aeroportos neste fim de ano:
- A greve não é ilimitada, e o setor não pode paralisar suas atividades.
Para ela, a diferença entre as propostas de patrões e empregadas foi circunstancial, pois a maioria das outras cláusulas foi fechada. O piso salarial, o vale-refeição e a cesta básica terão reajuste de 10%.
- Eu considero uma boa proposta, não são somente cláusulas econômicas. Poderíamos fechar um acordo preliminar, para não haver greve - disse a ministra.
O procurador do MPT Francisco Gerson de Lima apresentou proposta de reajuste de 6,5%. Ele argumentou que nos próximos anos as empresas terão bons ganhos com Copa das Confederações, Copa do Mundo, Olimpíadas e até eleições. E ressaltou que categorias mais simples têm conseguido mais que a variação do INPC.
Já o negociador do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), Odilon Junqueira, ao negar o aumento do piso de operador de equipamentos, disse que este só beneficia empregados terceirizados, porque a maioria deles não é contratada diretamente. E que, dessa forma, eles estariam assumindo a negociação de outras empresas.
Junqueira alegou ainda que as empresas tiveram prejuízo até o terceiro trimestre deste ano por causa da variação do dólar, uma vez que estão pagando aeronaves compradas lá fora, e não poderiam dar nada acima do INPC. E vê dificuldades pela frente:
- No próximo ano, por causa de uma série de obras, os aeroportos ficarão fechados.
A Força Sindical informou que não participou da negociação no TST por não concordar com o formato e que tem reunião com as empresas aéreas hoje, no Rio. Os sindicatos nacionais da categoria são ligados à CUT.
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