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Turistas estrangeiros não têm vez nos sites das empresas aéreas brasileiras

Teste mostra que, no país da Copa de 2014, páginas exigem CPF e até CEP

Rennan Setti - O Globo

Para o americano Giso Broman, a fluência adquirida em mais de uma década estudando o português seria suficiente para conhecer o Brasil sem limitações. Com apenas 17 dias para viajar por aqui, resolveu planejar tudo antes. Passaria por São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. De Winsconsin, estado onde mora, tentou comprar as passagens de avião nos sites das companhias brasileiras. Foi aí que surgiu uma barreira maior do que a língua: não era possível comprar sem CPF.

Broman se deparou com o problema de todos os estrangeiros que tentam viajar pelo Brasil: as companhias aéreas do país que sediará a próxima Copa em 12 cidades, nas cinco regiões, não estão preparados para atender a essa demanda.

É a conclusão de uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Relações com o Cliente (IBRC) a pedido do GLOBO. O levantamento avaliou as páginas de Gol, TAM, Azul, Avianca e Webjet, comparandoas com os sites das estrangeiras LAN Chile, American Airlines, Air Canada, Lufthansa, Air France e South African Airways.

O estudo procurou saber: se as páginas têm opção em inglês; se a navegabilidade é boa; quantos diques e campos de preenchimento são exigidos para comprar um bilhete; se os dados solicitados são adequados; e se há canais de atendimento disponíveis on-line.

De zero a 100, as companhias daqui obtiveram nota 61, na média, enquanto os estrangeiros alcançaram 86. De todas as companhias pesquisadas, a lanterna coube à Webjet (nota 29). Depois vem a Avianca (54). A Azul (71) ficou em nono.

GOL (88) e TAM (83) foram bem avaliadas, mas ficaram atrás das companhias europeias e americanas. Além de exigir CPF, são diversas as dificuldades detectadas.

Alguns sites não têm opção em inglês; exigem muitos diques e campos de preenchimento; pedem dados inadequados para estrangeiros (como CEP); e às vezes só têm um e-mail para atender ao passageiro.

Identificamos um enorme gargalo no setor de turismo brasileiro, que reflete a falta de visão de negócio das empresas.

Imagine se a Copa fosse hoje! afirmou Alexandre Diogo, presidente do IBRC. O estrangeiro fica obrigado a comprar passagens em agências de viagem, que em geral oferecem preços maiores, ou a contar com a boa vontade de algum brasileiro disposto a fazer a compra.

Albergue chega a oferecer serviço para driblar barreira

Foi assim que Broman se virou. Um amigo brasileiro que conheceu em um site usou seu CPF para fazer a compra.

- O que eu faço em menos de meia hora nos sites americanos demorou dias nos do Brasil. Tanta burocracia não faz sentido reclama Broman, que tem 38 anos e enfrentou problema semelhante para comprar tíquetes de ônibus nos sites do país.

No albergue Copa Hostel, em Copacabana, o turista que quer comprar bilhetes brasileiros tem a opção de pagar 10% a mais para usar o cadastro dos funcionários do local.
O israelense Ilan Gurbitz, de 30 anos, viveu os dois lados da moeda. Como estrangeiro, não entende tanta burocracia para comprar passagens aéreas.

Trabalhando no albergue Wave, também em Copacabana, acaba auxiliando os turistas hospedados:

- Depois de não conseguir, a maioria vai para as agências. O diretor comercial da Avianca, Renato Pascowitch, admitiu que o site da companhia tem problemas de navegabilidade e disse que será melhorado em até um ano. Ressaltou, no entanto, que o site exige muitos dados para evitar as frequentes fraudes que costumavam acontecer.

A Webjet informou que está analisando detalhadamente seu site para fazer alterações. A Azul afirmou que, por ter foco no mercado doméstico, ter opção em inglês é um plano para o futuro e disse que trabalha em mudanças na página. A TAM disse que efetuará mudanças no site em dezembro. A Gol informou que mantém dez páginas internacionais e que terá um novo portal.

Enquanto não há solução, turistas como a jornalista argentina Juliana Rodriguez, de 30 anos, continuarão desistindo das empresas brasileiras:

- Em maio, tentei ir para o Brasil pela Webjet e pela Azul, mas não deu. Paguei mais caro pelas Aerolíneas Argentinas. Já para ir do Rio para Salvador, não teve jeito. Tive de me virar e consegui pela Gol.

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