Fabiano Costa - Zero Hora
Medidas urgentes precisam ser tomadas para passageiros não voltarem a conviver com transtornos que marcaram caos aéreo. Sem modal ferroviário e com rodovias esgotadas, o transporte aéreo ganhará importância na Copa do Mundo de 2014 no Brasil.
Campeonato mundial em país de dimensão continental só houve há 16 anos, nos Estados Unidos, quando jogadores e torcedores atravessaram o território americano para acompanhar jogos de seus países. Para 2014, a Fifa já anunciou que pretende concentrar os grupos de seleções em quatro regiões do Brasil para evitar voos acima de duas horas de duração.
Especialistas recomendam medidas urgentes nos aeroportos para o caos aéreo não voltar a transtornar a vida de passageiros. Apesar de a Infraero, estatal responsável pelos aeroportos localizados nas 12 cidades-sedes, prometer investir R$ 6,48 bilhões em modernizações, especialistas em transporte aéreo projetam dificuldades para a estrutura aeroportuária atender ao aumento de demanda do país, quanto mais um evento de escala mundial.
– A Infraero anunciou investimento na parte física, mas não prevê nada em tecnologia – alerta Respicio Espirito Santo Jr., professor de transporte aéreo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), referindo-se a softwares que controlam bagagem ou que definem em que ponte de desembarque cada avião deve estacionar.
O especialista critica a falta de planejamento da estatal ao somente dar a largada nos investimentos motivada por "dois eventos de escala planetária" – a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro:
– Falta preocupação com o nível de serviço, de conforto para o passageiro e de eficiência nos terminais.
Procurada, a Infraero informou que o único executivo credenciado para dar informações sobre os investimentos é o diretor de Engenharia e Meio Ambiente, Jaime Henrique Caldas Parreira, que estava em viagem ao Exterior.
O presidente do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), José Márcio Mollo, diz que "não compartilha do otimismo das autoridades" em relação ao andamento de ampliações de terminais e melhorias nos sistemas de pista:
– Não dá tempo de reformar os aeroportos.
Conforme Mollo, a construção de um terminal consome pelo menos cinco anos. O terceiro terminal de passageiros de Guarulhos, em São Paulo, por exemplo, recém teve homologada a licitação para a elaboração dos projetos de engenharia. O principal aeroporto do país é o mais caótico. Filas costumam se formar nos check-in e nas esteiras de raio X. Nas manhãs de nevoeiro, os equipamentos de navegação, defasados, deixam a pista fechada. A Infraero promete melhorar a estrutura para possibilitar pousos e decolagens mesmo nos dias de denso nevoeiro.
É importante desafogar os aeroportos paulistas porque problemas na operação causam um efeito dominó no país. E não é apenas Guarulhos que está com o cronograma atrasado.
Uma das soluções apontadas pela Infraero para aliviar as operações em horários de pico seria a redistribuição de voos. Conforme a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Congonhas, Guarulhos e Santos Dumont (RJ) têm capacidade limitada para voos nos horários de pico, embora comportem novas operações nos demais períodos.
– Não adianta distribuir voos para horários menos movimentados, porque a maior parte das viagens são a negócio no país – diz Elton Fernandes, professor de produção e transporte da UFRJ.
Entre as cidades-sede da Copa de 2014, apenas Natal terá um novo aeroporto. O primeiro módulo do terminal de São Gonçalo do Amarante deverá ficar pronto em 2013.
Em Brasília, filas seguem para fora do terminal
Um dos dois principais pontos de conexão para outras regiões do país, o aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília, dá sinais de esgotamento. O terminal tem problemas crônicos de estrutura, tanto na área de circulação de aeronaves quanto no fluxo de passageiros. Nos horários de maior movimento, as filas tomam conta de todos os espaços, chegando a ficar do lado de fora do terminal.
Não é por menos. Com capacidade para 10 milhões de passageiros, o terminal da capital federal recebeu 12,2 milhões de pessoas em 2009.
– O movimento cresceu e a capacidade do aeroporto ficou para trás. O maior gargalo é o fluxo de tratamento de passageiros – alerta Adir Silva, professor do Centro Interdisciplinar de Estudos em Transportes da Universidade de Brasília.
No aeroporto de Confins, em Belo Horizonte, também há aglomerações de viajantes em determinados horários. Por isso, a Infraero pretende modernizar o terminal de passageiros.
Próximo a Curitiba, o aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais, encontra-se no limite da capacidade. A construção da terceira pista se arrasta desde 1999. Situado em área de formação de nevoeiros, seria necessária a instalação do ILS-3 (equipamento que permite a operações mesmo em condições climáticas adversas).