Achei que já tinha visto ou lido muita coisa bizarra nesses meus anos de viajante frequente. A maioria, quase sempre, guarda relação com o comportamento de muitos passageiros, ou pouco habituados à convivência forçada a bordo – que exige regras de conduta mais específicas – ou habituados demais a superar o medo de voar pela ingestão de álcool e tranquilizantes. Mas o que aconteceu nesse caso que conto abaixo nunca tinha acompanhado em lugar algum.
O voo 887, entre Rochester (NY) e Atlanta, no início da semana, seria mais uma entre centenas de operações realizadas por companhias menores para as bandeiras principais. No caso, o equipamento e a tripulação pertenciam à Pinnacle Airlines, uma empresa regional baseada em Memphis, Tenessee, operando para a Delta Airlines.
Tudo parecia correr bem no embarque, quando uma forte discussão começou a ser ouvida na cabine. Os passageiros se entreolharam procurando a origem até verem que duas das comissárias de bordo estavam brigando, trocando insultos e palavrões, junto à cabine de comando. Incrédulos, continuaram assistindo o desenrolar da cena. A companhia confirma o desentendimento, mas dá uma versão um pouco diferente para o seu desfecho da relatada por quem aguardava já com os cintos de segurança afivelados.
De acordo com vários relatos, as duas jovens, não contentes em atrasar o início da operação de decolagem – o finger já havia sido retirado e a ordem de colocar as portas em automático passada pelo cockpit – acabaram indo às vias de fato. Pode parecer incrível, mas a pequena galley da aeronave subitamente se transformou em um ringue de valetudo, com socos, tapas, pontapés, puxões de cabelo e muita gritaria. Isso tudo diante de quase cem atônitos passageiros.
Alertado provavelmente pelos gritos, pelo barulho dos objetos que caiam das prateleiras da cozinha e pela câmera de tevê que quase todos os jatos lá possuem, vigiando quem está na porta, o comandante interrompeu o pugilato e tomou a decisão, a meu ver, mais errada.
O piloto, no lugar de ordenar o desembarque das lutadoras – cujos nomes não foram divulgados – optou por suspender a decolagem e determinar que todo mundo desembarcasse com os seus pertences. O espanto, que a essa altura era enorme, virou revolta diante da decisão.
O clima em Rochester estava ruim, com a pressão atmosférica caindo rapidamente e uma nevasca se aproximando. Quem não voou naquele momento foi muito prejudicado: a turma só pode decolar no dia seguinte.
"Os outros comissários nos avisaram que tínhamos de descer porque as duas colegas estavam saindo no tapa na frente da cabine", contou a passageira Corey Minor. "Elas trocaram chutes e o piloto nos chutou de dentro do jato", emendou outro, Steve Mazur.
Um porta-voz da Pinnacle disse que a discussão começou quando a partida teve de ser adiada a pedido de um passageiro que se sentiu mal. E garantiu não ter havido "contato físico". As duas comissárias briguentas foram suspensas.
Jamais tinha ouvido ou presenciado nada parecido. Mas, a parte o aspecto curioso, é preciso considerar o nível de estresse que a profissão de comissário normalmente exige.
Se aqui já se pena com problemas como a chuva, imaginem o atraso de uma decolagem na última janela de teto antes de uma nevasca?
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