DENYSE GODOY
Enviada especial da Folha de S.Paulo a Washington

A NTSB (National Transportation Safety Board) já terminou de extrair as informações das caixas-pretas do Airbus A-320 da TAM que podem contribuir para elucidar as causas do acidente, segundo os deputados Marco Maia (PT-RS), relator da CPI do Apagão Aéreo, e Efraim Filho (DEM-PB).

"Os trabalhos estão muito avançados e se encaminham para o final", disse Maia. Os parlamentares estão em Washington acompanhando a análise e prevêem que até o fim desta semana os dados sejam enviados ao Brasil. No país, integrarão apuração sobre as causas do acidente.

Tanto a caixa-preta que grava as conversas no interior da cabine da aeronave quanto a que contém dados do vôo --como altitude e duração-- estavam em perfeitas condições. Finda a fase de extração das informações --não todas, mas as que interessam--, os técnicos da NTSB passarão à padronização e à sincronização dos dados dos dois equipamentos. No Brasil, deve ser montada, a partir dessas informações, a reconstituição do acidente.

Ontem pela manhã, Efraim chegou a afirmar por telefone a algumas rádios e sites brasileiros que as primeiras análises da caixa-preta mostravam que o piloto do Airbus não tinha tentado arremeter. Entretanto, posteriormente, ele recuou e tentou se explicar melhor.

"O que eu disse é que a perícia da pista de Congonhas indicava que o piloto não teve condições, velocidade, para arremeter. Isso é o que se pode concluir a partir da trajetória da aeronave", disse em Washington. "Ou seja, a hipótese de que a ausência de "grooving" [ranhuras que ajudam na aderência à pista] pode ter colaborado para o acidente não foi afastada." Ao seu lado, Maia preferiu adotar um tom mais cauteloso: "É cedo para falar qualquer coisa".

Efraim e Maia terão acesso aos laboratórios da NTSB na manhã de hoje. Eles esclarecem que o objetivo é assegurar que as informações cheguem rapidamente à CPI. O relatório final da NTSB pode levar mais de um ano para ficar pronto.

Os parlamentares explicaram que todas as informações que obtiveram foram fornecidas pela Aeronáutica --dois técnicos da FAB (Força Aérea Brasileira) estão trabalhando com os da agência na análise do material, serviço também acompanhado por um engenheiro e um piloto da TAM.

Segundo Maia, uma das hipóteses aventadas é que tenha havido falha nos computadores do Airbus. "É um avião muito moderno, com muitos comandos controlados por computador. Há relatos de acidentes anteriores nos quais houve falha do sistema em reconhecer uma manobra ou uma mudança de comando feita pelo piloto", comentou, lembrando uma colisão em 1988, na França, com um A-320 da Air France.

Em nota, a FAB negou as informações dos parlamentares. Notícias sobre procedimentos atribuídos aos pilotos ou dados consolidados "não têm qualquer embasamento técnico".

Informou ainda que não repassou dados das caixas-pretas a pessoas que não façam parte da investigação.

Com Folha de S.Paulo em Brasília

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