Apesar do cenário de dificuldade, companhia eleva número de vôos para Rio e SP.
Vera Saavedra Durão, do Rio
Índia e Brasil são as apostas de expansão da British Airways na atual crise financeira internacional, com ameaça de recessão, informou ao Valor o vice-presidente executivo da companhia para as Américas, Simon Talling-Smith. Segundo ele, em outros países onde atua a companhia tem optado por manter seus vôos, caso dos Estados Unidos. Mas, algumas rotas específicas já sofreram impacto, como a no Japão, onde a British cortou uma das duas freqüências diárias da rota Tóquio/ Londres.
Talling-Smith chegou ontem ao Rio para inaugurar três vôos semanais do Aeroporto Tom Jobim para Londres e anunciar vôos diários de São Paulo para Buenos Aires. "O Brasil tem hoje a maior taxa de crescimento de toda a malha aérea da British, passando de 7 para 10 vôos, um aumento de 40%". Os planos da empresa para o país, cuja economia tem "uma tendência para cima", é de crescimento gradual e contínuo conforme a expansão econômica local. "Vamos tomar cuidado para crescer de acordo com a capacidade da demanda local, sem ter que refazer estratégias."
Com 17 anos de trabalho na British Airways, Talling-Smith, que já exerceu várias posições de chefia na companhia, foi promovido em agosto para o cargo de vice-presidente das Américas, região que abarca países do Canadá ao Uruguai e responde por 20% da receita da empresa aérea, de cerca de US$ 12 bilhões no final de 2007. O executivo admite que a turbulência da economia americana torna sua nova posição um desafio. Mas está otimista, pois crê que é nas crises que as empresas fortes têm chances de se destacar. Ele reconhece que "o cenário é de dificuldade".
A British, uma empresa global, já tem sentido o gosto da recessão, pois é grande sua dependência do tráfego aéreo do Atlântico Norte. Ela é a companhia aérea que tem mais vôos para os Estados Unidos, somando 19 rotas. A rota Londres-Nova York, com 11 vôos diários, é a que gera maior volume de dinheiro para a British por causa do movimento de negócios entre a City e Wall Street. Até agora, não houve cortes de vôos entre Londres e Nova York, mas Talling-Smith informou que está sendo feita substituição de equipamento, ou seja, substituíram aviões do tipo Jumbo por Boeings 777, de menor porte. Também a receita da British Americas está abaixo do previsto no orçamento de 2008.
"Ninguém sabe se estamos na ponta do precipício, se atingimos o fundo do poço ou se estamos no meio do caminho". Por isso, reconhece que a British está focando o potencial de negócios nos BRICs, com destaque para Brasil e Índia, mas não tomou atitudes severas em relação ao mercado americano.
Segundo seu relato, a situação do setor aéreo global ainda não está muito ruim, mas a tendência é piorar em função do mercado financeiro que vem congelando o crédito. A aviação comercial já estava um pouco retraída no início do ano, quando a British inaugurou o Terminal 5, no aeroporto de Londres, um investimento de 4,3 bilhões de libras. Mas, a partir de setembro começou a desacelerar com mais velocidade.
"A crise tem seu próprio timing. Ela afeta primeiro os bancos, depois as empresas por causa do dinheiro escasso e custo mais alto impactando novos projetos e, por último, atinge o consumidor. As pessoas começam a reduzir seus gastos por medo do desemprego e isto afeta diretamente o nosso negócio", constatou.
Por esta razão, a companhia britânica traçou seu plano para enfrentar a recessão global, que já chegou ao Reino Unido. Ela tem 43 mil empregados, 36 mil no Reino Unido e está implementando um plano de demissão voluntária, que prevê a saída de um terço de seus diretores até o final do ano. Até agora saíram 450. Também programa a redução de investimentos não prioritários. E pretende manter sua frota de 243 aeronaves inalterada (45% para vôos de longo curso). O que vai levá-la a substituir as velhas máquinas por novas recentemente encomendadas. A meta é economizar combustível. A redução do preço do petróleo já ajudou.
Talling-Smith acha que a crise poderá fortalecer a consolidação do setor e levar ao desaparecimento de umas 40 companhias aéreas. A maioria das "condenadas" seriam novas empresas e companhias de nicho e as que precisam de alto nível de ocupação. Neste movimento de consolidação, a British vai ser consolidadora. Ela já está fazendo fusão com a espanhola Ibéria que deve estar concluída em 2009. E acaba de fechar um acordo de cooperação com a American Air Lines que inclui também a Ibéria. A parceria tem milhagem em comum e planejamento de malhas aéreas conjuntas.