Possibilidade de retomar exigência de visto de entrada dos turistas brasileiros, no entanto, ainda não foi descartada

Decisão foi tomada em reunião tensa de oito horas de duração realizada no Itamaraty, em Brasília, na segunda-feira



IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após oito horas de tensa reunião no Itamaraty, o Reino Unido desistiu de instalar inspetores no Aeroporto internacional de Guarulhos, mas manteve a possibilidade de retomar a cobrança de vistos para turistas brasileiros. A solução negociada com o governo brasileiro foi a criação de uma comissão bilateral para avaliar a imigração a cada seis meses.

Na mesma reunião, ocorrida na segunda em Brasília, ficou acertado que policiais e agentes de inteligência dos dois países vão compartilhar informações, além de realizar investigações para deter as máfias que aliciam brasileiros e exploram mulheres apreendendo seus passaportes na Inglaterra.

Outro avanço foi a retirada do Brasil da "Visa Waiver Test", lista de países sob vigilância pelo elevado número de imigrante ilegais. Fazer parte dessa relação significava que, se o Brasil não cumprisse exigências britânicas, como a instalação do "oficial de ligação" no Aeroporto, o visto de turistas voltaria a ser cobrado em seis meses.

O Brasil estava na lista com Botswana e Bolívia, o que demonstraria falta de critério dos britânicos, para o Itamaraty.

"Começamos a reunião dizendo que não admitíamos discutir nada estando numa lista de estágio probatório. Eles aceitaram e fomos em frente", contou o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Barreto, ontem.

Durante as oito horas de reunião, a delegação do Reino Unido insistiu três vezes em colocar um inspetor no Aeroporto de Guarulhos. Este funcionário britânico orientaria as empresas aéreas sobre o embarque de passageiros para a ilha.

"Dissemos que o presidente Lula não admitia colocar um funcionário estrangeiro decidindo quem embarca. Qual o critério que seria usado? Discriminação? A roupa? Eles se surpreenderam muito com a reação do governo, acho que sentiram o tamanho da bronca brasileira", relatou Barreto.

O acordo de segunda-feira interrompe um ciclo de pressões dos ingleses sobre a imigração ilegal de brasileiros.

A Folha revelou em julho que o governo britânico estudava retomar o visto para turistas. Em agosto, o governo do primeiro-ministro Gordon Brown enviou carta ao Itamaraty informando que o Brasil fora incluído na "Visa Waiver Test" e os vistos voltariam em seis meses, caso não fosse cumprida uma série de exigências.

Em conversa com jornalistas em Nova York, o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) não disse que estava tudo 100%, apenas que havia "conversas positivas" para que os brasileiros não precisassem ter visto para entrar no Reino Unido. "Entendo que, na prática, o Brasil foi retirado de uma vala comum onde estavam os outros países", afirmou Amorim.

Segundo Barreto, os britânicos desistiram de cobrar visto de turismo - ele é necessário para estudar ou trabalhar no Reino Unido. A embaixada britânica em Brasília, porém, não confirmou a informação e reiterou que a retomada do visto não está descartada.

A Folha apurou que a criação da comissão bilateral de alto nível serve como uma espécie de transição para um novo modelo de relacionamento entre o Brasil e o Reino Unido.

Os britânicos consideram um problema o grande número de brasileiros que entram ilegalmente no país; o governo brasileiro concorda.

Colaborou DANIEL BERGAMASCO, de Nova York

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