José Sergio Osse, de São Paulo
Os próximos vinte anos vão firmar o Brasil como principal mercado de aviação da América Latina. Até 2027, o país deve adquirir 560 novos aviões, com valor total estimado em US$ 50 bilhões. Isso representa um terço da demanda total na região em unidades e 35% da previsão de vendas em valores, segundo projeções da fabricante americana Boeing.
O segundo maior mercado da região, o México, deve receber 460 aviões (27%), com valor total de US$ 29 bilhões (21%). O restante será dividido entre os outros países latino-americanos.
Para a empresa, o complicado cenário econômico atual deve ter pouco impacto na projeção de longo prazo para a América Latina - e para o Brasil. A Boeing aposta que, nos próximos vinte anos, regiões emergentes continuarão a apresentar taxas de crescimento econômico mais acelerado que a média mundial. "E crescimento econômico leva a um maior tráfego de passageiros que, por sua vez, puxa a demanda por aeronaves novas", diz o diretor de marketing para as Américas da Boeing Aviões Comerciais, Michael Barnett.
Pelas contas da Boeing, o Produto Interno Bruto (PIB) da região deve crescer, anualmente, a uma taxa de 4% até 2027, enquanto o tráfego aéreo deve aumentar 6,7% ao ano no mesmo período. As médias mundiais anuais previstas para esse intervalo, segundo a fabricante, são de 3,2% e 5%, respectivamente.
Segundo Barnett, a empresa foi obrigada a rever suas previsões por tipo de equipamentos, com base nas tendências demonstradas tanto por companhias aéreas como pela mudança na realidade da indústria como um todo. Os altos preços do petróleo e a crise no setor aéreo nos EUA, em combinação com a turbulência financeira atual, levaram muitas companhias a redimensionarem seus planos de frota. Dessa forma, a companhia vê um mercado cada vez menor para aeronaves regionais, de menos de 90 assentos.
"Tivemos que modificar nossa expectativa seguindo a tendência do mercado, que mostra que os operadores estão buscando aeronaves maiores, com melhor relação de custo por passageiro", explica.
"No Brasil, TAM e Gol são prova dessa tendência, a primeira trocando seus Fokker F-100 por A320s (da concorrente Airbus) e a outra substituindo seus 737-300s por 737-800s", acrescenta.
"Não sabemos quem ficará com o segmento de aviões regionais, pois acreditamos que irá minguar muito. Eles não terão mais muito espaço, por conta dos altos preços dos combustíveis e do tipo de mecânica econômica que irá dominar a indústria", afirma.
Na avaliação da Boeing, o mercado de aviões de corredor único, entre 90 e 200 assentos, será o mais importante na América Latina e Brasil nos próximos 20 anos. No total, 79% dos 1,7 mil novos aviões que o continente demandará até 2027 serão de corredor único. No Brasil, 84% das aeronaves serão dessa categoria, que inclui os modelos EMB 190 e EMB 195, da Embraer. Esses cerca de 470 aviões terão valor conjunto de US$ 35,5 bilhões, segundo a Boeing. Em comparação, a expectativa da empresa é que os aviões regionais na América Latina representem apenas 6% da demanda em unidades e 3% do valor dos pedidos até 2027.
O executivo, que prefere não projetar qual será a fatia desse mercado que caberá à fabricante, afirma porém que, no Brasil, atualmente apenas uma empresa - a TAM - opera aeronaves da arqui-rival Airbus e que, por enquanto, nenhuma utiliza equipamentos da Embraer. A primeira a fazer isso, a Azul, deve iniciar suas operações apenas no ano que vem. Essa predominância no mercado nacional, portanto, é considerada por Barnett como um ponto positivo para a Boeing que, segundo ele, "detém o melhor portfólio de produtos para esse mercado" entre as fabricantes.
Embora reconheça que, no curto prazo, por conta da crise financeira, a expansão do PIB e a demanda por aeronaves deverão ser reduzidas, ele acredita que num horizonte de 20 anos esses problemas devem ser diluídos. "O Brasil foi um dos países que recebeu maior volume de investimentos estrangeiros no ano passado e não vejo nada capaz de afetar essa tendência de expansão do mercado local no futuro", afirma o executivo.