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Relatórios apontam falhas no sistema de tráfego aéreo de Brasília

O G1 teve acesso aos "relatórios de perigo" do Cindacta-1. Sistema mostra altitude incorreta de vôos e até multiplicação de aviões no radar.

Leandro Colon
Do G1, em Brasília

Aviões somem, multiplicam-se ou mudam inesperadamente de altitude no sistema de controle de tráfego aéreo de Brasília, apontam documentos deste ano do Centro de Controle Aéreo de Brasília (Cindacta-1), obtidos com exclusividade pelo G1.

Em um deles, o controlador relata que, no dia 13 de março deste ano, às 22h42, todos os aviões sumiram da tela do computador. "Todas as aeronaves dos setores mudaram o símbolo de bola para asterisco durante alguns segundos. Tal símbolo (asterisco) representa que o sistema deixou de receber o (s) alvo (s)." O relatório acrescenta que a mesma falha ocorrera uma semana antes, durante o turno da tarde.

A Aeronáutica informou que as situações relatadas, caso façam parte de relatórios que tenham tramitado pelos canais competentes, terão o tratamento adequado de acordo com o preconizado pelas normas do sistema de prevenção. Leia o comunicado no fim desta reportagem.

De acordo com controladores ouvidos pelo G1 na condição de anonimato, o alvo é o avião, e o símbolo "bola" é o ponto exato de sua localização. O asterisco aparece quando um dos radares pára de funcionar e não é possível saber a posição das aeronaves.

Nesse caso, consulta-se a ficha de progressão de vôo, que mostra o número do vôo e seu plano original de viagem.

Esse é um exemplo dos chamados "relatórios de perigo" - descrição dos casos graves que são encaminhados para o Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Sipaer).

Segundo esse órgão, os relatórios têm como finalidade "aumentar a segurança de vôo e devem ser baseados em fatos ou experiências pessoais", e "não precisam ser assinados" pelo controlador. Alguns, porém, são assinados, para que o controlador seja "informado sobre as medidas adotadas".

A reportagem localizou alguns desses controladores, mas eles não quiseram se manifestar por medo de punição.

Falsa altitude

O sistema de controle de vôo atualiza a altitude do avião de acordo com a comunicação entre piloto e controlador. Mas muitas vezes a altitude é alterada automaticamente pelo computador, sem que a aeronave tenha alterado a rota.

Esse caso é relatado no dia 27 de fevereiro: "Isso vem ocorrendo todos os dias em todos os turnos".

Multiplicação de aviões e falha de comunicação

Em 13 de março, um controlador reclama das "inúmeras multiplicações" de um avião na tela. Essa falha ocorre quando dois radares se sobrepõem na mesma região e informam posições diferentes para a mesma aeronave.

Se a solução pode ser a comunicação com o piloto, esse mecanismo nem sempre funciona. Dois relatórios descrevem problemas ocorridos na noite do último dia 3. Segundo um deles, o vôo 3845 da TAM saiu de Brasília e não conseguia contato com a torre para pousar em Confins (MG), por causa de uma interferência de telefone celular. E acrescenta que o problema tem sido "comum" ultimamente.

O outro reclama de "eco" na freqüência, que teria impedido o controlador de entender a altitude do avião. O piloto informou a posição "380" (38 mil pés), o 3 ecoou e "abafou" o 8, dando a interpretação de que a aeronave estava na posição "330", ou 33 mil pés.

Esse caso teria acontecido em três vôos da TAM: 3845 (Brasilia-Confins), 3519 (Brasilia-Vitória) e 8006 (Salvador-Guarulhos-Buenos Aires). Procurada pelo G1, a empresa informou que não foi informada e nem tem registro desses problemas.

Operação-padrão para vôo internacional

Em documento entregue em 2 de fevereiro, um controlador questiona determinação do integrante da Aeronáutica, coronel Guilherme Francisco de Freitas Lopes, chefe do Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea (CGNA), feita por fax em 29 de novembro de 2006, que proíbe qualquer controle de fluxo (operação-padrão) para vôos internacionais.

A operação-padrão é o aumento do período de tempo de pouso ou decolagem entre uma aeronave e outra.

"Deixando de aplicar tais restrições aos vôos internacionais, ocorrerá que algum setor poderá ter sua capacidade ultrapassada, gerando sobrecarga de trabalho na equipe, que resulta em serviço ineficiente e principalmente inseguro para os usuários", afirma o controlador. O G1 apurou que, mesmo contrariados, a maioria dos controladores respeita a ordem.

Palavra da Aeronáutica

Procurada pela reportagem, a Aeronáutica divulgou o seguinte comunidado:

"Prezado jornalista

Em atenção às questões levantadas a respeito de relatórios que teriam origem no Cindacta-1, este Centro informa que:

. O relatório de perigo (RELPER) é uma importante ferramenta de prevenção, pois permite que qualquer pessoa faça um reporte sobre situações que tenham sido observadas ou conhecidas.

· O relatório é encaminhado de maneira sistêmica ao setor responsável pela atividade em que foi detectada a condição especial, para que a situação seja analisada e medidas corretivas sejam adotadas, caso seja necessário, sempre com o objetivo maior de aumentar o nível de segurança nas atividades desenvolvidas.

· As situações relatadas, caso façam parte de relatórios que tenham tramitado pelos canais competentes, terão o tratamento adequado de acordo com o preconizado pelas normas do sistema de prevenção.

Com relação ao Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea (CGNA), o mesmo é o responsável pelo planejamento e aplicação das medidas de gerenciamento de fluxo de tráfego aéreo em determinadas porções do espaço aéreo. Mediante o recebimento das informações oriundas do sistema e em colaboração com os usuários (companhias aéreas, ANAC e Infraero), determina um padrão operacional a ser praticado que pode englobar ou não aeronaves em vôos internacionais.

Centro de Comunicação Social da Aeronáutica - CECOMSAER"

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