Projeto prevê substituição de controladores de vôo, em caso de prisões por novo motim, por outros que estiverem fora da escala
Na avaliação do governo, haveria lentidão, mas os aeroportos do país não ficariam todos fechados, como na última sexta
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA - FOLHA DE SÃO PAULO
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
A Aeronáutica comunicou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que tem preparado um "plano B" caso haja novo motim de controladores de vôo militares. A intenção é isolar e prender os eventuais líderes do movimento e convocar os que não estiverem na escala de plantão.
Nas palavras de um ministro, "o governo e a Aeronáutica aprenderam com o motim de sexta", mas na FAB o que oficiais alegam é que o governo só perdeu o controle da situação na sexta-feira, dia do maior apagão aéreo da história brasileira, porque Lula impediu que o comandante Juniti Saito agisse, prendendo os grevistas.
Lula tomou a decisão de não prender os controladores devido à avaliação do "gabinete de crise", atribuída também ao próprio comandante Saito, de que o governo não tinha substitutos para os amotinados. E, portanto, a prisão dos amotinados só pioraria a crise. O governo reconhece ter sido pego de surpresa.
O presidente e seus principais auxiliares continuam a avaliar que agiram acertadamente na sexta por falta de alternativa, embora se calem sobre a inação durante os seis meses de crise aérea que desembocaram nos últimos eventos.
Agora, acreditam ter um plano. Entre 50 e 100 homens da Aeronáutica podem ser deslocados para operar o tráfego em novo pico de crise. Certamente haveria lentidão, mas os aeroportos do país não ficariam todos fechados, como aconteceu na sexta.
Conforme a Folha apurou, o "plano B" parte do pressuposto de que os aeroportos foram parados na sexta apenas pelos controladores de plantão, que, por exemplo, seriam apenas 18 no Cindacta-1, de Brasília. Os demais não podem ser considerados grevistas.
À Folha, o comandante Saito negou que o governo esteja recrutando controladores estrangeiros para o caso de emergência. Acrescentou que também não pretende fazê-lo.
Depois de ceder aos controladores e recuar, o governo disse ontem aos representantes dos controladores que a continuidade da negociação dependeria da normalização do controle de tráfego aéreo. A Páscoa será uma espécie de teste.
Crime de motim
O crime de motim é punido pelo Código Penal Militar com 4 a 8 anos de prisão, com 50% a mais de pena para os líderes -6 a 12 anos. Além disso, os condenados seriam banidos do serviço público.
A primeira providência da Aeronáutica está sendo mapear o grau de envolvimento de cada um dos cerca de 2.000 controladores militares com o movimento deflagrado na sexta.
Na avaliação interna, o núcleo dos grevistas é pequeno, já está identificado e é considerado "caso perdido". Se houver nova greve, a ordem será mandar prendê-los em flagrante, sob acusação de crime de acordo com o Código Penal Militar.
O restante tem diferentes graus de envolvimento, e há um trabalho para convencer todos a desistir de nova paralisação.
Isolados os líderes, a FAB avalia que terá condições de saber quantos homens terá de repor. Caso haja uma adesão maciça, no entanto, a Aeronáutica não terá como repor rapidamente pessoal para garantir o fluxo de aeronaves.