ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, disse ontem em discurso para o público interno da Força Aérea que "não há qualquer espaço para tergiversar sobre a hierarquia e a disciplina". Depois, em entrevista, após evento no Palácio do Planalto, disse que a crise aérea "está superada" e que "a Páscoa vai ser tranqüila" nos aeroportos brasileiros.
A primeira manifestação de Saito sobre a crise ontem foi durante a posse do brigadeiro José Américo do Santos na chefia do Estado-Maior da Aeronáutica, na Base Aérea de Brasília. Compareceram oficiais da ativa e da reserva e a cerimônia foi transformada indiretamente numa demonstração de coesão e ato de apoio ao comandante e à Força Aérea.
Ele foi longamente aplaudido, principalmente quando defendeu a "estrita observância dos princípios basilares da hierarquia e disciplina, sobre os quais não há qualquer espaço para tergiversar".
O discurso foi considerado um recado para o público interno, ou seja, para os oficiais que estavam irritados com a decisão do presidente Lula de atropelar a Aeronáutica e ceder às reivindicações dos sargentos controladores de vôo, que se amotinaram e tinham vencido a primeira batalha.
Em outro trecho, o discurso foi um recado, também, para os sargentos controladores que aderiram à greve na sexta-feira, mas não são da linha de frente nem têm compromisso com o movimento. A expectativa da Aeronáutica é que, agora, com a instalação de inquéritos pelo Ministério Público Militar, eles revejam a posição original.
"Estes preceitos [hierarquia e disciplina] são definidos, de forma clara e precisa, na lei maior, no artigo 132 da Constituição Federal, a quem, nós, os militares, que escolhemos seguir a profissão das armas por livre e espontânea opção, juramos respeitar e fazer cumprir."
À tarde, Saito participou, ao lado do presidente Lula, do vice-presidente José Alencar e dos comandantes do Exército, general Enzo Martins Peri, e da Marinha, almirante Julio Soares de Moura Neto, de cerimônia de promoção de oficiais-generais, no Palácio do Planalto. No final, perseguido por jornalistas, acabou dando uma entrevista lacônica e mostrou desconforto com a crise aérea.
Apesar da ordem clara do governo na sexta para que os amotinados não fossem punidos, contrariando frontalmente sua ordem pessoal para que fossem presos, Saito disse que não se sentiu desautorizado por Lula. Segundo o comandante, o tema agora está restringido à investigação da Promotoria Militar.