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Radares em baixa potência para economizar

Pedro Paulo Rezende
Do Correio Braziliense

Os radares e sistemas de comunicação dos Centros Integrados de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo estão operando abaixo de sua potência como forma de aumentar a vida útil dos equipamentos. A denúncia, feita por dois controladores de vôo, foi confirmada por técnicos em eletrônica da Aeronáutica e explicaria a permanência de “buracos negros” de comunicação na Amazônia, mesmo depois de pesados investimentos em infra-estrutura. Segundo um dos técnicos, “os equipamentos funcionam com cerca de 60% de sua potência total e só operam a plena carga quando aferidos por aviões-laboratório”.

Aeronáutica registra 22 riscos de colisão até julho

A vida útil de um aparelho de radar é de apenas 10 anos. Usado a 60% da carga, ela se amplia em cinco anos. O mesmo acontece com os sistemas de comunicação. Apesar disso, segundo o relatório preliminar de investigação, o procedimento não influiu no acidente do dia 29 de setembro, que envolveu o vôo Gol 1907 e o Embraer Legacy N600LX, da ExcellAire. As condições de rádio eram normais na região, como comprovam as conversas entre o 1º Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta 1) e outras aeronaves que se encontravam na área.

As duas aeronaves colidiram, causando a morte dos 154 ocupantes do aparelho comercial. No momento do choque, o transponder do avião executivo, tripulado pelos pilotos Joseph Lepore e Jan Paladino, estava inoperante, travando as freqüências de comunicação e impedindo o funcionamento do TCASS (sistema anticolisão). Apesar de danificado, o Lagacy conseguiu pousar na Base Aérea de Cachimbo.

No dia do acidente, os pilotos do Legacy fizeram 12 tentativas de contato com o Cindacta 1. O controle do tráfego aéreo, por sua vez, chamou o jato executivo sete vezes, sem qualquer sucesso, a última delas em freqüência aberta, pedindo ajuda a outros aviões que estivessem na área.

Relatos

“Apesar da criação do Cindacta 5 (Manaus), tenho recebido muitos relatos de problemas de comunicação na Região Norte”, disse o diretor de Segurança de Vôo do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), Carlos Camacho.

“Elas se concentram na rota Brasília-Manaus, Brasília-Belém, entre o Pará e a Guiana Francesa e acima de Manaus, nas proximidades com a fronteira da Venezuela. Os buracos negros de comunicação ainda existem. Só neste ano, recebi mais de 20 denúncias nesse sentido.”

Segundo ele, a floresta amazônica absorve boa parte das ondas de rádio. “As árvores não refletem as ondas de rádio e isso, por si só, já dificulta a comunicação. Se os equipamentos não estiverem operando a plena carga, isso torna a situação ainda mais grave”, comentou o especialista.

Para economizar, além de operar equipamentos a meia carga, a Aeronáutica adiou concursos para contratação de novos controladores de vôo e reduziu os investimentos para cursos de reciclagem e aprimoramento de pessoal.

Segundo um controlador, “chegamos a ponto de ministrar cursos de aperfeiçoamento em outra localidade com apenas meia-diária para despesas de viagem, hospedagem, alimentação e transporte. Muitas vezes só recebemos o que nos é devido na fase final de curso. Bancamos do próprio bolso e nos endividamos. O pior de tudo é que, se quisermos receber o que nos é devido, somos obrigados a recorrer à Justiça comum. E ainda temos de conviver com as ameaças de punições.”

Desavenças

Para um especialista em segurança de vôo, novas denúncias deverão surgir nos próximos dias. “O acidente do vôo 1907 colocou o Comando da Aeronáutica contra os controladores de vôo. Virou briga de cachorro grande contra cachorro pequeno. Só que o cachorro pequeno está mordendo o calcanhar de Aquiles do grande, expondo mazelas que eram conhecidas dos aeronautas, mas que não chegavam ao público.”

Outro especialista alerta para um novo risco: “Em virtude dos atrasos causados pela operação-padrão dos controladores, as tripulações estão cumprindo jornadas de trabalho que ultrapassam o máximo permitido legalmente. Já soube de casos escabrosos, como uma tripulação que cumpriu 19 horas numa viagem entre São Paulo e Rio Branco, capital do Acre. Isso pode afetar a segurança de vôo num prazo relativamente curto, trazendo mais perigos aos passageiros. Agora, além dos controladores estarem operando no limite, as tripulações estão cumprindo jornadas absurdas.”

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