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Sob pressão, empresas aéreas desistem de guerra de preços e reajustam tarifas

De acordo com as companhias, os reajustes são necessários para repassar aumentos de custos provocados pela variação cambial

DANIELA AMORIM, ALEXANDRE RODRIGUES / RIO - O Estado de S.Paulo 

As companhias aéreas, que iniciaram em setembro um processo de recuperação de margem de lucro detectado pelo acompanhamento de preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pretendem manter pelo menos até o fim do ano um gradual aumento de tarifas. Com isso, invertem o cenário de guerra tarifária que marcou 2010 e o primeiro semestre deste ano.

TAM e Gol confirmam que os reajustes atendem à necessidade de repassar aumentos de custos, como o de combustíveis. O querosene de aviação (QAV), que responde por um terço do total de custos das companhias, acumula alta de 26,23% de 1.º de janeiro a 1.º de outubro, de acordo com o Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (Snea). A alta do dólar, que afeta não só o preço dos combustíveis, mas ainda os custos com manutenção de aeronaves, também prejudica os resultados.

Nesse cenário, a saída das empresas foi repassar para as passagens as perdas acumuladas, em uma tentativa de melhorar o desempenho no balanço do quarto trimestre. "O dólar afeta cerca de 60% a 70% dos custos das companhias. O impacto é imediato, porque estão sempre pagando leasing de aviões, combustíveis, reposição de peças", disse André Castellini, consultor da Bain & Company e especialista no setor aéreo. "A empresa pode acumular prejuízos só até certo ponto. As tarifas médias estavam abaixo dos custos. As companhias estavam perdendo dinheiro no mercado doméstico. Não era sustentável."

Depois de impulsionarem a alta da inflação oficial em setembro, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), as tarifas voltaram a figurar em outubro entre os principais impactos da prévia do índice, o IPCA-15. Embora o aumento tenha sido menor, analistas veem espaço para que as passagens continuem a pressionar a inflação até o fim do ano, período em que a demanda aumenta por feriados, festas natalinas e férias.

"As companhias vão aumentar (os preços) para que a margem seja mais folgada, porque hoje está muito justa", afirmou Nelson Riet, consultor de aviação. "As empresas, agora que estão começando a se acomodar nos seus respectivos nichos, pararam de competir umas com as outras. Então, elas vão aumentar o preço. Essa é a tendência."

A TAM declarou, em nota, que registrou nos últimos dois meses um aumento do yield (o valor médio pago por passageiro para voar um quilômetro) no mercado doméstico. Segundo a empresa, o resultado "está alinhado com o movimento de recomposição das margens e confirma a expectativa da companhia de aumento de pelo menos 5% do preço unitário doméstico no terceiro trimestre, na comparação com o período anterior".

No início da semana, o presidente do conselho de administração da companhia, Marco Antonio Bologna, previu para o último trimestre uma recuperação nos yields próxima à verificada no terceiro trimestre: entre 5% e 10%.

O presidente da Gol, Constantino Júnior, confirma a necessidade de reajuste de tarifas.

"Aumento de custo gera necessidade de mais receita", disse, citando a inflação, o dissídio pago aos trabalhadores da categoria e o aumento no preço do querosene de aviação. No entanto, ele diz que a empresa está focada em aumentar receitas complementares, como carga e a venda de bebidas e comida a bordo.

Na inflação medida pelo IPCA-15, os voos tiveram aumento de 23,4% em setembro. Na leitura de outubro, as passagens diminuíram o ritmo de alta, mas ainda assim ficaram 14,23% mais caras. "É uma taxa bastante considerável ainda. A tendência é essa, porque nessa época de festas e férias as companhias aproveitam para fazer alguns ajustes mais fortes", disse Flávio Combat, economista-chefe da Concórdia Corretora.

Para cima. Se, por um lado, a aceleração das passagens aéreas é comum no fim do ano, o economista Thiago Curado, analista da Tendências Consultoria Integrada, diz acreditar que os preços estão subindo mais do que o habitual este ano. "A política das companhias nos últimos anos foi muito agressiva, elas começaram a competir por custo. Só que chegou num ponto limite. Por isso, as tarifas devem aumentar ainda mais. Mesmo levando em conta a sazonalidade, está pior do que o normal."

Apesar da confirmação das companhias aéreas sobre as tarifas mais caras nos últimos meses de 2011, a Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav) disse que o aumento das tarifas está dentro do previsto.

A diferença de preços nesta época do ano na comparação com o mesmo período de 2010 seria apenas a correção da inflação. "Mas temos de analisar que o combustível subiu. Tem de subir a tarifa", defendeu Carlos Alberto Amorim Ferreira, presidente da Abav.

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