.

06 julho 2010

Aeroportos precários

Estudo revela capacidade de operar cargas dos terminais perto do limite

Estado de Minas

Prometer o crescimento da economia e do emprego nos próximos anos é fácil. Mas não dá mais para esperar que o próximo governo, seja qual for, comece a recuperação de pelo menos duas décadas perdidas na construção daquilo que ameaça a produção e competitividade do país: infraestrutura. É grave, por exemplo, a precariedade da operação de carga dos aeroportos do Brasil. Em todo o mundo, é cada vez mais expressivo o emprego de componentes eletrônicos ou porções químicas produzidas nos lugares mais remotos. São peças leves, mas de alto valor agregado e que não valem a pena ser estocadas por seus fabricantes, nem pelas indústrias que as encomendam para emprego no curtíssimo prazo. Esse negócio movimenta bilhões de dólares e, por suas características, tem de passar pelos aeroportos. Desconfortáveis para os passageiros, limitados para o tamanho e a quantidade de aeronaves, os aeroportos brasileiros já podem ser considerados um enorme gargalo. 

Dados do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea) informam que, com a retomada da economia depois da crise internacional de 2008/09, os aeroportos brasileiros recuperaram rapidamente o movimento de cargas, empurrado por esse tipo de comércio, inclusive com forte aumento das importações e exportações. Em fevereiro, foram embarcadas e desembarcadas 86,1 mil toneladas, com crescimento de 18% sobre as 72,9 mil toneladas de fevereiro de 2009. Isso reflete uma expansão localizada em ritmo pelo menos duas vezes e meia acima da velocidade do crescimento da economia brasileira. Esse dinamismo é um consolo para um país que ainda tem de oferecer oportunidades aos milhões de jovens que se preparam para chegar ao mercado de trabalho e sinaliza agregação tecnológica indispensável a quem pretende continuar tendo presença no mercado mundial. Tudo isso é motivo para cobrar dos candidatos o compromisso de impedir que a capacidade de cargas dos aeroportos brasileiros confirme indicações de estar muito perto do caos.

Estudo realizado pela consultoria McKinsey&Company, a pedido do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do qual já se conhecia a limitação da capacidade de pousos e decolagens, revela que é grave a situação de cargas. O Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, por exemplo, tem sido obrigado a despachar exportações em volume 30% maior do que a sua capacidade nominal. Já o de Viracopos, em Campinas (SP), anda às voltas com situação inversa, mas igualmente complicada. As importações despachadas exigem operação de 140% da capacidade daquele aeroporto. Salvador (BA), Manaus (AM) e Guarulhos (SP) também caminham rápido para a saturação, situação em que passariam a gerar perdas, inviabilizando seu uso econômico. Se o governo, que centraliza a administração dos aeroportos, por meio da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), não tem conseguido acompanhar o ritmo explosivo do transporte aéreo de passageiros, o gargalo da movimentação de cargas reforça a urgência de o país definir como vai enfrentar o problema, pela velha fórmula estatal ou por modelos mais modernos de participação privada.

0 comments:

Header Ads

Copyright © Aeronauta | Designed With By Blogger Templates
Scroll To Top