Segundo diretor da EADS, maior acionista da Helibras, modelo é sucesso mundial de vendas

Roberto Godoy – O Estado de São Paulo

O Brasil vai produzir em Itajubá (MG), na fábrica da Helibras, o helicóptero Dauphin-2, francês, e também o Pantera, a sua poderosa versão militar. O modelo é um sucesso de vendas, com 850 unidades colocadas no mercado internacional - 55 das quais destinados a clientes brasileiros. O governo federal e a European Aeronautic Defence and Space Company (EADS), controladora da Eurocopter - por sua vez, a principal acionista da empresa nacional - já estão discutindo o processo, que deve entrar na fase executiva até dezembro. De acordo com o diretor-geral da EADS no País, Eduardo Marson Ferreira, 'a produção local dessa aeronave, com exclusividade, faz parte da plataforma de negociações do grupo'.

A Eurocopter exportou 55 Dauphin/Pantera para o Brasil. Só a Aviação do Exército mantém uma frota de 33 helicópteros, que atuam combinadamente com ao menos outras 17, do modelo Esquilo, menor, produzido regularmente em Itajubá. A Helibras é responsável pela entrega de 500 helicópteros, no valor acumulado de US$ 1 bilhão, desde que entrou em operação em 1978.

Há mais. A Helibras, a Eurocopter francesa e a sul-africana ATE assinaram em junho um acordo de cooperação técnica no campo militar para o desenvolvimento de programas avançados de revitalização de aeronaves de asa rotativa, engenharia de equipamentos de bordo, sistemas de armas e integração de plataformas operacionais. Segundo Marson, na prática isso vai significar facilidade de acesso a conhecimento especializado, rapidez na execução dos empreendimentos de modernização dos esquadrões do Exército e a criação de um helicóptero de projeto próprio, destinado a múltiplo emprego, com peso máximo entre 4,3 toneladas e 9,7 toneladas.

A EADS fatura na Europa acima de 40 bilhões. No Brasil, são 6 bilhões, provenientes de setores tão diversos quanto a venda de aviões de passageiros Airbus - só a TAM opera 86 jatos e acaba de comprar mais 22 -, o fornecimento de componentes para foguetes experimentais orbitais, a reconfiguração de turboélices de patrulha marítima e a troca de motores de mísseis Exocet de longo alcance, usados pelo Comando da Marinha contra alvos situados a distâncias entre 45 km e 70 km. São armas famosas no Atlântico Sul. Com os Exocet, a aviação naval da Argentina afundou e danificou navios britânicos durante a guerra pelas ilhas Falklands/Malvinas, há 25 anos.

Os interesses do grupo no Brasil são representados por um cientista social, Eduardo Marson Ferreira, graduado em Ciências Políticas pela USP. Aos 44 anos, especializado em comércio exterior e relações internacionais, o diretor-geral da EADS acumula 52 viagens anuais - média de uma por semana.

Na sexta-feira, pouco depois de ter chegado da França e enquanto tentava driblar o caos aéreo e seguir para Brasília, Marson falou ao Estado. Abaixo, os principais trechos da entrevista.

PRESENÇA NO BRASIL

'No fim de 2006, o carnê da EADS no Brasil era de mais de 6 bilhões, o que representa quase 50% das encomendas totais da EADS na América Latina. A EADS não está no Brasil para desenvolver ações de curto prazo. Queremos fortalecer e ampliar investimentos de longo prazo no País por meio de parcerias industriais e da compra de produtos e serviços de empresas nacionais, que geram resultados positivos para a indústria brasileira, com transferência de tecnologia, geração de empregos de alta qualificação e abertura para o mercado mundial. Por meio da Helibras, a EADS detém a liderança do mercado brasileiro de helicópteros a turbina. Desde que começou suas operações, há quase 30 anos, a empresa registrou vendas líquidas de aproximadamente US$ 1 bilhão, tendo comercializado mais de 550 helicópteros no Brasil e na América do Sul.

A TAM, maior cliente da Airbus na América Latina, opera atualmente uma frota de 86 aviões A319, A320 e A330. Além do contrato assinado em 2006 para a compra de 31 aviões da família A320 e de outros seis A330, a TAM acaba de assinar com a Airbus um memorando de entendimentos para a compra de 22 A350 XWB e quatro A330-200 adicionais, confirmando assim sua posição de cliente de lançamento do A350 na região.

Ainda no campo da aviação comercial, no início de 2007 a companhia brasileira de aviação regional TRIP Airlines assinou um contrato com a ATR (joint venture entre a EADS e a Alenia Aeronautica) no valor de US$ 125 milhões para a aquisição de sete ATR 70-500, além de mais cinco opções.

Na área dos aviões de transporte militar, a EADS Casa mantém com a Força Aérea Brasileira um contrato para o fornecimento de 12 aviões C-295 e para a modernização de oito aeronaves de patrulha marítima P-3. O valor total desse contrato excedeu 530 milhões. No final de 2006, a EADS Casa foi selecionada pela FAB para fornecer 50 aviões C-212, em contrato orçado em mais de US$ 300 milhões.

A MBDA (outra empresa ligada à EADS) também é tradicional fornecedora das Forças Armadas brasileiras, tendo assinado em 2006 importantes contratos para remotorização de mísseis Exocet e Mistral da Marinha do Brasil. A EADS Secure Networks fornece para a Polícia Federal sistemas de radiocomunicação segura. Na área espacial, a Equatorial Sistemas foi escolhida em 2005 pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) para fornecer equipamentos.'

RETIRADA DA EMBRAER

'A venda da nossa participação no capital da Embraer em dezembro de 2006 foi só uma decisão negocial. Em 1999, quando a EADS, juntamente com outras empresas européias, adquiriu 20% das ações da empresa, tratava-se de um investimento estratégico. Essa situação mudou no ano passado, quando a Embraer adotou um novo modelo de governança corporativa e passamos a ser investidores meramente financeiros.'

FORÇAS ARMADAS

'Exército, Marinha e Força Aérea receberam da Eurocopter/Helibras a capacitação para manter e operar seus helicópteros de forma independente e soberana. O Exército Brasileiro tem a maior frota militar do continente, formada basicamente por helicópteros da Eurocopter/Helibras.

Não podemos esquecer também os contratos assinados entre a Força Aérea brasileira e a EADS Casa, que nos permitem aumentar a presença industrial por meio de empresas já existentes, principalmente no parque tecnológico de São José dos Campos (SP). Todo mundo conhece e cita a Embraer, mas há também outras corporações, pequenas e médias, dos setores aeroespacial e de defesa que se desenvolveram naquela região, e que estamos acompanhando com interesse.'

EADS E HELIBRAS

'A Helibras, como a Embraer, é fruto da vontade do governo brasileiro de implantar no País uma indústria aeronáutica. Hoje, constitui-se numa parceria entre a Eurocopter (45%), o governo de Minas Gerais (25%) e o investidor privado brasileiro Bueninvest (30%). A Helibras é a única fabricante de helicópteros na América Latina, fornecendo helicópteros para civis, parapúblicos e militares.'

ÁFRICA DO SUL

'O acordo de cooperação assinado entre a Helibras e a ATE da África do Sul faz parte de um compromisso com o governo brasileiro, por meio dos Ministérios da Defesa e da Casa Civil, de dotar a Helibras de capacidades de projeto de aeronaves de asas rotativas e de integração de sistemas – tudo isso ainda em 2007. É a evolução natural da saga iniciada há 30 anos. Dessa forma, será possível propor às Forças Armadas brasileiras modernização, atualização e aperfeiçoamento dos sistemas embarcados nos seus helicópteros, com custos razoáveis, realização no País e capacidade de apoio local. Cito o presidente da companhia, Jean Michel Hardy, para anunciar que as duas organizações já estão estudando algumas soluções a serem propostas às Forças Armadas.'

PANTERA/BR

'Temos a visão de aumentar nossas aquisições e desenvolvimento de produtos utilizando a base industrial brasileira. A produção local do helicóptero Dauphin/Pantera - com exclusividade talvez mundial - faz parte de nossas discussões com o governo brasileiro. É um produto consagrado, e de expressão comercial.'

INDÚSTRIA MILITAR

'O Brasil é um dos poucos países fora do mercado, por assim dizer, 'doméstico' da EADS onde mantemos investimentos de longo prazo. Nossa visão hoje é de reforçar essa presença e a retomada do Plano/Política Nacional da Indústria de Defesa (PNID) é uma ótima notícia. Defendo os projetos cooperativos como modelo de inserção da base industrial brasileira de defesa no mundo globalizado, onde não basta apenas um bom produto e a vontade de vender. É preciso integrar capacidades. Nesse contexto, estamos abertos a todo tipo de parcerias com a indústria nacional.'

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