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Setor aéreo quer rachar prejuízos por apagão

Empresas estimam que cinco dias de caos em aeroportos europeus por conta de nuvem vulcânica custaram US$ 1,7 bilhão

Companhias criticam regras que preveem compensação a passageiros prejudicados e excessiva cautela e lentidão por parte das autoridades

LUCIANA COELHO DE GENEBRA - Folha de SP

Enquanto as operações são retomadas nos aeroportos da Europa -ontem mais de 75% dos 28 mil voos programados decolaram -, cresce a briga sobre quem vai pagar a conta. Os cinco dias de apagão aéreo provocado pela nuvem de cinzas expelidas por um vulcão islandês custaram às companhias aéreas cerca de US$ 1,7 bilhão (R$ 3 bilhões), estima o setor.

No cálculo da Iata, principal associação de empresas aéreas, o prejuízo supera o dos dias seguintes ao 11 de Setembro. E, apesar de a nuvem ter se dissipado parcialmente, o horizonte não é animador. "Do ponto de vista da indústria, levará semanas para que as operações voltem ao normal", afirmou à BBC Willie Walsh, executivo-chefe da British Airlines.

Nas regras da UE, as empresas são obrigadas a pagar pela alimentação e a acomodação dos passageiros até que eles possam chegar a seu destino, independentemente de serem responsáveis pela suspensão dos voos. Também são obrigadas a reembolsar passagens canceladas (o viajante que fizer esta opção perde a outra).

Só que o setor nunca chegou a emergir de sucessivas crises e já previa um prejuízo de US$ 2,8 bilhões para este ano, após perder US$ 9,4 bilhões em 2009. Agora, vê as regras como mais um golpe.
 
A maior empresa europeia em voos internacionais, a irlandesa RyanAir, já anunciou que vai refutá-las e reembolsará só as passagens.

As empresas aéreas acusam as autoridades da UE de ampliar o problema ao agirem com excessiva cautela e lentidão, tomando decisões com base em um modelo de risco falho (algo que depois a UE admitiria).

"Essas regras não dão nenhum alívio em situações extraordinárias e ainda tornam as empresas responsáveis por pagar hotéis, refeições e telefonemas", disse em nota o presidente da Iata, Giovanni Bisignani. "É urgente que a Comissão Europeia ache um meio de reduzir esse fardo injusto."

A única determinação que a UE suspendeu foi a da compensação por inconveniência. A associação estima que entre os dias 17 e 19 seu prejuízo diário tenha batido em US$ 400 milhões e que, ao todo, o apagão tenha afetado 29% da malha global e 1,2 milhão de viajantes.

O fechamento do espaço aéreo chegou a atingir 18 países e alguns dos mais importantes "hubs" europeus, fazendo com que a malha ferroviária e a rede hoteleira de algumas cidades ficassem superlotadas. Sem opção, as companhias foram obrigadas a hospedar passageiros até em resorts cinco estrelas, como a Folha constatou.

Por outro lado, cansados de esperar uma solução, muitos viajantes colocaram a mão na carteira, esperando poder reivindicar o reembolso depois.

Acuadas, as empresas querem repassar parte da fatura aos governos, citando como exemplo a compensação financeira paga pela Casa Branca após os atentados de 11 de setembro de 2001 nos EUA, que pararam os aeroportos por três dias. "É uma situação extraordinária amplificada por erros nas decisões", diz Bisignani.

Problema: o episódio pesará também na combalida economia da UE, cujos governos lidam com um deficit já inchado.

Embora a maioria dos economistas diga ser cedo para estimar perdas - para causar um impacto em torno de 1% do PIB o caos aéreo precisaria prosseguir até setembro, segundo análises -, o apagão deve desacelerar a recuperação europeia após a crise global de 2008 e 2009, que já é mais lenta.

Salvo por Helsinque, os grandes aeroportos europeus operavam ontem; em muitos a oferta não supria a demanda.

Brigadeiro: "Viajantes são sempre as maiores vítimas das crises"

O brigadeiro José Carlos Pereira, presidente da Infraero durante o caos aéreo brasileiro, disse que a maior semelhança entre aquela crise e a atual, na Europa, é o fato de que os maiores prejudicados são os passageiros. "Não interessa se é cinza vulcânica ou sargento rebelado, estoura sempre para o lado do consumidor." Ele prevê uma "confusão jurídica" entre os viajantes em busca de reparação e empresas, que tentam minimizar seu prejuízo.

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