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Após caos aéreo, UE discute nova regulação do setor

Daniel Michaels, Sara Schaefer Muñoz e Bruce Orwall, The Wall Street Journal - Valor

As companhias aéreas mundiais correram ontem para transportar milhões de passageiros ilhados pela proibição de cinco dias para voos europeus por causa da nuvem de cinza vulcânica, e representantes do setor disseram que a paralisação causou prejuízo de pelo menos US$ 1,7 bilhão e evidenciou a necessidade de uma regulamentação mais unificada.

O tráfego nos aeroportos europeus atingiu 80% do nível normal ontem, após cair para 20% no domingo, segundo a Eurocontrol, que coordena o espaço aéreo da região. Mais de 100 mil voos foram cancelados desde que o céu europeu foi fechado, no dia 15, causando a maior interrupção na aviação mundial desde os atentados de 11 de setembro de 2001.

A proibição de voar impediu que pelo menos 9,5 milhões de pessoas viajassem, segundo o Conselho Internacional de Aeroportos da Europa, uma associação sediada em Bruxelas. As aéreas afirmaram que podem precisar de pelo menos uma semana para encaminhar todo mundo.

Os ministros dos Transportes da UE aceitaram abrir ontem a maior parte do espaço aéreo da região e fechar apenas as áreas consideradas perigosas por causa da alta concentração de poeira vulcânica. O Reino Unido reabriu seu espaço aéreo no fim da terça-feira. Ontem continuavam restrições apenas sobre a Finlândia e partes do norte da Escócia, informou a Eurocontrol. A agência previu que todos os voos programados no continente para hoje sairiam.

O vulcão que paralisou os voos continuou em erupção ontem, mas suas cinzas chegaram a só 2 mil metros de altura, segundo a Agência Meteorológica da Islândia. Também surgiram novas evidências de que o magma do vulcão começou a emergir como lava, em vez de encher a ar de cinzas.

Representantes das empresas aéreas disseram que a resposta inicial das autoridades de regulamentação na Europa foi descuidada e criou confusão para empresas e passageiros, mostrando a urgência de se adotar um projeto de "unificação aérea" na UE, segundo o qual o tráfego aéreo e sua supervisão seriam coordenadas pelo bloco de 27 países. Atualmente, fechamentos de aeroportos, movimentações de aviões e a maioria das regras de aviação são administradas independentemente pelo governo de cada país.

"Este incidente mostra claramente a necessidade de concluir o plano de unificação aérea da Europa", disse Ulrich Schulte-Strathaus, secretário-geral da Associação de Companhias Aéreas Europeias, em Bruxelas. Schulte-Strathaus disse que os esforços do comissário de Transportes da UE, Siim Kallas, e de sua equipe no fim de semana, que levaram à decisão de reabrir o espaço aéreo, mostrou o valor de uma cooperação maior na regulamentação do setor aéreo da UE.

A porta-voz de Kallas disse que se as novas regras do setor - programadas para valer a partir de 2010 - já tivessem sido implantadas, a decisão de segunda-feira poderia ter sido tomada na sexta, evitando dias de problemas e prejuízos.

A Comissão Europeia indicou que vai pressionar os representantes dos países-membros que estão negociando os detalhes do novo sistema a apressar o trabalho. Enquanto isso, autoridades da UE alertaram que reorganizar a administração dos céus europeus continuará uma tarefa cara e complexa.

A unificação do controle do tráfego aéreo vai complementar uma mudança já em curso para administrar a segurança do setor no âmbito da UE, por meio da Agência Europeia de Segurança da Aviação. Conectar os sistemas de controle de tráfego aéreo tem sido mais difícil do que se pensava, porque as redes já estão sobrecarregadas e os sindicatos de controladores não gostaram do plano.

Alguns executivos das aéreas disseram que as autoridades europeias exageraram quando fecharam o espaço aéreo de países inteiros sem analisar qual era o perigo real criado pela nuvem de poeira. As autoridades de regulamentação responderam que as regras existentes, estabelecidas em nível mundial há mais de dez anos pela Organização Internacional da Aviação Civil, da ONU, as deixaram sem escolha a não ser proibir os voos.

Especialistas em segurança aérea dizem que fechar o espaço aéreo foi uma medida prudente porque se sabia muito pouco sobre o efeito da cinza vulcânica nos aviões e em suas turbinas. Desde sábado que autoridades e empresas aeroespaciais, como a fabricante de turbinas Rolls-Royce e a Airbus, filial da European Aeronautics Defense & Space Co., correm para tentar entender melhor o problema. Foram as recomendações deles que motivaram a decisão de ontem de retomar os voos.

A Associação Internacional de Transporte Aéreo, conhecida pela sigla em inglês Iata, calcula que o fechamento do espaço aéreo causou às aéreas mundiais uma perda de cerca de US$ 1,7 bilhão no faturamento. As aéreas europeias, que já se arrastavam na recuperação mundial do setor, foram as mais prejudicadas pela proibição e perderam uma receita de quase € 1 bilhão (US$ 1,34 bilhão), segundo a Associação de Companhias Aéreas da Europa. Os aeroportos europeus perderam faturamento de mais de € 250 milhões, segundo o Conselho Internacional de Aeroportos da Europa.

A Iata pediu ontem que as autoridades relaxem as restrições sobre os voos noturnos e os cronogramas para que mais aviões possam operar, reduzindo o gargalo de passageiros criado.

(Colaboraram Paul Sonne e Alessandro Torello)

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