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Um bom exemplo para a Anac começar a agir

Marcelo Ambrosio - Jornal do Brasil

As novas regulamentações, do governo e da Anac, em respeito aos direitos dos passageiros da aviação comercial, são um caminho interessante para a reflexão. E mostram que pelo menos nesse ponto os nossos reguladores são mais rápidos que os americanos. Lá, o chamado Passengers Bill of Rights (Carta dos direitos dos passageiros) encontra feroz resistência no Capitólio para ser aprovado. E contém as mesmas penalidades que as normas emitidas aqui embutem.

A diferença está no fato de o lobby das empresas dos EUA agir em um cenário muito mais favorável a elas do que assistimos comumente aqui.

Domingo mesmo acompanhei um bom balão de ensaio dessa nova normatização no Brasil. Se estivesse em vigor, teria deixado TAM e Gol, as duas maiores empresas aéreas nacionais, em uma encrenca considerável.

O temporal diluviano que se abateu sobre a cidade no fim da tarde representou a parcela imponderável de um negócio que implica riscos – os quais os passageiros muitas vezes não levam em consideração.

Assim que a primeira ventania e os raios começaram a riscar o céu – cor de chumbo – na horizontal, já comecei a desconfiar que as coisas no Santos Dumont também ficariam confusas. Ia levar a namorada para embarcar no voo 3959, às 20h45, para Congonhas. Desabou a chuva, o mundo caiu, chovia a cântaros. Mas não durou muito. Animados fomos para o terminal.

Antes, vi que os dois aeroportos estavam fechados, mas como a pancada tinha passado, considerei que as perspectivas eram boas. No saguão do aeroporto, o movimento nem era tão grande.

Assim que encerramos o check-in, o SDU foi reaberto para pouso e decolagem.

O problema é que, hoje em dia, tendo malhas aéreas com ocupação alta, isso não quer dizer muita coisa. Basta um jato não pousar que tudo degringola.

Em resumo, o voo 3959 foi cancelado e os passageiros alocados no 3961, que partiria às 21h20.

Às 23h05, recebi um telefonema dela, me informando que depois de ter embarcado todos os passageiros para voar até Guarulhos, a companhia estava determinando o desembarque em função de o horário de funcionamento do aeroporto ter se encerrado. A Infraero, nesse ponto, foi bastante pontual, deixando um voo lotado no gate e dois no taxiway rumo à cabeceira, pelo que soube.

É difícil para quem não está acostumado a compreender a decisão de suspender a operação de um aeroporto devido ao mau tempo. Temos tecnologias capazes de superar adversidades, mas os riscos inerentes à atividade continuam como sempre. O que não se compreende é a falta de um plano de contingência para algo que não é, nem nunca foi, exceção no Santos Dumont.

No saguão, guichês da Gol e da TAM reuniam mais de 300 pessoas estressadas, frustradas, com planos indo por água abaixo.

A chuva pode ter atrapalhado, mas o problema era a falta de informação. Uma supervisora da TAM informava monocordicamente aos passageiros que a empresa "estava tentando criar um voo do Galeão para Guarulhos de madrugada". Mas não sabia se haveria o voo nem quando sairia.

Nem se os passageiros seriam levados ao outro terminal, em que momento, ou que haveria acomodação em hotéis para os que não pudessem ir. Na Gol, o procedimento foi igual.
 
Se valessem as regras, as duas empresas teriam, por exemplo de reembolsar quem não teria mais razão em seguir viagem depois do horário. Haveria ainda distribuição de cartão telefônico, acesso à internet, alimentação e acomodação, dada a dimensão do atraso. Ia doer no bolso.

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