Valor

A GE, uma das maiores empresas mundiais de produtos e serviços de infraestrutura, poderá investir nos projetos para modernizar os principais aeroportos do Brasil. "Se pudermos participar como investidores nos esforços de privatização [dos aeroportos], assim o faremos, como já fizemos em outros países no passado", disse ao Valor o presidente mundial da GE, Jeffrey Immelt.

O executivo completa em setembro dez anos à frente da GE, cargo que o faz viajar ao redor do mundo. E essa rotina o levou à conclusão de que as privatizações são o melhor caminho para consertar os aeroportos. "Os aeroportos são a fraqueza deste país. Eu me preocupo com a Copa, com a Olimpíada. São a primeira coisa que qualquer empresário ou turista vê quando desce do avião", disse Immelt. E acrescentou: "O tempo está passando."

O executivo citou o exemplo da Índia, que melhorou os seus aeroportos via privatizações. "As concessões e PPPs [parceiras público-privadas] funcionam neste setor", afirmou. Ele conversou com o Valor em Petrópolis (RJ), onde esteve para as comemorações dos 60 anos da GE Celma, unidade de revisão de turbinas de aviões do grupo. Foi aplaudido pelos funcionários com o entusiasmo de quem pode ver de perto não só o principal líder da GE, mas um dos principais executivos do mundo corporativo internacional.

Immelt deixou claro que a GE vive um dos melhores momentos de sua história no Brasil, onde está desde 1919. Um exemplo dessa boa fase está no fato de que, em 2011, a empresa prevê faturar no país US$ 3,7 bilhões, quase 20% a mais do que imaginava faturar inicialmente este ano. O crescimento da receita foi resultado de maior demanda. O número é também 42% superior aos US$ 2,6 bilhões obtidos no país em 2010.

A receita no Brasil no ano passado equivaleu a menos de 2% do faturamento global, de US$ 150,2 bilhões. Mas essa participação deve subir. Segundo Immelt, a receita da GE no país cresce, em média, 36% ao ano e devem dobrar nos próximos três anos. "Se não mantivermos esse nível de crescimento, vamos ficar para trás. Fizemos isso quase que exclusivamente com crescimento orgânico, mas devemos fazer algumas aquisições no Brasil. Ficaria desapontado se não dobrássemos os negócios a cada dois ou três anos", disse. Até 2013, a GE tem plano de investir US$ 550 milhões no Brasil, mas esse número também poderá dobrar.

Essa realidade também é válida para as operações da empresa na América Latina, onde prevê que, a curto prazo, os mercados emergentes terão uma maior participação na receita da companhia. Quando Immelt assumiu a GE, 30% dos seus negócios tinham origem fora dos Estados Unidos. Hoje, esse número é superior a 60%, o que indica que a empresa se tornou mais global.

Mas a GE também tem sentido os efeitos da crise. Segundo dados da Bloomberg, seu valor de mercado na sexta-feira era US$ 165,3 bilhões, colocando-a em 21º no ranking das empresas mais valiosas do mundo. Segundo Immelt, enquanto o mundo passou pela falência do banco Lehman Brothers, em 2008, e pela crise financeira, o negócio financeiro da GE, considerado estratégico, perdeu valor. "Nós precisamos encontrar novas e diferentes formas de posicionar nosso negócio de serviços financeiros para criar valor. É um processo em andamento".

O executivo entende ainda que os atuais problemas econômicos do mundo não representam uma nova crise, mas sim a continuidade de um processo iniciado no verão do hemisfério norte em 2007. E no entender dele essa situação vai significar crescimento econômico menor para Estados Unidos e Europa. Já nos emergentes, as perspectivas são otimistas.

Immelt disse que três coisas aconteceram no Brasil que despertaram o interesse de muitas empresas americanas, como a GE, que não olhavam com atenção para o hemisfério sul nas décadas de 1980 e 1990. Esses fatores foram a continuidade da estabilidade fiscal, a existência de um robusto setor privado e as exportações de produtos básicos para a China, um mercado de grande crescimento econômico.

"Esses três elementos combinados fizeram do Brasil um mercado muito competitivo e atrativo". O executivo acrescentou que a América Latina terá um dos maiores e mais rápidos crescimentos entre as regiões nas quais a companhia atua nos próximos cinco ou dez anos. Segundo ele, qualquer um dos setores nos quais a empresa atua no Brasil, incluindo aviação, transporte, saúde e óleo e gás, entre outros, pode ter crescimento "substancial" nos próximos três anos.

Na aviação, afirmou, a GE tem ótima relação com clientes como Gol, TAM e Embraer. A GE Celma, além de revisar turbinas, tem plano de passar a produzir motores para as aeronaves E-190 da Embraer e há possibilidade de que as duas empresas anunciem o início dessa produção ainda este ano.

No segmento de locomotivas, com fábrica em Contagem (MG), Immelt disse que a GE tomou, semana passada, a decisão de fazer "substanciais investimentos" em produtos e design, entre outras atividades. Esse plano de expansão, informou, deve ser entregue ao mercado em 24 meses.

"Vamos nos mover de forma agressiva no mercado de ferrovias não só para atender o Brasil, mas também a exportação, incluindo destinos como a África." Este ano, a empresa vai fabricar 121 locomotivas no país, quase o dobro de 2010. A expansão deve levar a fábrica de Contagem a aumentar a capacidade das atuais 150 para 200 unidades por ano.

O setor de óleo e gás é outro que tem grandes oportunidades. Immelt lembrou que a posição da empresa no setor foi fortalecida com a compra da Wellstream este ano por US$ 1,3 bilhão. Ainda na área de energia, a GE aposta no desenvolvimento das fontes eólicas: tem a previsão de produzir no Brasil 700 turbinas até 2012.

Outro foco da GE no Brasil será fazer mais inovação local com os clientes a partir do centro de pesquisa e desenvolvimento que a empresa constrói no Rio. Immelt vê muito espaço para inovação no Brasil em áreas como biocombustíveis e etanol. "As aplicações a serem desenvolvidas aqui podem ser usadas em outros países. Também queremos ser uma opção importante para engenheiros, considerando a corrida por talentos que existe no país".

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