Uma embarcação norueguesa e outra americana deixam o Porto do Recife no próximo domingo para iniciar a 3ª fase de busca aos equipamentos na região onde o Airbus da Air France matando 228 pessoas
Wagner Sarmento - Jornal do Commércio
O Escritório de Investigação e Análise para a Aviação Civil da França (BEA) anunciou ontem, em entrevista coletiva no Porto do Recife, que iniciará na próxima semana a terceira fase de buscas pelas caixas-pretas do Airbus A330 da Air France que fazia o voo 447 quando caiu no Oceano Atlântico, em 31 de maio do ano passado, matando as 228 pessoas a bordo. O navio norueguês SeaBed Worker e a embarcação americana Anne Candies, que estão atracados na capital pernambucana, partirão neste domingo e chegarão na terça-feira à região onde devem estar os destroços. O diretor do BEA, Jean-Paul Troadec, disse que estudos feitos com a ajuda de cinco institutos oceanográficos permitiram reduzir em dez vezes a área de buscas. Segundo ele, sem as caixas-pretas será impossível definir as causas do maior acidente aéreo da história do Brasil.
A nova etapa terá 32 dias de duração e abrangerá área de dois mil quilômetros quadrados e cerca de quatro mil metros de profundidade. O centro da região a ser vasculhada fica a quase 1.500 quilômetros do Recife. O BEA aposta numa superequipe de cem pessoas – que conta até com geólogos que conhecem o acidentado relevo submarino da região – e nos mais modernos equipamentos para obter êxito. A procura das caixas-pretas será executada por sonares e por três robôs teleguiados. A operação do BEA, bancada pela Air France e pela Airbus, está orçada em 10 milhões. As duas primeiras fases, juntas, custaram 9 milhões, quantia paga pelo governo francês.
O chefe de investigação do BEA, Alain Bouillard, salienta que, mesmo se as caixas-pretas forem localizadas, não há uma garantia de que a queda da aeronave será esclarecida, uma vez que o desastre aéreo ocorreu há 299 dias. "Nossa experiência mostra que, mesmo com os gravadores, não é certo chegar a um resultado. As caixas-pretas resistem a uma profundidade de até seis mil metros, mas não temos outro caso de recuperá-las tanto tempo depois. Mesmo assim, temos esperança de encontrar os objetos e ler e interpretar as informações captadas. Hoje, não somos capazes de dizer o que aconteceu", observou. Bouillard explicou que os sonares tentam detectar ecos no fundo do mar e os robôs, equipados com câmeras, mergulham nas zonas apontadas para fazer a verificação. "Se não encontrarmos os gravadores, mas acharmos a carcaça do avião, poderemos avançar um pouco mais", disse.
A primeira fase de buscas pelas caixas-pretas foi iniciada logo depois do acidente e durou 30 dias, tempo de emissão dos sinais acústicos pelos equipamentos. A segunda etapa, empreendida entre 14 de julho e 20 de agosto, consistiu no rastreamento de uma área com 75 quilômetros de raio por equipamentos submarinos.
O tenente-coronel aviador Luís Lupoli, representante do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão brasileiro equivalente ao BEA, declarou que o Brasil tem ofertado todo o apoio à França. "Reconhecemos o esforço do governo francês em esclarecer o acidente", disse.
Parentes torcem por investigação
O diretor-executivo da Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 447 (AFVV447), Maarten van Sluys, que veio de Minas Gerais para acompanhar o anúncio do reinício das buscas pelas caixaspretas, declarou que a localização dos gravadores é fundamental, pois ajudará os parentes a conseguir indenizações. "Isso facilitaria muito para a gente, pois se as causas do acidente forem desvendadas os níveis de responsabilidade serão mais detalhados. Saberemos que partes serão processadas e o que cabe a cada uma", afirmou ele, que perdeu a irmã Adriana Francisca van Sluys, jornalista de 40 anos, no desastre. A AFVV447 representa 48 famílias, sendo 38 brasileiras.
Maarten, no entanto, ressaltou que um novo fracasso na procura pelas caixas-pretas não afetará a luta dos parentes por justiça. "Isso não quer dizer que, se não acharem os gravadores, não vai haver indenizações. Esse acidente teve 228 vítimas. Logo, teve culpados", enfatizou. "Mas, dependendo do resultado das investigações, pode haver mais ações indenizatórias, sobretudo nos Estados Unidos, onde está a maioria das empresas fornecedoras de peças e equipamentos que podem ter falhado", disse. Ele contou que algumas indenizações a membros da AFVV447 já foram pagas, mas não precisou quantas.
O representante da associação afirmou que os parentes não terão paz enquanto a investigação do Escritório de Investigação e Análise para a Aviação Civil da França (BEA) não for encerrada.
"Cada nova etapa é uma esperança. Existe uma grande ansiedade. É uma emoção muito grande", falou. "A pergunta que não quer calar é o que aconteceu naquela noite. Só as sondas pitot não derrubariam. Só as turbulências não derrubariam. Precisamos saber se nossos entes queridos sofreram", completou, emocionado. Durante a coletiva de imprensa, Maarten elogiou o trabalho do BEA.
CORPOS
O chefe de investigação do BEA, Alain Bouillard, informou que, embora a prioridade seja encontrar as caixas-pretas, "nada impede" que os dois navios mobilizados recolham corpos, caso os encontre. Bouillard, porém, classificou como improvável. Apenas 50 corpos de vítimas foram localizados e identificados no Instituto de Medicina Legal (IML) do Recife – 20 brasileiros e 30 estrangeiros. Entre as 228 pessoas a bordo, havia 72 franceses e 58 brasileiros.
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