Para sobreviver, as empresas aéreas seguem cortando custos. Azar do passageiro
Thiago Cid
Quando a equipe de comissários de bordo anuncia pelo sistema de som a ordem para que os passageiros apertem os cintos, ela pode estar sugerindo algo mais que um mero procedimento de segurança. Salvo raríssimas exceções, as empresas aéreas, em qualquer lugar do mundo, têm pressionado os clientes para pagar cada vez mais por serviços cada vez mais espartanos. Poltronas apertadas, tarifas extras para despachar a bagagem ou carregá-la a bordo, refeições sem sabor nem substância são alguns dos procedimentos-padrão dos tempos atuais. Mas as companhias têm suas próprias justificativas para agir assim. O setor é tradicionalmente um dos mais deficitários da economia – e cortar custos é um imperativo para sobreviver. A turbulência é constante. De 1978 para cá, 183 companhias aéreas pediram falência nos Estados Unidos. No mundo, 27 deixaram de operar apenas em 2008, ano em que as empresas viram seu valor de mercado, negociado em Bolsas de Valores, cair pela metade. O prejuízo do setor foi de US$ 5 bilhões.
Há três motivos para a agrura financeira do setor: a redução do número de passageiros e da quantidade de carga transportada, o encolhimento do crédito e a oscilação do preço do petróleo. Com menos dinheiro no bolso, as pessoas – sobretudo na Europa, Ásia e América do Norte – estão cancelando as viagens, em especial as internacionais. Embora o número de passageiros tenha crescido 1,8% em 2008, os índices passaram a cair após o agravamento da crise,
A alta no preço do petróleo provocou um rombo nas contas das empresas no primeiro semestre de 2008, quando o barril chegou a US$
O que fazer para melhorar a eficiência sem, obviamente, comprometer a segurança? As empresas low-cost (baixo custo, em inglês) parecem ter o plano de voo mais adequado: aumentar o número de voos de cada aeronave por dia, reduzir o tempo de permanência em solo, cobrar pelos lanchinhos e por bagagens extras. Uma iniciativa da companhia inglesa Ryanair está provocando polêmica. Qualquer bagagem extra de mão – até mesmo uma sacolinha do free shop – será taxada em 30 euros, ou aproximadamente R$ 80. Algumas empresas europeias estão cobrando mais pelos assentos no corredor. “É uma maneira de lucrar, já que esses lugares têm fácil acesso aos banheiros e permitem ao passageiro esticar as pernas”, diz Respício do Espírito Santo, professor de transportes aéreos da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Outra estratégia é apostar nas rotas domésticas, fora dos eixos principais. No Brasil, a tática está sendo adotada pela Azul. A companhia estreou no mercado no meio de dezembro e oferece tarifas menores que R$ 100 para trechos entre Campinas e outras cidades como Salvador, Curitiba e Vitória. “Queremos atrair com preços baixos os passageiros que tomavam ônibus”, afirma o fundador da Azul, David Neeleman.