Patrícia Nakamura
A indústria aeronáutica mundial está prestes a comemorar mais um ano de vendas recordes na América Latina. Os balanços de vendas divulgados pelas fabricantes de aeronaves, no acumulado até outubro, mostram que as companhias aéreas da região encomendaram 125 unidades - sem contar os aviões comprados pelas companhias de leasing destinados a essas empresas. Em 2006, Boeing, Airbus, Embraer e outras fabricantes venderam 152 aeronaves com capacidade superior a 100 assentos.
Executivos das fabricantes de aviões evitam comentar as estimativas para 2007, mas garantem desempenho melhor em relação ao ano anterior, por conta de acordos a serem concluídos e anunciados até dezembro.
A recuperação no número de vendas latino-americanas acompanha o reaquecimento mundial o setor, que, de acordo com os executivos ouvidos pelo Valor, se recuperou dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos. O novo ciclo de alta nas vendas também foi impulsionado pela pujança econômica e a maior demanda por passagens aéreas - tanto regionais como intercontinentais.
Outros fatores mencionados pelos executivos são o surgimento de novas companhias aéreas, como a Gol e as tentativas de revitalização de antigas empresas, como a colombiana Avianca e a Aerolineas Argentinas.
Dessa forma, a média de idade da frota latina baixou dois anos (ver quadro). A Lanchile e a TAM estão aumentando suas frotas desde meados de 2005. Em 20 anos, a frota latino-mericana deve sair das pouco menos de mil aeronaves para 2,4 mil unidades - cerca de 300 aviões antigos devem ser substituídos.
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"Foi o melhor ano para Airbus na região, e também no mundo", afirmou Rafael Alonso, vicepresidente sênior para América Latina, Caribe e Espanha. Até meados de novembro a empresa européia comercializou 47 jatos para a região, incluindo o recente pedido de 28 aeronaves feito pela Ocean Air. A fabricante de jatos vai transferir de Toulouse, na França, para Miami a estrutura de vendas para a região.
A mudança de endereço se justifica pela estimativa de vendas feita para região nos próximos 20 anos: até 2026, as companhias aéreas latino-americanas deverão comprar entre 1,4 mil aeronaves comerciais acima de 100 assentos (pelas contas da Airbus) e 1,7 mil (estimativas da Boeing). As vendas devem movimentar cifras próximas a US$ 120 bilhões. A maior parte dessas aquisições deverá se concentrar nos aviões de um corredor, com capacidade de cerca de 200 pessoas, como a família 737, da Boeing, e a linha A320, da empresa européia. Com um produto com capacidade ligeiramente inferior, o Embraer 195 (cerca de 120 lugares), a empresa brasileira também pretende conquistar clientes nessa fatia. "Nos últimos 10 anos, a Airbus obteve 54%, em volume, da participação do mercado latinoamericano", afirmou Alonso.
A Boeing disse medir a melhora de desempenho pelo número de aeronaves de maior valor agregado (de corredor duplo) encomendadas pelas companhias aéreas locais. Das 43 unidades vendidas até outubro, 39 são de corredores duplos, incluindo o mais recente modelo desenvolvido pela companhia, o 787 Dreamliner. "Pelas nossas estimativas, o volume de vôos na região deve subir 6,6% ao ano até 2026", afirmou ao Valor Mike Barnett, diretor de vendas para América Latina da americana. O executivo afirmou que a liberalização do setor e os investimentos em infra-estrutura aeroportuária nos próximos anos devem aquecer a demanda.
Barnett disse ainda que a expansão da frota latino-americana deve ser alavancada pelas companhias de baixo custo e pelo aumento no número de destinos. Há 10 anos, os países sulamericanos mantinham rotas para 45 destinos, Hoje, o número de rotas subiu para 63.