TAM convoca comissários em mensagem e alega que alguns vôos podem parar por falta de pessoal. Demissões e licenças chegam a 170

Kayo Iglesias – Jornal do Brasil

O medo de voar depois da tragédia do Airbus já causou as primeiras baixas no quadro de profissionais da TAM. Uma mensagem interna da empresa a que o Jornal do Brasil teve acesso relata a comissários de bordo que alguns vôos podem parar por falta de tripulantes e pede que os que se encontram fora de escala retornem para preencher as vagas. Na correspondência, enviada sexta-feira, 20 de julho - três dias depois do acidente com o vôo 3054 - a Gerência de Tripulação de Cabine pede aos funcionários de outras rotas que entrem em contato com a chefia nos aeroportos de Congonhas e Guarulhos.

Segundo relatos de profissionais da empresa, desde terça-feira cerca de 70 tripulantes, entre pilotos e comissários de bordo, pediram demissão. O departamento de recursos humanos da TAM registrou, segundo os relatos, mais de 100 pedidos de dispensa por licença médica para tratamento psicológico.

Pelo menos dois comissários de bordo confirmaram ontem que receberam a mensagem. O texto lamenta o acidente e chama a atenção para a falta de funcionários: "Estamos todos sofrendo muito com a perda de nossos colegas e clientes, sabemos e sentimos muito por isso, porém estamos enfrentando neste momento um grande problema".

A seguir, faz a convocação: "O Setor de escala nos informou em caráter de urgência a falta de comissários na rota, alguns vôos podem parar por falta de tripulantes". E convoca os trabalhadores a levantarem a bandeira da empresa: "Pedimos sua ajuda neste momento tão difícil da TAM para que consigamos manter nossa bandeira no alto. A TAM precisa continuar voando!!", apela.

De acordo com uma comissária de bordo paulista, até os briefings, reuniões que são feitas antes das decolagens pela tripulação, passaram a contar com a presença de psicólogos contratados emergencialmente pela companhia aérea.

- Já tem tanta gente trabalhando regulamentado (acima da jornada determinada por lei), agora com falta de pessoal, então, vai ficar bem mais complicado - prevê.

A assessoria de imprensa da TAM contestou o número de baixas e prometeu para hoje um balanço das demissões e dispensas médicas desde a data da tragédia. Sobre o reescalonamento dos tripulantes, limitou-se a dizer que "todo mundo está trabalhando" e que "não há nenhum tipo de pressão".

Segundo informações do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), a TAM possui hoje cerca de 3 mil tripulantes em todo o país. Só com a desvalorização de ações na Bolsa, a empresa, cujo primeiro mandamento, de acordo com seu site oficial, é "nada substitui o lucro", já registrou prejuízo de R$ 1,8 bilhão. O terceiro mandamento da empresa diz: "Mais importante que o cliente é a segurança".

Ontem, no site da TAM, na seção "Trabalhe Conosco", eram oferecidas vagas de comissário de bordo e co-piloto de Airbus.

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