Depoimentos de controladores de vôos e pilotos na Internet mostram precariedade do sistema aéreo brasileiro
A crise no sistema aéreo brasileiro, iniciada com o acidente entre o Boeing 737-800 da Gol e o jato Legacy, tomou conta dos aeroportos na semana passada e aqueceu os debates entre a Defesa e o Comando da Aeronáutica.Os fatos, porém, demonstraram que existem deficiências no sistema aéreo brasileiro. Os profissionais da área, controladores e pilotos, reclamam das condições de trabalho e denunciam a existência de pistas escorregadias, curtas, mal conservadas, com deficiências de iluminação, entre outros riscos.
Quem vê os aeroportos modernos, com cinemas, lanchonetes e lojas caras, jamais imaginaria que os bastidores desses mesmos terminais bonitos e sofisticados estivessem em uma situação tão diferente. Levantamento feito pelo Contas Abertas (CA) em comunidades do Orkut, mostra, por meio de depoimentos dos próprios controladores de vôos e pilotos, como o estado do nosso sistema aéreo é grave. E o pior, isso não é um fato recente.
O Orkut é um site de relacionamento do Google. Lá é possível criar grupos de usuários que debatem sobre um interesse em comum. São as chamadas comunidades. O Contas Abertas encontrou várias comunidades de controladores de vôo, pilotos de avião e torres de comando. Nesses grupos, existem vários tópicos publicados por profissionais reclamando das condições de trabalho, da falta de regulamentação da profissão e da estrutura de vários aeroportos brasileiros.
Uma das reclamações mais freqüentes é a pequena quantidade de profissionais na área. A aviação civil teve uma enorme expansão nos últimos anos e o número de controladores de vôo não conseguiu acompanhar esse crescimento. O quadro nacional se encontra defasado em 500 profissionais. Depoimentos dos próprios controladores podem confirmar isso (o CA não irá identificar os autores dos textos, nem as comunidades em que foram encontrados, para não comprometê-los. Mas é possível encontrar todos os trechos utilizados na Internet):
“O volume de tráfego no Brasil aumentou, assim como em todo o mundo. Nossos profissionais não tiveram o mesmo reconhecimento. Vejo com tristeza, que as autoridades aeronáuticas não acreditaram que o estrangulamento operacional do tráfego aéreo viesse a acontecer.”
“No controle de tráfego aéreo brasileiro, há escassez de profissionais em quase todos os órgãos envolvidos, ou seja, há escassez nas Torres de Controles, nos Controles de Aproximação APP`S e nos Centros de Controles ACC`S. Esse número hoje ultrapassa a mais de 400 Controladores de Tráfego Aéreo, em todo o Brasil. Há mais de vinte anos, desde 1986, que não se forma Controladores Civis Federais do Grupo Dacta, pelo Comando da Aeronáutica.”
“Alguns (controladores) foram jogados na especialidade de tráfego aéreo contra a sua vontade. Como era preciso formar controladores uma vez que o mercado necessitava, pessoas sem o perfil adequado eram simplesmente obrigadas a ingressarem na especialidade a contragosto.”
Outro tópico freqüente, são as condições dos aeroportos. Problemas de iluminação, interferência nos rádios e pistas mal conservadas são algumas das falhas citadas pelos profissionais da área.
“As falhas de comunicação entre aeronaves e órgãos de controle são mais freqüentes do que as autoridades querem fazer o povo acreditar. As interferências de rádios piratas em nosso espaço aéreo são, a meu ver, um caso de segurança nacional. As aeronaves que voam em nosso espaço aéreo correm riscos demasiados. As interferências são tantas que muitas vezes os pilotos são “obrigados” a diminuir o volume dos seus rádios de comunicação, porque fica simplesmente “impossível” tentar ouvir os controladores.”
“É realmente descaso,bem evidenciado, por parte das autoridades responsáveis em administrar o Aeroporto Internacional do Galeão. O mato alto que encobre as placas indicativas das taxiways são reclamações diárias e cada vez maiores dos pilotos. Isso exige atenção redobrada do operador do solo, para que não ocorra um incidente em função de ingresso equivocado das acft´s. Os cães que se multiplicam cada vez mais, são outro problema. Eles passeiam pelas pistas após terem feito suas refeições, obrigando as aeronaves a arremeterem. Mais uma preocupação para o órgão de controle.”
“Nós pilotos estamos, todos os dias, voando pra cima e pra baixo, operando em pistas curtas, sem recursos, sem auxílios e sem iluminação!”
“Se tornem pilotos e pousem suas máquinas de última geração em pistas vagabundas, escorregadias, sem procedimento de precisão e perigosas como em Ilhéus, Campina Grande, Vitória, Araraquara, Ribeirão Preto, Porto Seguro, Congonhas, Porto Alegre, Curitiba, Joinville, etc.”
Por mais que essas declarações possam ter um caráter apaixonado e exagerado, devido à informalidade do meio em que foram expostas, é necessário que elas sejam averiguadas. Afinal, são os próprios profissionais, que convivem com isso diariamente, apontando uma série de falhas gravíssimas no sistema aéreo brasileiro atual.
Camilla Shinoda
Do Contas Abertas
Quem vê os aeroportos modernos, com cinemas, lanchonetes e lojas caras, jamais imaginaria que os bastidores desses mesmos terminais bonitos e sofisticados estivessem em uma situação tão diferente. Levantamento feito pelo Contas Abertas (CA) em comunidades do Orkut, mostra, por meio de depoimentos dos próprios controladores de vôos e pilotos, como o estado do nosso sistema aéreo é grave. E o pior, isso não é um fato recente.
O Orkut é um site de relacionamento do Google. Lá é possível criar grupos de usuários que debatem sobre um interesse em comum. São as chamadas comunidades. O Contas Abertas encontrou várias comunidades de controladores de vôo, pilotos de avião e torres de comando. Nesses grupos, existem vários tópicos publicados por profissionais reclamando das condições de trabalho, da falta de regulamentação da profissão e da estrutura de vários aeroportos brasileiros.
Uma das reclamações mais freqüentes é a pequena quantidade de profissionais na área. A aviação civil teve uma enorme expansão nos últimos anos e o número de controladores de vôo não conseguiu acompanhar esse crescimento. O quadro nacional se encontra defasado em 500 profissionais. Depoimentos dos próprios controladores podem confirmar isso (o CA não irá identificar os autores dos textos, nem as comunidades em que foram encontrados, para não comprometê-los. Mas é possível encontrar todos os trechos utilizados na Internet):
“O volume de tráfego no Brasil aumentou, assim como em todo o mundo. Nossos profissionais não tiveram o mesmo reconhecimento. Vejo com tristeza, que as autoridades aeronáuticas não acreditaram que o estrangulamento operacional do tráfego aéreo viesse a acontecer.”
“No controle de tráfego aéreo brasileiro, há escassez de profissionais em quase todos os órgãos envolvidos, ou seja, há escassez nas Torres de Controles, nos Controles de Aproximação APP`S e nos Centros de Controles ACC`S. Esse número hoje ultrapassa a mais de 400 Controladores de Tráfego Aéreo, em todo o Brasil. Há mais de vinte anos, desde 1986, que não se forma Controladores Civis Federais do Grupo Dacta, pelo Comando da Aeronáutica.”
“Alguns (controladores) foram jogados na especialidade de tráfego aéreo contra a sua vontade. Como era preciso formar controladores uma vez que o mercado necessitava, pessoas sem o perfil adequado eram simplesmente obrigadas a ingressarem na especialidade a contragosto.”
Outro tópico freqüente, são as condições dos aeroportos. Problemas de iluminação, interferência nos rádios e pistas mal conservadas são algumas das falhas citadas pelos profissionais da área.
“As falhas de comunicação entre aeronaves e órgãos de controle são mais freqüentes do que as autoridades querem fazer o povo acreditar. As interferências de rádios piratas em nosso espaço aéreo são, a meu ver, um caso de segurança nacional. As aeronaves que voam em nosso espaço aéreo correm riscos demasiados. As interferências são tantas que muitas vezes os pilotos são “obrigados” a diminuir o volume dos seus rádios de comunicação, porque fica simplesmente “impossível” tentar ouvir os controladores.”
“É realmente descaso,bem evidenciado, por parte das autoridades responsáveis em administrar o Aeroporto Internacional do Galeão. O mato alto que encobre as placas indicativas das taxiways são reclamações diárias e cada vez maiores dos pilotos. Isso exige atenção redobrada do operador do solo, para que não ocorra um incidente em função de ingresso equivocado das acft´s. Os cães que se multiplicam cada vez mais, são outro problema. Eles passeiam pelas pistas após terem feito suas refeições, obrigando as aeronaves a arremeterem. Mais uma preocupação para o órgão de controle.”
“Nós pilotos estamos, todos os dias, voando pra cima e pra baixo, operando em pistas curtas, sem recursos, sem auxílios e sem iluminação!”
“Se tornem pilotos e pousem suas máquinas de última geração em pistas vagabundas, escorregadias, sem procedimento de precisão e perigosas como em Ilhéus, Campina Grande, Vitória, Araraquara, Ribeirão Preto, Porto Seguro, Congonhas, Porto Alegre, Curitiba, Joinville, etc.”
Por mais que essas declarações possam ter um caráter apaixonado e exagerado, devido à informalidade do meio em que foram expostas, é necessário que elas sejam averiguadas. Afinal, são os próprios profissionais, que convivem com isso diariamente, apontando uma série de falhas gravíssimas no sistema aéreo brasileiro atual.
Camilla Shinoda
Do Contas Abertas
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