Pular para o conteúdo principal

Boeing propõe ter 90% de empresa de aviação comercial da Embraer

O projeto que a Boeing apresentou ao governo na semana passada prevê que a gigante americana de aviação controlaria de 80% a 90% de uma nova empresa que receberia toda a área de aviação comercial da Embraer, tanto de jatos regionais quanto executivos, conforme noticiou ontem o Valor PRO, serviço de informações em tempo real. A fabricante brasileira, portanto, teria debaixo dela apenas 10% a 20% do capital da nova companhia e também a atual área de defesa, que o governo brasileiro insiste que não seja vendida.


Por Vanessa Adachi e Fernando Torres | Valor, de São Paulo

O desenho agradou o governo, apurou o Valor, que vinha ameaçando vetar a venda do controle da Embraer alegando questões de soberania nacional. No encontro, na quinta-feira, ficou acordado que a proposta passará a ser detalhada. Se Boeing, Embraer e governo concordarem, será, então, levada para aprovação dos acionistas da Embraer. Novas reuniões com Brasília só devem ocorrer depois do Carnaval. Num cenário otimista, a transação poderia ser levada para assembleia de acionistas no segundo trimestre, disse um dos envolvidos.


Reprodução

Pela proposta, a estrutura acionária da Embraer como existe hoje fica preservada, com os mesmos acionistas, a 'golden share' do governo com seus direitos a veto. O contrato com a sueca Saab para o desenvolvimento da família de caças brasileiros também fica preservado, evitando problemas diplomáticos que se desenhavam. A solução ajuda o governo na construção de um discurso político para aprovar a operação.

A Embraer que restará, entretanto, será uma companhia desidratada, bastante distante do que é a fabricante brasileira hoje.

Os americanos deixaram claro ao governo que para eles é imprescindível ter controle total da empresa de aviação comercial que será criada, que deverá se reportar diretamente a Chicago, sede da Boeing. Só assim, acreditam, poderão comandar os negócios com a agilidade que julgam necessária.

Se a proposta vingar, a nova empresa passará por uma avaliação e a Boeing proporá à Embraer a compra de 80% a 90% de seu capital em dinheiro. Assim, os atuais acionistas da brasileira terão que aprovar o negócio. Para obter adesão, a Boeing terá que calibrar bem o preço. Da mesma forma, a direção da Embraer deverá propor que a maior parte dos recursos da venda seja distribuída aos acionistas na forma de dividendos. Só assim uma proposta dessa natureza teria chance de ser aprovada pelos acionistas, já que 85% deles são estrangeiros e quase todos de natureza financeira. Uma outra fatia dos recursos deve ficar preservada no caixa da companhia para financiar a área de defesa.

A Embraer não teria qualquer ingerência sobre a área de aviação comercial. Teria direito apenas ao fluxo de dividendos correspondente a 10% a 20% dos resultados da nova empresa.

Nesse desenho, uma série de contratos de parceria e fornecimento de peças, tecnologia, treinamento terão que ser firmados entre Boeing, Embraer e a nova empresa. Por exemplo, a Boeing poderá ficar responsável por promover comercialmente os aviões da área de defesa da Embraer, como o Super Tucano e o cargueiro KC-390. Haveria também acordos para cessão de engenheiros de uma para outra companhia, entre outros. Todo esse detalhamento deve ser bastante trabalhoso.

O modelo societário se assemelha bastante ao acertado entre Airbus e Bombardier no fim do ano passado, quando a Airbus se comprometeu a adquirir o controle de uma nova empresa que receberá o projeto CSeries de jatos regionais da Bombardier. Com a diferença de que os acionistas da Embraer terão alguns bilhões de dólares a receber, enquanto a Airbus não desembolsou nada, já que essa área da Bombardier estava deficitária depois dos problemas no desenvolvimento da nova família de jatos.

Quando as conversas começaram em outubro do ano passado, depois do anúncio da transação entre Airbus e Bombardier, a Boeing queria lançar uma oferta para comprar 100% da Embraer toda. O novo desenho, portanto, não é o ideal para a fabricante americana, que tinha também grande interesse em integrar a área de defesa da brasileira.

O novo modelo deixa sob controle da companhia local um negócio que teve receita de R$ 3,2 bilhões nos últimos 12 meses e quase zero de lucro operacional no mesmo período. Mais precisamente, a divisão de defesa e segurança da Embraer gerou prejuízo de R$ 16 milhões em um ano até setembro, conforme dados dos balanços.

Ao mesmo tempo, a divisão de jatos comerciais da Embraer, que é a que mais atrai a Boeing, gerou lucro operacional de R$ 1,9 bilhão em 12 meses, o que representa uma margem de 16% sobre a receita de R$ 11,5 bilhões, com retorno sobre os ativos acima de 30%.

O terceiro segmento de atuação da Embraer, que produz jatos particulares (e iria para a nova subsidiária), tem visto o resultado piorar nos últimos anos. Em 12 meses até setembro, teve lucro operacional de apenas R$ 8 milhões, a partir de receita de R$ 4,8 bilhões.

Se conservar uma fatia de 10% a 20% de uma nova subsidiária de jatos comerciais, que é a galinha dos ovos de ouro, a Embraer "restante" registraria em seu balanço a equivalência patrimonial sobre o resultado da investida. Mas sequer é possível dizer que ela teria acesso regular aos 10% ou 20% dos dividendos como geração de caixa para ajudar a dar fôlego financeiro para a área de defesa, já que isso só ocorreria com distribuição integral dos resultados da subsidiária, o que é um cenário improvável em um setor que requer investimentos constantes.

Já se o contrato previr que a nova empresa vai assumir custos que estão alocados hoje no segmento de defesa da brasileira, como de marketing e venda de produtos, é possível que o resultado da Embraer "que sobra" melhore.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Avião da TAM retorna após decolagem

Jornal do Commercio SÃO PAULO – Um avião da TAM, que partiu de Nova Iorque em direção a São Paulo na noite de anteontem, teve que retornar ao aeroporto de origem devido a uma falha. Segundo a TAM, o voo JJ 8081, com 196 passageiros a bordo, teve que voltar para Nova Iorque devido a uma indicação, no painel, de mau funcionamento de um dos flaps (comandos localizados nas asas) da aeronave. De acordo com a TAM, o avião passou por manutenção corretiva e o voo foi retomado à 1h28 de ontem, com pouso normal em Guarulhos (SP) às 10h38 (horário de Brasília). O voo era previsto para chegar às 6h45. A companhia também informou que seu sistema de check-in nos aeroportos ficou fora do ar na manhã de ontem, provocando atrasos em 40% dos voos. O problema foi corrigido.

Empresa dona de helicóptero que transportava Boechat não podia fazer táxi aéreo e já havia sido multada por atividade irregular, diz Anac

Agência diz que aeronave só podia prestar serviços de reportagem aérea e qualquer outra atividade não poderia ser realizada. Multa foi de R$ 8 mil. Anac abriu investigação. Por  G1 SP A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) afirmou que o helicóptero que caiu na Rodovia Anhanguera no início da tarde desta segunda-feira (11), em que o jornalista Ricardo Boechat e o piloto Ronaldo Quattrucci morreram, não podia fazer táxi aéreo, mas sim prestar serviços de reportagem aérea. Ainda segundo a Anac, a empresa foi multada, em 2011, por atividade irregular. Helicóptero prefixo PT-HPG que se acidentou na Anhanguera — Foto: Matheus Herrera/Arquivo pessoal "A empresa RQ Serviços Aéreos Ltda foi autuada, em 2011, por veicular propaganda oferecendo o serviço de voos panorâmicos em aeronave e por meio de empresa não certificada para a atividade. Essa atividade só pode ser executada por empresas e aeronaves certificadas na modalidade táxi aéreo. A autuação foi definida em R$ 8 mil

A saga das mulheres para comandar um avião comercial

Licenças concedidas a mulheres teêm crescido nos últimos anos, mas ainda a passos lentos. Dificuldades para ingressar neste mercado vão do alto custo da formação ao machismo estrutural Beatriz Jucá | El País Quando Jaqueline Ortolan Arraval, 50 anos, fez a primeira aula experimental de voo, foi mais por curiosidade do que por qualquer pretensão de virar piloto de avião. Era início dos anos 1990 e pouco se via mulheres comandando grandes aeronaves comerciais no Brasil. "Eu achava que não era uma profissão pra mim", conta. Ela trabalhava no setor processual em terra de uma grande companhia aérea, e o contato constante com colegas que estudavam aviação lhe provocaram certo fascínio. Perguntava tanto sobre a experiência de voo que um dia um amigo lhe convidou para acompanhá-lo em uma das aulas. A curiosidade do início se tornou um sonho profissional, e Jaqueline passou a frequentar aeroclubes e trabalhar incessantemente para conseguir pagar as caras aulas de aviação e acumul